Só a ameaça de uma nova greve já basta para atrapalhar o crescimento. É um tiro no pé da própria categoria, que depende da retomada para voltar a ter dias melhores
A série de medidas anunciada pelo governo federal para contemplar os caminhoneiros deve ser saudada como uma reversão da inércia que ajudou a desencadear a greve dos transportadores de carga no ano passado. Se não resolvem o problema, as providências ao menos mostram que o Planalto está atento às dificuldades enfrentadas pelo setor. Ainda assim, há claros limites para concessões a essa e a qualquer outra atividade que o poder público não pode ignorar, evitando transferir ainda mais ônus para toda a sociedade.
A primeira e mais evidente consequência ficou clara no final da semana passada, quando o valor de mercado da Petrobras teve uma queda de R$ 32 bilhões unicamente pelo fato de o presidente da República ter pego o telefone e intercedido na definição do preço do óleo diesel. A Petrobras, como Jair Bolsonaro parece ter finalmente se dado conta nesta semana, não é uma repartição do governo. É uma empresa com investidores privados no Brasil e no Exterior. Qualquer ingerência exógena vai afetar o delicado balanço financeiro da maior empresa brasileira, que recém começa a se reerguer depois de quase uma década e meia de saques por parte de partidos no poder.
Outro limite é uma artificial definição do valor do frete. Tais tabelamentos, que violentam as mais primárias leis da oferta e da procura, já não deveriam mais encontrar eco no Brasil, até porque se mostram inúteis, quando não alimentadores da alta de preços. E, quando há inflação, todos saem perdendo, mas particularmente os mais pobres, pois têm menos mecanismos de proteção.
A solução para a questão deve ser estrutural. O país não pode ficar refém de uma categoria uma vez por ano ou a cada vez que o preço do diesel é reajustado, conforme a variação das cotações internacionais. Um dos caminhos é reestruturar todo o modelo de refino do país, abrindo espaço para a concorrência e a competição – a preços menores, portanto. Outra é o crescimento do Brasil, fazendo com que, de alguma forma, se possa absorver o excesso de oferta de transporte que ocorre hoje como resultado da farra de crédito verificada em governos petistas.
Só a ameaça de uma nova greve já basta para atrapalhar o crescimento. Ou seja: é um tiro no pé da própria categoria, que depende dramaticamente da retomada do desenvolvimento para voltar a ter dias melhores sem precisar destruir a Petrobras ou gerar inflação.
Opinião-Gauchazh