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Renan manda muito

 

Por: David Coimbra

Tempos atrás, Renan Calheiros avisou que não se submeteria a um "juizeco de primeira instância". Os juízes da mais alta instância do Brasil, ministros do Supremo, com todo o seu latinório e cãs venerandas, reagiram de dedo em riste. A presidente do STF, Cármen Lúcia, chegou a advertir que quem mexia com um juiz mexia com ela também.

Hitler já dizia: palavras o vento leva, papéis o fogo queima.

Tudo não passava de bazófia.

Porque, na hora em que eles tiveram de enfrentar Renan cara a cara, olho no olho, no que Renan os transformou? Em juizecos de última instância, talvez?

Não, eu não diria isso. Se dissesse isso, é possível que algum juiz me punisse.

Ou será que não?

Não terá Renan criado um padrão? Ele não cumpriu a ordem de um ministro da mais alta corte do país. Disse que não cumpriria, e não cumpriu. No dia seguinte, não foi penalizado pela desobediência; foi premiado: continua sobranceiro no cargo.

Cunha, que era tão réu quanto ele, primeiro foi afastado da presidência da Câmara, depois teve o mandato cassado e, por fim, jogaram-no na cadeia. Hoje faz suas necessidades diárias em um boi cavado no chão de uma cela da Polícia Federal. As pessoas o odeiam. "Fora, Cunha!", gritavam nas ruas. Não passa de um pobre coitado.

Cunha deve estar pensando aquilo que eu, você e todos os brasileiros pensamos. O seguinte: se Renan pode descumprir a ordem de um juiz do STF, por que Cunha, eu, você, o traficante da Vila Cruzeiro, o empresário, o funcionário público, a prostituta e o delegado, por que nós temos de obedecer?

Se um juiz o convocar para seja lá o que for, por que você não pode alegar algo procedente como:

– Não vai dar, vou ter que passear com meu cachorro.

Ou:

– Não vai dar, tenho hora marcada no dentista.

Ou:

– Não vai dar, porque não quero.

Por que não?

A Justiça tem de ser igual para todos. Deixem a mulher do Cabral com as joias que ganhou, deixem o Lula com o sítio dele, deixem o Cunha jantar em Paris. Renan disse. Renan liberou. O grito geral da nação é aquele que, na verdade, sempre foi: ninguém é de ninguém!

 

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