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PP, o partido que virou para-raios de escândalos

Criado para se alinhar à direita, Partido Progressista tem histórico recente como satélite do PT e coleciona escândalos que vão do mensalão à Lava-Jato

Marcela Mattos, de Brasília
Paulo Octávio

FICHA – O empresário e ex-vice-governador do Distrito Federal Paulo Octávio, mais um político do PP no noticiário policial(Sérgio Lima/Folha Imagem)

Na noite da última segunda-feira, uma cena mais uma vez arrastou um personagem do universo político para o noticiário policial: Paulo Octávio, ex-vice-governador do Distrito Federal e um dos mais notórios empresários do ramo imobiliário de Brasília, foi preso. Paulo Octávio, ou PO, como é conhecido, é investigado por integrar uma organização criminosa que corrompia servidores públicos em troca da liberação de alvarás de construções em áreas irregulares. Réu no chamado mensalão do DEM, ele filiou-se recentemente ao Partido Progressista, o PP, legenda que tem sido presença contínua no histórico de escândalos de corrupção no Brasil.

Nos últimos anos, dezenas de políticos e apadrinhados do PP foram flagrados envolvidos em encrencas – a maioria delas, grave. A mais recente resultou na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que apura um megaesquema de lavagem de 10 bilhões de reais. Um dos personagens centrais do caso é o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, executivo que chegou à diretoria da maior estatal brasileira por indicação do partido. E a ligação da sigla com o escândalo não para aí. As investigações da Polícia Federal revelaram que Costa e o doleiro Alberto Youssef, pivô do esquema, mantinham uma estreita relação com diversos políticos e partidos. A lista:  os deputados federais Nelson Meurer (PR), João Pizzolatti (SC), Aline Corrêa (SP) – filha do ex-presidente da legenda Pedro Corrêa, preso no mensalão –, além de Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades. O deputado Luiz Argôlo (BA), também investigado na operação, trocou recentemente o PP pelo Solidariedade.

Partido Progressista

FUNDAÇÃO: 4 de abril de 2003

– 1,4 milhão de filiados
– 466 prefeitos
– 4.927 vereadores
– 40 deputados federais
– 5 senadores

ORIGEM
Reformulado em 2003, o Partido Progressista tem raízes na Arena, agremiação que deu sustentação à ditadura militar no Brasil. Na década de 1990, após a fusão do PDS com o Partido Democrata Cristão, nasceu o Partido Progressista Reformador (PPR), que mais tarde seria transformado em Partido Progressista Brasileiro (PPB), até virar o PP.

Em São Paulo, um dos expoentes do partido é o ex-prefeito Paulo Maluf, um dos brasileiros que integra a lista de homens procurados pela Interpol. Maluf é investigado por desvio de recursos na construção de obras públicas e envio de remessas para contas bancárias no exterior. O ex-prefeito foi condenado pela Justiça no ano passado e perdeu seus direitos políticos por cinco anos. Após a decisão, Maluf licenciou-se do diretório paulista do PP, mas voltou ao comando da legenda com a missão repetir o abraço do partido com o PT. Seu partido oficializou apoio à campanha do ex-ministro Alexandre Padilha (PT) ao governo de São Paulo, repetindo a fórmula usada na eleição do prefeito Fernando Haddad (PT).

Com 40 deputados na Câmara, o PP é tratado como prioridade no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A agremiação possui o quinto maior tempo na propaganda eleitoral de rádio e televisão – estima-se que tenha direito a um minuto e vinte segundos no pleito deste ano.

Para assegurar o apoio do PP, o governo federal firmou o compromisso de manter o Ministério das Cidades, um dos maiores orçamentos da Esplanada, sob o comando da sigla. Essa opção, entretanto, já custou caro ao Palácio do Planalto: em 2012, o então ministro e hoje conselheiro do Tribunal de Contas nos Municípios da Bahia Mário Negromonte foi demitido após ser acusado de pagar mesada de 30.000 reais a deputados do PP. Seus auxiliares também deixaram a pasta pela porta dos fundos.

“Não vou falar que é uma coisa agradável. Lógico que é desconfortável fazer parte de um partido envolvido em escândalos, mas isso existe em todos os partidos”, ponderou o deputado Guilherme Mussi (SP), que migrou para o PP no ano passado.

Apesar do histórico recente como partido satélite do PT, a sigla tem raízes na direita desde o nascimento como Arena, agremiação que deu sustentação à ditadura. Após a redemocratização do país, também já foi chamado de Partido Progressista Reformador (PPR) e Partido Progressista Brasileiro (PPB). Na Câmara, ainda restam deputados que causam dor de cabeça ao governo, como o gaúcho Luiz Carlos Heinze, da bancada ruralista, e Jair Bolsonaro (RJ), crítico mordaz da esquerda. 

“Fisiologismo é o nome do jogo. Vemos hoje a transformação de um partido que apoiou o governo militar para um partido político normal, atrás de verbas e de cargos no governo. A ideologia foi parar na gaveta, e acabou sendo substituída pelo imediatismo e pelo projeto de reeleição. O PP está em uma luta de sobrevivência para não virar nanico e, assim, fica nas mãos do governo. Sem o governo não há salvação", afirma David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).

O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), uma das lideranças na Câmara, rebate: “O partido tem doutrina e é partido antigo. O problema é que os métodos mudaram. E esses métodos aparecem do governo Lula para frente, com troca de favores em prol de cargos no governo. Esse método contaminou todos os partidos e só vai mudar depois que houver uma reforma política”.

 

Partido para-raios de escândalos

 

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Paulo Maluf

O ex-prefeito Paulo Maluf integra a seleta lista de pessoas procuradas pela Interpol. Maluf foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por ter desviado recursos da construção de obras públicas enquanto era prefeito. Parte do dinheiro foi enviada para uma conta no exterior – o que ele nega. Em decisão recente, o Supremo Tribunal Federal aceitou pedido da Procuradoria-Geral da República para requisitar o repatriamento de cerca de 53 milhões de dólares depositados em contas bancárias atribuídas a Maluf. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, estão congelados em nome do presidente do PP paulista 13 milhões de dólares na Suíça, 8 milhões de dólares em Luxemburgo, 5 milhões de dólares na França e 27 milhões de dólares nas Ilhas Jersey. Maluf perdeu seus direitos políticos por cinco anos – somente poderá voltar a se candidatar a um cargo eletivo a partir de 2016, quando terá 87 anos. Mas ele não perdeu a forma: já embarcou o seu PP nas candidaturas de Dilma Rousseff à reeleição e Alexandre Padilha ao governo paulista.

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