G1 RS
Quase metade dos cerca de 31 mil detentos do sistema carcerário do Rio Grande do Sul têm envolvimento com o tráfico, de acordo com a Superintendência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (Susepe). A segunda reportagem da série Reféns do Tráfico, do RBS Notícias, mostra que os traficantes expulsam moradores de casa e cometem assassinatos em diversos pontos do estado (confira no vídeo).
A RBS TV realiza uma série de reportagens sobre o impacto do tráfico no Rio Grande do Sul. Nesta quarta (17), confira a influência do crack na vida dos usuários e a proliferação das chamadas "cracolândias".
Segundo a Secretaria de Segurança, 643 pessoas foram assassinadas nos primeiros três meses deste ano. Foram 621 homicídios doloso e 22 latrocínios. O delegado Paulo Rogério Grillo, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, afirma que a maioria dos assassinatos cometidos na Região Metropolitana de Porto Alegre têm relação com o tráfico.
"Temos constatado que as vitimas, quase 90% delas, apresentam antecedentes policiais e a grande maioria desses antecedentes está vinculado às drogas", afirma o delegado.
Moradora teve filho levado por traficantes
Entre as vítimas do tráfico está o filho da dona de casa Maria Sirlei Nascimento. Jorge Leandro passou a ter problemas porque desafiou traficantes na região. Ele conseguiu abrir uma rua para passagem de ambulância e carro de bombeiro no Beco dos Cafunchos, e isso atrapalhou o comércio de droga. Em março deste ano, foi levado por criminosos de dentro de casa.
"Às 4h da manhã, cinco encapuzados entraram na casa dele. Rebentaram as duas portas, e chegaram, encapuzados. Ele estava deitado. Mandaram ele levantar, botar a camisa e o tênis", lamenta Maria Sirlei.
Ameaçada de morte por traficantes, a dona de casa teve de abandonar o lugar onde viveu por 40 anos. "Vamos ficando com medo de ficar, que vai acontecer alguma coisa. Então é melhor ir embora antes que aconteça", lamenta.
Sem se identificar, um morador conta que os traficantes expulsam moradores de casa. "Eles estabelecem bases nessas comunidades e, muitas vezes, não têm onde esconder as drogas da polícia, e eles têm que embalar essa droga. Aí eles têm de guardar essa arma e onde vão guardar? Expulsando as famílias das suas casas", diz o homem.
Segundo Grillo, disputas entre quadrilhas rivais são o que mais causa as mortes relacionadas ao tráfico. "Essas execuções normalmente são motivadas por disputas de pontos de áreas, são motivadas também muitas vezes por vingança. Um grupo rival mata um integrante de um outro grupo , esse outro grupo vem e se vinga matando alguém do grupo rival", disse o delegado.
Venda de drogas durante o dia
Os transtornos causados pelo tráfico não se limitam ao beco de onde Maria Sirlei precisou fugir, depois de perder o filho. Na Vila Nazaré, na Zona Norte de Porto Alegre, o tráfico acontece durante o dia. O repórter Fábio Almeida flagrou a ação de traficantes, que negociam com clientes e cortam tijolos de maconha no meio da rua.
A cerca de 200 metros do Palácio da Polícia, sede da Polícia Civil gaúcha, fica o condomínio Princesa Isabel, conhecido popularmente como "Carandiru". Lá, alguns moradores desafiam a lei apesar de terem policiais como vizinhos.
Em outro flagrante do repórter Fábio Almeida, os traficantes vendem cocaína no estacionamento do condomínio. O comercio ilegal é feito na frente de moradores e até de crianças.
Nos últimos meses, as ações da policia para reprimir o trafico no Princesa Isabel têm sido frequentes. Entre armas e munições apreendidas, até mesmo um fuzil já foi encontrado.
"É um ponto de tráfico. Já cumprimos 40 mandados de busca e apreensão lá. Um dado do Poder Judiciário: de moradores de lá, teriam mais ou menos 90 pessoas recolhidas ao sistema prisional", diz o delegado Emerson Wendt. "Ficam os parentes que acabam por assumir as feições do negocio ou pelo menos dar suporte para eles", completa.
Tráfico atinge todos os bairros da capital
Mas o tráfico não se limita a localidades como o Beco dos Cafunchos, a Vila Nazaré ou o Carandiru. Segundo Wendt, nenhum bairro da capital escapa da ação dos criminosos.
A Brigada Militar tem realizado blitze nas áreas conflagradas pelo tráfico, com o objetivo de tentar diminuir um pouco a ação dos traficantes. A reportagem acompanhou uma das ações na Vila Cruzeiro, na Zona Sul de Porto Alegre. Policiais militares percorreram os becos escuros atrás do esconderijo dos criminosos, e apreenderam quase 15 kg de maconha. Segundo um dos PMs, o homem preso por suspeita de tráfico já havia sido flagrado com 5kg da droga.