Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Bandeiras centrais do MST, a luta por reforma agrária e a produção de alimentos saudáveis serão intensificadas em 2016 no Rio Grande do Sul. Esta é uma das resoluções tomadas por cerca de mil trabalhadores rurais Sem Terra durante o 17º Encontro Estadual do Movimento, realizado de 19 a 21 de janeiro no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre.
“Há muita energia e disposição da nossa militância para continuar com os acampamentos e massificar a luta pela terra. Em 2016, também em memória dos 20 anos do Massacre de Eldorado de Carajás, as ocupações se intensificarão no RS e no Brasil”, adianta o dirigente estadual do MST, Cedenir de Oliveira.
Nos últimos dois anos, conforme Sílvia Reis Marques, da direção nacional pelo RS, a produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos esteve sempre presente nos debates do MST e, no próximo período, continuará sendo umas das principais ações defendidas pelo Movimento.
“A implementação desse tipo de agricultura limpa e saudável é um dos grandes desafios que temos. Ela passa pela conquista da terra, fazendo cumprir sua função social de alimentar a população e cuidar do conjunto da natureza e meio ambiente”, explica Sílvia.
Também compondo a linha política a ser seguida no estado nos próximos anos está a defesa da democracia. Oliveira garante que, ao mesmo tempo em que o Movimento se posicionará contra o golpe e defenderá a continuidade do mandato, eleito democraticamente, da presidente Dilma Rousseff, os Sem Terra estarão nas ruas cobrando a efetivação de um programa de reforma agrária que compreenda o assentamento de famílias acampadas e o incentivo à produção de alimentos sadios.
“Lutaremos contra o golpe, mas também cobraremos metas de assentamentos e a construção de uma política nacional de produção orgânica e agroecológica. Para o agronegócio e as grandes empresas do capital há vários incentivos. Portanto, é necessário que o governo também ajude os trabalhadores a investir na produção de alimentos saudáveis”, aponta Oliveira.
Frente Brasil Popular
Outro comprometimento dos Sem Terra envolve a consolidação da Frente Brasil Popular (FBP). “Precisamos fortalecer a aliança dos movimentos populares para ter resultados positivos na luta por direitos e um Brasil mais justo e igualitário. O MST vai trabalhar firmemente neste sentido”, afirma Sílvia.
Para o MST, a FBP, lançada em setembro do ano passado em Belo Horizonte (MG), é uma ferramenta estratégica de enfrentamento da crise política que assola o país.
“Queremos que ela seja construída não apenas nas grandes articulações nacionais, mas que também seja capaz de transformar municípios e regiões em espaços de aglutinação das organizações e militância nesse período de disputa política na sociedade”, complementa Oliveira.
Avaliação
Em relação aos dois últimos anos, Sílvia avalia que, apesar de várias lutas travadas por reforma agrária, não ocorreram grandes avanços na criação de assentamentos no RS. Hoje, há em torno de 2.500 famílias acampadas no estado.
Por outro lado, os Sem Terra obtiveram conquistas envolvendo, principalmente, a produção de alimentos saudáveis e cooperativas. “Ao final, nossa avaliação é positiva, mas há a consciência de que para continuar avançando teremos que protagonizar muitas outras lutas e ações junto aos nossos trabalhadores”, destaca.
Segundo Oliveira, mesmo com a consolidação hegemônica do modelo do agronegócio e a diminuição do número de acampamentos – atualmente, há 11 no RS – no último período, o MST conseguiu colocar a produção de alimentos saudáveis na centralidade da luta política e as ocupações como elemento fundamental desse processo.
O encontro
A 17ª edição do encontro estadual do MST do RS possibilitou aos acampados e assentados da reforma agrária debater sobre a organização do Movimento, avaliar internamente os últimos dois anos e definir ações para o próximo período.
De acordo com o assentado Nilvo Bosa, o evento “deu sangue novo à nossa militância para executar todas as tarefas delegadas e atingir as metas definidas.
“Somente com nossa organização e unidade é que conseguiremos fortalecer e auxiliar os assentados e acampados a terem uma vida mais digna. Isto justifica a importância desse encontro”, diz.
Em três dias de atividades, os Sem Terra também participaram de debates sobre a conjuntura política e agrária, jornadas culturais e momentos de confraternização com amigos e apoiadores do Movimento.