Responsável pelas investigações do estupro de uma mulher desacordada, na zona norte de Porto Alegre, cujos vídeos foram compartilhados em redes sociais, a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Tatiana Bastos, vê no caso uma violência de gênero que extrapola o crime sexual.
— Percebemos que ele (o autor do vídeo) está brincando com a situação. Ele coloca a vítima em uma posição jocosa — avalia a delegada.
De acordo com a delegada, as falas do homem enquanto toca no corpo da mulher dão a entender que ele, aparentemente, age sem perceber que está cometendo um crime grave. Como se a situação de vulnerabilidade em que se encontrava a vítima lhe permitisse abusar dela e submetê-la a situação constrangedora.
— Isso é o que mais choca: não perceberem como violência sexual. Debocham da conduta da vítima, ele filma, ele divulga, em um típico sinal de exercício de poder sobre uma vítima desacordada. Bem típico da violência de gênero — avalia Tatiana.
O crime foi cometido na noite do último domingo (26), e os vídeos gravados pelo próprio abusador circularam em redes sociais. GaúchaZH teve acesso às imagens, que não serão reproduzidas.
O carro em que estava a vítima aparece atravessado na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia. Além dela, estava o motorista do carro, que a acompanhou na festa — ambos estavam desacordados. O homem que gravou o vídeo então estacionou seu Palio, caminhou até o veículo, abriu a porta do carro e encontrou os dois inconscientes. Ele toca várias vezes na mulher.
Conforme o relato da mulher à Polícia Civil, ela só ficou sabendo do estupro ao receber os vídeos. No dia, ela e o motorista do carro foram levados a um hospital pela Brigada Militar, que já fez relatório para a Deam com todo o atendimento desta ocorrência.
De acordo com Tatiana, não foi verificado acidente envolvendo o automóvel onde estava a dupla. O motorista e a mulher perderam a consciência, possivelmente pelo uso excessivo de álcool. A BM teria sido acionada pelo próprio abusador. Isso teria facilitado sua identificação, e também a de outro homem que aparece nos vídeos.
— Já há um suspeito identificado. Mas há a suspeita de envolvimento de mais de uma pessoa, até como podemos perceber em mais de um vídeo. Recebemos diversos vídeos. Ele responderá com certeza por estupro de vulnerável e o próprio crime do artigo 215 do Código Penal que a divulgação do estupro de vulnerável. A pena é de até 15 anos — disse a delegada, que não divulgou o nome do suspeito porque a investigação ainda está em curso e ainda não há mandado de prisão contra o homem.
Outra prova com a qual a polícia conta é material genético do sêmen do abusador, recolhido no veículo. Outro homem, que aparece retirando objetos do carro, poderá responder por furto e omissão de socorro.
Gauchazh