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Qualidade das estradas piora a cada ano

QUILÔMETROS RUINS E PÉSSIMOS aumentaram 2,5 vezes em quatro anos, chegando a 24,4% do total das rodovias no Rio Grande do Sul. No mesmo período, os trechos considerados ótimos diminuíram, representando agora 2,9% do total. As piores estradas estão na malha estadual.

 

Está cada vez mais difícil para motoristas no Rio Grande do Sul trafegarem em estradas sem buracos. Quase um quarto das rodovias gaúchas são avaliadas como ruins ou péssimas, aponta o mais recente levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), resultado que coloca o Estado abaixo da média nacional. Para acelerar as melhorias necessárias nas rodovias, seriam necessários cerca de R$ 6,24 bilhões em investimentos para a reconstrução e manutenção das estradas danificadas. É o dobro do que foi investido pelo poder público nos últimos 10 anos somados.

No Estado, o trecho composto por ERS-241, ERS-640 e BR-158, que liga São Vicente do Sul a Santana do Livramento (fronteira com o Uruguai), foi eleito o quinto pior do país na pesquisa atual. A vergonhosa colocação não é novidade. Pesquisas da CNT mostram que essas rodovias vêm caindo no ranking da qualidade. Em 2005, ocupavam a 91ª colocação, em 2013, a 101ª, e no ano passado, a 105ª.

A Pesquisa CNT de Rodovias 2015 percorreu e avaliou mais de 100 mil quilômetros de estradas asfaltadas em todo o país, considerando itens como pavimento, sinalização e geometria da via (desníveis e curvas perigosas, por exemplo). O levantamento deste ano teve acréscimo de 2.288 quilômetros (2,3%) em relação ao ano passado. No Rio Grande do Sul, foram analisados 8.668 quilômetros.  

Na comparação com outros Estados, o recorte local dos dados foi uma surpresa negativa na pesquisa, segundo o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista. Apenas 2,9% das estradas no Rio Grande do Sul são consideradas ótimas, ante 12,5% no país. Outros 23,5% trechos são bons no Estado – no Brasil, esse índice atinge 30,2%.

– O Rio Grande do Sul tem demonstrado uma queda muito forte na qualidade das estradas. Em uma análise por Estados, foi a grande surpresa negativa. Os resultados podem ser traduzidos basicamente por uma má gestão rodoviária, dificuldade de investimentos e deterioração rápida, o que passa pela operação tapa-buracos, um trabalho caro e ineficiente – afirma.

 

SECRETÁRIO APOSTA EM PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS

Secretário Estadual dos Transportes, Pedro Westphalen reconhece que administra “as piores estradas do país” e afirma que tapar buracos é, basicamente, a solução encontrada pelo governo.

– A pesquisa reflete exatamente a realidade. E nossas operações tapa-buracos estão sendo prejudicadas pelas condições climáticas. Não é o melhor, mas é o que se tem a fazer – diz o secretário.  

Segundo Westphalen, melhorias mais expressivas dependem de investimentos sólidos na Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), empréstimos com aval do governo federal e um plano para parcerias público-privadas e concessões.

Números da CNT apontam que 18,3% dos trechos de rodovias gaúchas são ruins e 6,1% são péssimos. Outros 49,2% são regulares. Em 2014, o mesmo levantamento mostrou que 302 quilômetros foram classificados como ótimos (3,6%). Em 2013, o número era maior, de 5,3%.

PÉSSIMAS CONDIÇÕES AUMENTAM CUSTO DO TRANSPORTE 13 VEZES

Conforme Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura e integrante do Fórum Temático de Infraestrutura da Agenda 2020, faz coro aos números. O problema, segundo ele, é que os dados ocultam problemas ainda mais sérios.

– Cada vez que passo por uma estrada ela está pior. Só que quanto mais se deteriora, mais aumenta o custo de logística. Isso corrói a competitividade de quem produz. Jamais vamos conseguir evoluir, tirar o Estado da crise, sem mexer em pontos estruturais como as rodovias – sustenta Menzel.  

Os dados da CNT revelam a necessidade urgente investir no setor. Ao longo de 20 anos, os recursos destinados à área se mostraram insuficientes para garantir qualidade – e tranquilidade – aos motoristas.

– O investimento em infraestrutura está longe de ser ideal no país. O que nos preocupa é que há trechos de rodovias no Brasil que não melhoram nunca. Em 10 anos, eles não apresentaram qualquer avanço – acrescenta o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.

Além disso, o levantamento atesta a diferença entre rodovias concessionadas, que dispõem de estrutura satisfatória, e as públicas, que sofrem com inadequações que impactam diretamente no custo operacional dos veículos, oferecendo mais riscos aos usuários.

Na outra ponta da pesquisa, as 10 rodovias mais bem avaliadas no país são as concedidas à iniciativa privada e estão localizadas em São Paulo. Os dados indicam que a primeira rodovia do ranking nacional liga a capital paulista à Limeira.

A CNT ainda aponta que estradas em péssimo estado de conservação causam um desperdício de recursos no transporte em média 13 vezes maior que o das rodovias que estão em excelente qualidade. O aumento de custos operacionais nas vias consideradas boas gira em torno de 3% para o transportador. Nas 10 piores, o trabalho mostrou que esse número alcança 40%.

 

Sem dinheiro para investir, Estado prepara concessões

Com o governo do Estado enfrentando crise nas finanças que dificulta até o pagamento em dia dos servidores, as estradas gaúchas sofrem com a falta de investimento. Hoje 24,4% das rodovias são consideradas péssimas ou ruins, conforme o mais recente levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Quatro anos atrás essa proporção era de 9,6%.

No Rio Grande do Sul, a deterioração é visivelmente mais acelerada nas estradas sob administração estadual, resultado de anos de baixa aplicação de recursos.

Sem alternativa em caixa, o governador José Ivo Sartoti pretende anunciar, nas próximas semanas, a primeira concessão de rodovia do atual governo – sinalização dada ainda durante a campanha eleitoral, em contraponto à Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), estatal criada na gestão do governador Tarso Genro.

Até seis trechos deverão ser repassados a empresas, com prioridade para a ERS-324, conhecida como rodovia da morte. Serão repassados 104 quilômetros, entre Passo Fundo e Nova Prata. Depois, virão outras estradas que já estão com propostas próximas da finalização pelas equipes das secretarias do Planejamento e de Transportes.

 

PAVIMENTO E SINALIZAÇÃO DEIXAM MUITO A DESEJAR

O desenho inicial prevê que o investidor privado terá de duplicar pelo menos 25% do trecho concedido, além de restaurações, terceiras faixas e viadutos. A solução é avaliada como positiva pelo especialista no tema, Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura e integrante do Fórum Temático de Infraestrutura da Agenda 2020:

– Com pedágio, o carro termina a viagem na garagem e não em uma oficina. Isso sem falar no risco de acidentes.

Ao analisar os resultados separados por tipo de gestão, o levantamento da CNT aponta a importância da participação do ente privado para melhoria da qualidade. Entre as concedidas no país, 78,3% da extensão teve avaliação positiva do estado geral, classificados como ótima ou boa. Comparando com as geridas pelo poder público, a situação é inversa: 65,9% da extensão apresenta algum tipo de deficiência e está classificada como regular (38,7%), ruim (19,4%) ou péssimo (7,8%). As maiores discrepâncias estão na pavimentação e na sinalização das vias.

Item importante para a segurança dos motoristas, o acostamento está presente em 84,6% da extensão das rodovias concedidas. A presença de acostamento nas rodovias sob gestão pública é menor: quase 45,5% da extensão não tem área de escape.

Há dois trechos considerados ótimos no Estado, ambos concedidos. Um deles é a BR-392 (Pelotas-Rio Grande). Outro trecho é o que compreende a freeway (Osório-Porto Alegre), a BR-290 (Capital- Eldorado do Sul) e a BR-116 em Guaíba.

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