Representando um dos grandes vilões do setor de transporte, o roubo de cargas preocupa e une os órgãos de segurança do país. O crime já acarretou R$ 1 bilhão em prejuízos em 17,5 mil ocorrências registradas no ano passado em todo o Brasil, conforme o último levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Os dados mostram uma evolução anual de 16% nas ocorrências. A região Sudeste concentra 85,31% dos casos. São Paulo, com 48,47%, e Rio de Janeiro, com 33,54%, lideram o ranking. Logo em seguida, está a região Nordeste, que registra 6,56%, e a região Sul com 4,87%. O Centro-Oeste e o Norte apresentam 2,11% e 1,15%, respectivamente.
Conforme o coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de Segurança da NTC&Logística, o roubo de cargas é estruturado em dois braços áreas urbanas e rodovias e exige atuação diversificada da Polícia para o combate. “A maior incidência é registrada em áreas urbanas, onde acontecem 75% dos casos”, analisa Souza. “Os bandidos também são atraídos pelas grandes cargas transportadas nas rodovias.” Produtos alimentícios, cigarros e eletroeletrônicos são os mais visados.
Nas áreas urbanas, os bandidos aguardam em locais estratégicos os veículos menores, que circulam pela cidade abastecendo os pontos de venda. “Os marginais atacam dentro da cidade e, para contê-los, é necessário presença policial reforçada”, afirma Souza. Já nas rodovias, os veículos com cargas intermunicipais, interestaduais e internacionais são alvos do crime organizado. “Com o grande volume de carga e o alto valor envolvido, os ataques são feitos por quadrilhas estruturadas”, salienta o coronel.
Algumas empresas têm investido em segurança, na tentativa de amenizar os prejuízos durante o transporte. Isso ocasiona, no entanto, aumento do valor final do produto. A segurança aumenta de 8% a 12% o custo dos fretes. “Os produtos acabam chegando mais caros ao destino final e, nesse caso, quem paga a conta é o consumidor”, explica Souza. “É importante que o combate a esses crimes seja priorizado”, comenta.
Para Souza, a legislação deve ser aprimorada para que o receptador seja condenado a penas maiores e, com isso, a negociação das cargas roubadas fique prejudicada. “Estamos trabalhando para que penas mais duras sejam aplicadas.”
Ocorrências no Brasil
Em 6 anos, mais de 85 mil roubos
2014 – 17,5 mil
2013 – 15,2 mil
2012 – 14,4 mil
2011 – 13 mil
2010 – 12,3 mil
2009 – 13,350 mil
Ações de prevenção em conjunto
No Rio Grande do Sul, o roubo de cargas gerou um prejuízo de R$ 120 milhões ao Estado, no ano passado. Já existe um trabalho conjunto de prevenção a esse crime, desenvolvido pela Delegacia de Furto e Roubo de Cargas, PRF e Brigada Militar. Estas compõem a Comissão de Segurança e Roubo de Cargas do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do RS (Setcergs). “A Comissão nos permite trocar informações e discutir melhorias na prevenção ao roubo de cargas há dez anos”, explica Renato Vitória, coordenador da Comissão.
Na Capital, os roubos são mais frequentes na zona Norte, que também é rota de fuga. “Eles (assaltantes) costumam abordar os caminhões na segunda e sexta-feira”, afirma o coronel João Carlos Trindade, consultor de Segurança do Setcergs. Nas rodovias, os ataques ocorrem na BR 386, uma das estradas mais visadas pelos criminosos. “Na Região Metropolitana, já constatamos várias ocorrências”, lembra Trindade. Um dos casos mais recentes foi a descoberta de uma quadrilha especializada em roubo de cargas, com atuação em todo o Estado.
Crime pode crescer no RS
Para o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Furto e Roubo de Cargas, da Polícia Civil, o roubo de cargas pode aumentar no Rio Grande do Sul. A justificativa é que o crime está se tornando mais atraente para os bandidos. “Está ocorrendo um aumento nesse crime no país e o RS ainda se mantém estável”, analisa Ferreira. “Mas, acredito que esse problema possa aumentar”, afirma o titular da Furto e Roubo de Cargas.
Ferreira explica que os criminosos geralmente atacam agências bancárias em busca de dinheiro. Esse tipo de crime, no entanto, tem se tornado mais complexo em razão da tecnologia implantada nos bancos e a pouca quantidade de dinheiro armazenada nos terminais. “Os bandidos não conseguem mais ter acesso a uma grande quantidade de dinheiro”, sintetiza o titular da especializada. “Eles (assaltantes) acabam se voltando para crimes que possam resultar em um maior valor, que será dividido entre os integrantes da quadrilha”, analisa.
Além disso, a facilidade para a venda dos produtos roubados dos caminhões cigarros e equipamentos eletroeletrônicos , e a vulnerabilidade do caminhoneiro na rodovia, acabam despertando ainda mais o interesse das quadrilhas, segundo Ferreira. “É fácil negociar a mercadoria e dá dinheiro”, comenta o policial. “Isso torna o roubo de cargas um crime atraente.”
Prejuízos no Brasil
Ataques renderam 5,6 bilhões
2014 – R$ 1 bilhão
2013 – R$ 1 bilhão
2012 – R$ 960 milhões
2011 – R$ 920 milhões
2010 – R$ 880 milhões
2009 – R$ 900 milhões
Do Correio do Povo