Santo Augusto comemora o sexagenário
Antigo prédio (próprio), desativado, onde foi instalada a Prefeitura, há 60 anos
Remanescentes da primeira administração (1959) e o pioneirismo no município
“Negar que estes homens e mulheres deixaram encravado neste solo santoaugustense a sua marca, seria um equívoco. Reconhecer os seus feitos é sim, uma forma justa de imortalizar suas contribuições para o desenvolvimento da cidade pérola”.
Imagina quanta história tem para contar quem chegou em Santo Augusto até a segunda metade da década de 50 e acompanhou de perto todas as mudanças e evoluções pelas quais a cidade passou. Esses pioneiros foram os precursores, os que aqui estiveram juntamente com a aguerrida comunidade ordeira, trabalhadora e com visão de futuro, e deram os primeiros passos abrindo caminho para o município chegar aonde está hoje, uma cidade próspera, comércio e agricultura pujantes, educação fluindo até além das expectativas, um lugar bom de se viver.
Com o objetivo de reconhecer e valorizar personagens importantes que ajudaram a construir a história de Santo Augusto, que ainda vivem, e alguns até convivem conosco na comunidade, o jornal O Celeiro/Atualidades buscou relembrar seus feitos em prol do município, com destaque por função que cada um exerceu desde 1959.
Emancipacionistas
– Egmar Umberto Sant’Anna de Moraes – Faleceu no dia 16 de abril deste ano de 2019, aos 92 anos de idade. Ele “era o único remanescente” dos membros da Comissão Emancipacionista do município de Santo Augusto. Esta matéria, que visa destacar os remanescentes dos momentos históricos desde o movimento para criação do município, já estava pronta quando do seu falecimento há um mês e meio, mas, em sua memória, respeito e reconhecimento, decidiu-se manter a referência ao professor Egmar como remanescente do movimento.
– O professor Egmar teve destacadas atuações no movimento emancipacionista do município, na participação como legislador, uma vez que era vereador de Três Passos representando o até então distrito de Santo Augusto; exerceu lideranças importantes como assessor do Prefeito, na criação da escola CNEC e do Ginásio (hoje Escola Estadual Santo Augusto), na fundação do Sport Club Internacional.
Em 1951, pelo distrito de Santo Augusto, Egmar foi eleito vereador de Três Passos, sendo reeleito em 1955.
Em 1958 teve início o movimento emancipacionista para criação de um novo município, com sede na então Vila de Santo Augusto.
Os vereadores, Egmar Sant’Anna de Moraes e Clodomiro Bones, para melhor desenvolverem seu trabalho junto ao movimento, especialmente para apoiar e auxiliar aos demais membros da comissão, num gesto de amor e dedicação a esta terra santoaugustense, renunciaram aos seus mandatos pelo município de Três Passos.
Primeiro Prefeito
Oswaldo Pio Andrighetto, foi o primeiro prefeito de Santo Augusto, tendo assumido no dia 30 de maio de 1959. O seu Oswaldo é um dos remanescentes do pioneirismo santoaugustense, e vive no Mato Grosso.
Nascido no dia 20 de outubro de 1922, na localidade de Passinho, no hoje município de Condor que na época pertencia a Palmeira das Missões, Oswaldo veio para Santo Augusto ainda criança, onde se criou, trabalhou e constituiu família. Foi integrante ativo do crescimento e desenvolvimento do município, relativamente ao comércio, a vida social, educacional, esportiva, religiosa e política.
No ano de 1959, com a criação e instalação do município, foi eleito o primeiro Prefeito de Santo Augusto, tendo como vice o Sr. Arnaldo Macagnan (já falecido).
Funcionários
José Luceval Vargas, foi o primeiro funcionário municipal de Santo Augusto. Hoje, 60 anos depois, é o único remanescente dos pioneiros. Com a instalação do município, ele que era chefe do escritório da CEEE na cidade, foi convidado pelo prefeito Oswaldo e pelo vice Macagnan, para trabalhar com eles. Na sequência foram contratados outros como os saudosos Feliciano Paulo Guterres de Moura (tesoureiro) e Carlos Leodoni Andrighetto (contador), seguidos dos ainda remanescentes Waldir Walter (Secretário de Obras) e Cecília Macagnan (Secretária de Educação).
José Luceval Vargas exerceu diversas funções como servidor público: foi fiscal lotador, escriturário, secretário da Junta do Serviço Militar, secretário administrativo da Divisão de Obras, auxiliar da Secretaria da Administração; eventualmente, servia de motorista para levar doentes a Passo Fundo e outras cidades; volta e meia deixava seus serviços burocráticos e pegava a direção do caminhão caçamba para puxar pedras para o calçamento de ruas; foi o primeiro secretário da Câmara de Vereadores; fiscal da carne (hoje fiscal sanitário); foi escrivão ad hoc da polícia civil, onde, além dos serviços cartorários, eventualmente, auxiliava na escolta de presos; foi Fiscal de Menores, atuou como jurado, presidente de seções eleitorais; no final de sua participação no serviço público, foi secretário do Conselho Municipal de Desporto nos anos 1989 a 1992, época de glórias nos campeonatos municipais.
José Vargas é aposentado e permanece residindo na cidade pérola, por ele adotada como sua terra.
Primeiro caminhão da Prefeitura, em 1959
No início não existia veículo algum para os deslocamentos e transportes diversos, conta o pioneiro José Vargas, mas o prefeito Oswaldo quebrava o galho, cedia uma camioneta de sua propriedade, diz.
O primeiro veículo adquirido pela municipalidade foi um Jeep, o qual servia ao gabinete e também para deslocamentos em geral, como levar professores e outros. A seguir, foi adquirido um caminhão caçamba (este mostrado na foto), que foi destinado à Secretaria de Obras.
Primeira obra executada
A primeira obra executada depois do município instalado foi uma fábrica de tubos de cimento, situada ao lado da prefeitura (foto).
José Vargas (primeiro), na fábrica de tubos de cimento
Primeira árvore plantada na Praça Pompilio Silva
Esta foto mostra o plantio da primeira árvore na Praça Pompilio Silva, em 1964, na administração do Dr. Alecrides, a cargo do agrimensor Hilário Bertollo (agachado), estando presentes o vice Italvino Sperotto, o chefe de gabinete Agenor Zimmermann, o diretor de obras, Badia Buaes, o tesoureiro Feliciano Paulo Guterres de Moura, o fiscal lotador Gentil Zanella, e o auxiliar de administração José Luceval Vargas (de boné).
1º Secretário de Obras
– Waldir Walter – foi o primeiro Secretário de Obras do município de Santo Augusto, em 1959, a convite do prefeito Oswaldo Andrighetto.
Waldir iniciou na vida política aqui em Santo Augusto, onde elegeu-se vereador pelo PTB, em 1959. Porém, abdicou da legislatura e assumiu a função de Secretário de Obras.
Em 1968, foi eleito prefeito de Santo Augusto, pelo MDB; em novembro de 1969, renunciou ao cargo de prefeito e elegeu-se deputado estadual. Na sequência da carreira política, Walter foi deputado estadual, deputado federal, Secretário de Estado da Justiça e Segurança Pública e Secretário de Estado dos Transportes.
Professores remanescentes de 1959
Dos professores municipais de 1959, ano da instalação de Santo Augusto como município, apenas três ainda remanescem e permanecem vivendo e convivendo na cidade: Cecília Macagnan, Delmar Luccas e Eurico Prauchner.
– Cecília Luiza Prauchner Macagnan – foi a 1ª Secretária Municipal de Educação e Cultura de Santo Augusto. Era professora estadual e dava aula no antigo Grupo Escolar da Sede, hoje Escola Francisco Andrighetto. Em 1959, com a emancipação e instalação do município, o prefeito Oswaldo Pio Andrighetto, a nomeou como Secretária Municipal da Educação e Cultura. Cecília lembra das visitas que fazia para supervisionar as escolas numa extensão territorial muito grande, já que na época abrangia parte dos hoje municípios de Coronel Bicaco e São Valério do Sul. No quadro de pessoal da Secretaria a então secretária contava apenas com a supervisora, que era a professora Zola de Moraes, e o meio de transporte de que dispunham era um Jeep, cujo motorista era o “Seu Badia”, então funcionário municipal.
A professora aposentada Cecília, hoje com 96 anos, foi Secretária Municipal da Educação e Cultura de Santo Augusto durante os 10 primeiros anos de autonomia política e administrativa do município. Foram dez anos de muito trabalho, conta ela, muitas dificuldades, mas ao mesmo tempo muito gratificante, porque tudo se fez com muita doação, muito amor, muita vontade de vencer os obstáculos, com a certeza de que o objetivo era nobre, de transmitir conhecimento e alfabetizar crianças, comemora.
Cecília se diz orgulhosa por ter tido diplomacia no trato com professores, alunos e pais, obtendo deles a compreensão para que os objetivos fossem alcançados. “Íamos de casa em casa no interior do município conversar com os pais, com as crianças, com os jovens, convidando-os para que frequentassem a escola, conscientizando-os quanto a necessidade de saber ler e escrever”, lembra a ex-secretária de Educação Cecília Macagnan.
– Delmar Lucas – Entre os professores municipais remanescentes de 1959, ano em que Santo Augusto assumiu sua emancipação política-administrativa, está Delmar Lucas, hoje com 83 anos.
O professor Lucas conta que no ano de 1957 realizou concurso público em Três Passos, município ao qual pertencia Santo Augusto. Aprovado em 2º lugar entre 30 concorrentes, foi lecionar, em março de 1958, na Escola João Padilha do Nascimento, localidade de Passo da Luminata, hoje pertencente ao município de São Valério do Sul.
Quando Santo Augusto obteve a posição de município, Delmar Lucas passou a integrar o pioneiro quadro do magistério, inclusive apondo sua assinatura na ata de posse do prefeito, em 30 de maio de 1959. Depois do Passo da Luminata, lecionou em Bela Vista e na localidade de Esquina Pompílio Silva.
“O professor, naquele tempo, era valorizado pelos pais dos alunos”, ressalta Delmar, fazendo questão de “agradecer a todas as comunidades que lhe acolheram com muito carinho”. Delmar Lucas e esposa residem na cidade de Santo Augusto.
– Eurico Prauchner, 87 anos, é um dos professores remanescentes de 1959, ano que Santo Augusto se tornou município.
Sessenta anos depois, o professor Eurico fala ao jornal O Celeiro/Atualidades, rememorando com satisfação e orgulho a nobre missão de ensinar crianças e adolescentes, bem como os costumes e modo que viviam as famílias de seus alunos na zona rural.
Eis o relato do professor Eurico:
Em janeiro de 1959 a Secretaria de Educação de Três Passos (município ao qual o então distrito de Santo Augusto pertencia), abriu inscrições para o preenchimento de vagas no município.
Fiz a inscrição e prestei exame e me classifiquei em 1º lugar que me deu o direito da escolha da escola vaga, no então distrito de Santo Augusto. Escolhi a Escola São João Batista de La Salle, na localidade de Bela Vista, hoje Santo Antônio.
“A escola simples, com seus dois professores conseguiu encaminhar muitos alunos que hoje são, agrônomos, médicos, enfermeiros e outras profissões”. (Professor Eurico Prauchner)
Escola São João Batista de La Salle
Tomando posse em 1º de março de 1959, iniciei minhas funções na escola que contava com número pequeno de alunos, tinha ampla sala, classes bi pessoais, quadro verde e uma mesa para o professor, com alunos de 1ª a 4ª série.
Já no ano seguinte, 1960, em março, havia 45 alunos matriculados, fui autorizado a desdobrar o horário. Em 1961, foi contratado mais um professor. A sala de aula bastante ampla foi dividida em duas, para que todos os alunos pudessem vir num turno, pois muitos moravam longe; com a falta de classes os pais providenciavam as mesmas.
Os alunos vinham uniformizados na segunda-feira, dia de cantar o Hino Nacional e hastear as bandeiras na frente da escola.
O tema de casa era muito valorizado, toda a família tomava parte, para o preparo da aula do dia seguinte.
As datas festivas eram o Dia dos Pais e o Dia das Mães, se comemorava com poesias e cânticos e, ao meio dia era servido uma galinhada preparada pelos pais e mães.
Festa do Dia das Mães de 1964, homens preparam o almoço – Festa do Dia dos Pais 1964, mulheres preparam o almoço
As galinhas, o arroz e temperos eram doados pelos pais conforme necessidade, talheres, saladas e pão ou cucas trazidos pelos pais dos alunos. À tarde a festa era uma confraternização familiar.
Costumes
Era costume os familiares ficarem na frente das Igrejas, Católica ou Evangélica.
Agricultura familiar era o sustento da família e a renda vinha da sobra das colheitas.
O milho era o mais cultivado, pois se criava porcos, galinhas e vacas de leite.
Como não havia luz elétrica, a carne de porco era guardada em latas de querosene depois de frita e coberta com banha; usava-se a defumação com o abate de uma rês ou troca de carne com o vizinho.
Cultivava-se o trigo para a farinha, guardado em tulhas para evitar o caruncho; plantava-se arroz, feijão, hortaliças para o consumo da família; o plantio da mandioca para consumo e animais; usava-se a capina onde toda a família tomava parte. A terra era fértil e as plantas vinham com todo o vigor, sem adubação.
A colheita era uma festa, muitas vezes se reuniam os vizinhos para um puxirão na colheita e para arar a terra para o plantio.
A roupa na maioria das vezes era comprada a fazenda (tecido) e a mãe ou a avó se encarregavam de confeccionar a roupa do uso diário. A iluminação da casa ou cômodos era usado lâmpadas com querosene.
O desmatamento – Conforme a família ia crescendo, a cada ano se desmatava uma parte da mata, para o cultivo de novas lavouras. A madeira que dava toras era levada à serraria, transformada em tábuas e madeira quadrada para melhorar a casa ou fazer uma benfeitoria, estábulo, chiqueiro. As partes mais finas da grápia e angico eram vendidas para dormentes usados na viação férrea.
Muitas vezes usava-se o pousio (descanso) de uma parte da lavoura, pois não havia adubo ou calcário para a correção do solo.
O professor Eurico encerra seu relato lembrando com orgulho: A escola simples, com seus dois professores conseguiu encaminhar muitos alunos que hoje são, “agrônomos, médicos, enfermeiros e outras profissões”.