Em entrevista a ZH, Airton Michels afirma que o comissário Nilson Aneli lhe teria dito que fazia segurança de Xandi no dia em que criminoso foi morto, no Litoral Norte. Em depoimento à polícia, Aneli deu outra versão
23/01/2015 | 04h02
— Falamos duas vezes (depois do episódio). A primeira versão foi aquela que ele deu no jornal, que o sobrinho (um parente de Aneli foi baleado na casa) tinha ligado e tal. No outro dia de manhã, ele me ligou e disse: "Vou lhe contar a verdade, o que aconteceu é que eu estava lá fazendo segurança". Perguntei desde quando. "Foi para esse fim de semana. Me convidaram para fazer segurança, eu tinha o cara como promotor de eventos, tinha mulher, tinha criança e tal e eu precisando de dinheiro." Sendo babaquice dele ou não (sobre a possibilidade de o policial não saber que o cliente era um traficante), ele me traiu, foi desleal. Não podia estar lá — disse Michels a ZH na quinta-feira.
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As suspeitas de que Aneli (foto abaixo), que durante quatro anos foi chefe da segurança de Michels, estava trabalhando para o traficante naquele domingo são fortes desde o primeiro dia da investigação, mas ele sempre negou. Comparsas de Xandi, presos no local, disseram à polícia que Aneli fazia a segurança do grupo.
Foto: Caco Konzen, Especial
Além disso, vizinhos da casa onde ocorreu o tiroteio, a uma quadra do mar, reconheceram o comissário como sendo um dos homens que saíram de dentro do imóvel atirando como reação ao ataque. O que Aneli admitiu em depoimento foi que trabalhara como segurança de um sócio da produtora de eventos Nível A, de propriedade de Xandi.
Michels ressaltou que a investigação está com a polícia, que deverá esclarecer as circunstâncias do episódio e também se Aneli atuava havia mais tempo como segurança de Xandi ou de seus parceiros:
— Se ele estava fazendo (bico de segurança) durante o período que esteve comigo, é um caso seríssimo — afirmou Michels.
A Corregedoria-Geral da Polícia Civil apura o possível envolvimento de Aneli com o criminoso. Em entrevistas no dia que passou o cargo ao novo titular da pasta, Wantuir Jacini, Michels afirmou acreditar na inocência de Aneli e deu uma declaração que gerou controvérsias, a de que sabia que o comissário complementava renda fazendo segurança privada.
— Isso foi mal-entendido. Eu sabia antes, anos atrás — disse na quinta.
Apesar de lotado no gabinete da mais importante autoridade de segurança do Estado, ele não tinha acesso a reuniões de assuntos da pasta nem a informações sigilosas ou de operações policiais, afirmou Michels. Aneli comandava uma equipe de quatro pessoas. Eles se revezavam acompanhando Michels em viagens e no trajeto entre a casa e o trabalho. Investigado pela Corregedoria, Aneli está de férias.
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Nilson Aneli tinha acesso a informações sigilosas?
Não. Jamais participou de reuniões, jamais participou de assunto da segurança pública. Eventualmente, recebia queixa de um inquérito que não estava resolvido, e, às vezes, perguntava se o Aneli conhecia policial na delegacia ou na cidade e pedia que desse uma olhada. Os demais serviços de informações trabalhavam com meu setor de inteligência. Quando era assunto mais simples, que não envolvia sigilo — e não porque eu não confiasse nele, confiava, mas porque não era tarefa dele —, algumas vezes, poucas, pedia que ele visse um ou outro caso. Nunca nada que envolvesse sigilo da segurança pública.
Para fazer bem o serviço de segurança, como a sua proteção pessoal, é preciso informações. Era função dele esse levantamento de informações?
Se havia algo, como agitação em presídios, e tinha informações, era para a inteligência. Ele cuidava da minha segurança e transporte, ficava no meu gabinete.
Como policial, ele devia ter uma senha para acessar sistemas de informações, como o Consultas Integradas. O senhor sabe que grau de acesso a informações ele tinha?
Não saberia dizer se ele tinha senha. Não sei se puxava dados ou se perguntava para alguém.
Qual seu sentimento em relação ao que aconteceu, o que vocês conversaram?
Estou chateado. Falei com ele duas vezes depois do fato, depois ele sumiu, não falei mais. Ele realmente não podia ter feito isso, foi uma deslealdade completa dele com a Secretaria de Segurança, com todos nós que trabalhamos da forma mais séria possível. Ele não podia fazer a segurança de ninguém. Eu sabia que antes, quando eu conheci o Aneli, tu notavas dificuldade financeira. Ele não era de frequentar minha casa, mas era de um círculo de amizades minha. O Aneli a maior parte das vezes não tinha nem carro, tu vias que o padrão de vida era nos limites do salário dele. Mas me diziam que ele fazia bicos. Quando convidei, eu disse: tu não faz mais segurança privada nenhuma. Ele disse que não faria.
Quando o convidou para ser seu chefe de segurança, alertou para não fazer mais bico?
Obviamente, ninguém da minha segurança deveria fazer (bico), mas muito especialmente ele.
Em entrevista depois do episódio, o senhor disse que sabia que ele complementava renda fazendo segurança.
Isso foi mal-entendido. Saiu errado. Eu não disse isso. Eu sabia que antes, muito antes (fazia bico). Quando convidei o Aneli, tinha ficado três anos em Brasília. Nunca mais tinha visto ele. Assumi e esses amigos em comum pediram para dar uma chance, que era um cara de toda a confiança.
O bico é proibido, certo?
Lógico. Se ele tava fazendo durante o período que esteve comigo é um caso seríssimo, não sei como estão as investigações.
Essa informação nunca surgiu para o senhor?
Nunca ninguém me informou que ele estaria fazendo segurança privada. O serviço que ele prestou de transporte e de segurança não tenho queixa, nunca atrasou, nunca faltou.
O que ele contou quando vocês conversaram?
Eu soube do episódio na segunda-feira (Michels estava com um filho hospitalizado). Tentei falar com ele, não estava mais com celular funcional. Lá pelas tantas, não lembro se segunda ou terça, consegui falar com ele. A primeira versão foi aquela que ele deu no jornal, que o sobrinho tinha ligado e tal. No outro dia de manhã ele me ligou e disse: "Vou lhe contar a verdade, o que aconteceu é que eu estava lá fazendo segurança". Perguntei desde quando. "Não, esse fim de semana me convidaram para fazer segurança."
Ele disse que não sabia que o cliente era traficante?
É. Ele (Aneli) sempre foi muito bem referido, eu gostava dele. Sendo babaquice dele ou não (sobre a possibilidade de o policial não saber que Xandi era traficante), ele me traiu, foi desleal comigo. Eu disse o seguinte para ele: essa história está mal-contada, tu tinhas de ter lealdade desde o início comigo e tu não devias estar lá.
O caso
Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, 35 anos, foi executado com um tiro de fuzil no domingo, 4 de janeiro, enquanto assava churrasco junto à piscina de casa a menos de uma quadra da orla de Tramandaí. Os suspeitos estavam em um Corsa. Um sobrinho do comissário Nilson Aneli foi atingido, além de uma mulher. Segundo testemunhas, Xandi e outras nove pessoas estavam na casa desde o Natal.
O contraponto
O que diz Nicolas Aneli, advogado do policial
Admite que Aneli prestou segurança na casa por pelo menos três dias antes do crime, contratado pela produtora Nível A, utilizando sua arma particular. Ressalta que o comissário não sabia que Xandi era traficante. No dia 4, ia até o local para receber o pagamento do serviço e, no caminho, foi avisado de que o sobrinho havia sido baleado.
Zero Hora