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Penúltima Página JC, crônicas Alaides Garcia dos Santos 02.06.2016

Fim do voto ideológico

 

Comparando os resultados entre uma eleição e outra, conclui-se que o voto ideológico está cada vez mais escasso. E isso abre perspectivas em matéria de eleições municipais. Esse comportamento do eleitor pode ter explicações lógicas. Entre elas, que o eleitor tenha se dado conta que o voto ideológico é, antes de tudo, um voto burro, um voto que fecha os olhos aos dados da realidade presente, uma vez que o eleitor ao abrir mão do seu senso crítico, torna-se surdo a qualquer argumento racional. A ideologia é uma espécie de suborno moral que, do ponto de vista prático, produz no contingente de eleitores afetados por ela o mesmo efeito que o suborno assistencialista produz no voto do miserável. Na verdade, a ideologização extrema é o exato contrário da politização. Ela relativiza o certo e o errado, embaraça as consciências, inviabiliza o debate e impossibilita os consensos.

 

 

Alternância no Poder

 

Depois da sequência de três mandatos da coligação Aliança por Santo Augusto com Alvorindo Polo prefeito (93/96), seguido por Naldo Wiegert (1997/2000), e Florisbaldo Polo (2001/2004), sempre houve alternância na administração municipal entre as coligações União por Santo Augusto e Aliança por Santo Augusto, ou seja, em 2004 a União venceu, em 2008 foi à vez da Aliança e, em 2012 voltou a União por Santo Augusto. Só que isso não serve de parâmetro. Para a eleição deste ano, com uma oposição “ainda” desarrumada, com os partidos de situação desencontrados e, com a articulação de um (improvável) consenso em andamento, tudo ainda é nebuloso.

 

 

Afinal, e os candidatos?

 

Apesar de estar marcada para este sábado “mais uma” reunião dos partidos políticos, já se pode antever que novamente a proposta de candidatura única e de consenso para prefeito de Santo não prosperou. Sendo assim, cabe aos partidos tomarem seus rumos e definirem seus candidatos. O PMDB já tem praticamente definido Naldo Wiegert como candidato; o PDT, apesar de acanhadas manifestações de colocar o vice na chapa de Naldo, não é totalmente certo, podendo romper a coligação e lançar candidato próprio. (É uma possibilidade). A Aliança por Santo Augusto mostra simpatia por coligar-se com o PMDB, inclusive inclinada a aceitar Naldo como cabeça de chapa. Do contrário, mesmo diante da resistência de Florisbaldo, não se pode descartar sua candidatura.

 

 

Seu voto para vereador

 

Grande parte dos atuais vereadores, em todos os municípios brasileiros, deverá buscar mais um mandato nas eleições de outubro. O eleitor, diante da descrença para com os políticos, por certo fará minuciosa avaliação para ver se vale a pena reeleger um vereador. Por exemplo, se o vereador pensa nele mesmo, se tem a política como carreira, por que você vai votar nele de novo? Aquele que assim procede é um exemplo claro de que só cuida de seu salário e de sua família. Vereador assim, que transforma o cargo eletivo em profissão, não deve ser reeleito. Mas o que dizer de eleitores que votam em vereadores dessa estirpe? Antes de depositarmos o voto é preciso pensar sobre nossos desejos como cidadãos, o que queremos para a sociedade e o que o candidato pode fazer, se eleito. É preciso ser responsável também na hora do voto. Por isso, é fundamental o eleitor saber qual é, efetivamente, a intenção do candidato.

 

 

Estupro x silêncio

 

A repercussão midiática em torno do estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro deverá servir, no mínimo, para profunda reflexão das famílias e da sociedade. No Brasil são registrados quase 50 mil casos de estupro por ano. Segundo dados do mais recente Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 47.646 estupros em 2014, o que equivale a um a cada 11 minutos. Porém, segundo o mesmo relatório, as estatísticas captam em média apenas 35% dos casos, o que levaria o total de estupros no Brasil acima de 130 mil por ano, ou um a cada 4 minutos. Lamentavelmente, o silêncio das vítimas, de familiares e eventuais testemunhas sobre o drama do estupro é uma das razões que dificultam o combate dos crimes sexuais, além de servir como proteção aos estupradores.

 

 

A cultura do estupro

 

Nos últimos dois anos, casos de violência sexual contra a mulher vem enchendo cada vez mais os noticiários. Criou-se a cultura de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Paira, em meio a sociedade machista, a ideia de que as mulheres não são vistas como seres com vontade própria e sim, propriedade dos homens. E isso não está só na mente doentia de certos homens mas, incrivelmente, na mente de muitas mulheres que de forma inexplicável acham que têm obrigação de obedecerem às regras masculinas, aceitar ser vista como objeto sexual pois “homem é assim mesmo”. E quem não aceita as tais “regras masculinas” é culpada ou se culpa por tudo o que lhe vier a acontecer. Pense bem, uma sociedade que acha normal uma mulher ser constrangida na rua por uma cantada; normal uma mulher ser estuprada por estar bêbada ou usando roupas curtas; normal uma mulher ser forçada a fazer sexo com o companheiro, afinal, ele é seu marido ou namorado; normal uma mulher ser vista apenas como objeto para satisfazer as vontades alheias; normal uma mulher ser intimidada por homens heterossexuais quando é lésbica, porque na verdade ela tem que aprender a gostar de homem, “é ou não, uma sociedade doente”? Essa cultura machista precisa ser combatida.

 

 

Vítima de estupro e da sociedade

 

 

Tão inacreditável quanto o número de estupradores da jovem no Rio de Janeiro foi a reação de uma parcela bastante considerável da sociedade que se divertiram com essa tragédia. Penso que a sociedade que banaliza e trata como piada as agressões ao corpo de uma mulher é uma sociedade injusta e hipócrita. E pasmem! No mesmo dia em que o estupro da jovem veio à público, o novo ministro da educação (Mendonça Filho) recebia ninguém menos que Alexandre Frota em seu gabinete para debater propostas para o futuro da educação no Brasil. Alexandre Frota, como todos sabem e lembram, durante uma entrevista a um programa de televisão, assumiu publicamente que protagonizou um estupro contra uma mãe-de-santo. E a plateia (sem explicação) gargalhava como se ouvissem uma baita piada. Ora, vivemos em um país onde a própria sociedade garante que o estupro continue a ser um instrumento de poder e dominação. Infelizmente!

 

 

O que ninguém cogita

 

Depois do brutal caso da adolescente de 16 anos estuprada por mais de 30 homens, foram muitos e variados os comentários ora solidários ora culpando a vítima. Curiosamente, “ninguém cogita a possibilidade de seu filho, um dia, estar entre os estupradores”. E quem garante que não? Os monstros que estupraram a jovem carioca vieram da mesma sociedade que ela. Fique atento. É comum se ouvir o pai elogiar o filho que fala da bunda de uma menina na rua. O estupro em questão foi ato de extrema violência, e a raiz disso, é a forma como educamos nossos filhos. Os meninos são criados como predadores e, quando adolescentes, veem as meninas como presas a serem abatidas. Creio que vale uma reflexão, porque tão importante quanto não querer que sua filha seja estuprada é eliminar qualquer possibilidade de seu filho ser um estuprador.

 

 

Políticas públicas

 

Nos valores relativos à relação homem x mulher, como explicar os crimes de gênero? Perdura aí uma grande contradição já que essa relação em via de regra deveria ser harmônica e sem violência. No entanto, atos extremos de violência contra mulheres se repetem dia após dia. Se analisarmos, poderemos até detectar algumas razões que levam a esse descalabro. Entre elas, existe a persistente cultura de subordinação da mulher ao homem de quem ela é considerada uma inalienável e eterna propriedade e, na pouca importância dispensada pelas instituições do Estado (Município, Estado, União), desde os procedimentos, estrutura e políticas públicas de proteção à mulher vítima de violência. Aliás, para enfrentar esta cultura machista e patriarcal são necessárias e imprescindíveis a adoção de políticas públicas que atuem modificando a discriminação e a incompreensão de que os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos. Mas, modificar a cultura da subordinação de gênero requer uma ação conjugada, envolvendo órgãos de represão criminal, da educação, da saúde, do planejamento, enfim. Em termos de municípios onde medidas deveriam ser postas em prática, o que se vê é apenas promessas de políticas públicas. Um exemplo disso, agora em nível local, é o que consta no item 1.2 do Plano de governo do atual prefeito de Santo Augusto: * Criar um setor de políticas para as mulheres; * Criar centro de acolhimento para mulheres vítimas da violência. Só engodo, promessas não cumpridas.

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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