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Silêncio comprometedor

A suspensão do depoimento que o ex-presidente Lula e sua mulher, Marisa Letícia, dariam ontem ao Ministério Público de São Paulo sobre o triplex do Guarujá não evitou um confronto entre petistas e antipetistas em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. O que era para ser um esclarecimento do casal sobre as suspeitas de ocultação de patrimônio em relação à propriedade do imóvel acabou se transformando numa batalha campal entre movimentos organizados para defender ou acusar o homem que governou o país por dois mandatos. O tumulto é resultante do passionalismo crescente em torno do caso, estimulado tanto por interesses políticos bem identificados quanto pelo silêncio constrangedor do acusado e pelas evasivas do instituto que leva o seu nome.

Também faltam explicações convincentes e críveis de Lula sobre sua relação com o sítio de Atibaia, para onde foi parte de sua mudança depois de encerrado o mandato presidencial. A cada dia, surgem novas informações sobre reformas e melhorias feitas na propriedade por empresas investigadas pela Operação Lava-Jato, que usavam recursos desviados da Petrobras para pagar propinas e fazer agrados a políticos influentes. Até mesmo uma antena retransmissora de sinal de celular foi instalada próximo à propriedade, ao custo de R$ 1 milhão, apenas para facilitar a vida do ilustre frequentador.

Sem outros argumentos para justificar o injustificável, os acólitos do ex-presidente alegam que ele está sofrendo perseguição política. Trata-se de uma incoerência, se considerarmos que o governo comandado pelo PT repete à exaustão que nunca houve tanta liberdade para investigar a corrupção e que as instituições encarregadas deste trabalho — Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal — contam com total autonomia para tanto. Então, quem estaria praticando a perseguição política, se as suspeitas de ligações promíscuas entre o ex-presidente e os corruptores surgiram no bojo desta investigação?

Lula tem todo o direito de não falar, mas seria mais sensato se esclarecesse todas as dúvidas que o seu silêncio deixa. Afinal, estamos numa democracia, os depoimentos são cercados de garantias constitucionais. E o país inteiro quer saber a verdade sobre esses episódios. Editorial ZH

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