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O PSDB participaria ou não de um eventual governo Temer? A resposta, acreditem, terá de passar pelas ruas

A Folha traz hoje um texto de Daniela Lima tratando do papel que teria o PSDB caso Michel Temer assuma a Presidência da República, uma hipótese hoje mais plausível do que nunca. O senador Aécio Neves (MG), presidente da legenda, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, avaliam o óbvio: é claro que os tucanos teriam de se comprometer com a governabilidade, mas não imaginam um cenário de participação no governo.

Na outra ponta desse debate, estaria o senador José Serra (SP), que lembrou, em recente entrevista ao Roda Viva, o que se deu quando Itamar Franco, vice de Fernando Collor, assumiu. O PSDB foi para o governo — e como! E só por isso houve um tal Plano Real — isso lembro eu.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estaria ali num meio termo, observado por Max Weber, que distinguiu duas éticas: a da convicção e a da responsabilidade. Em política, nem sempre se faz o que se quer, aquilo de que se está convicto. Às vezes, é preciso fazer o necessário, o que for mais responsável.

De qualquer modo, é evidente que os tucanos não poderiam ser hostis a um eventual governo Temer sem correr o risco de parecer que estariam jogando contra o país. De resto, sabe-se que não haverá impeachment se não houver o engajamento ativo do maior partido de oposição e do maior partido da situação. Vamos pensar.

As circunstâncias de uma eventual posse de Michel Temer remetem às de Itamar Franco, em 1992? Muito parcialmente, da origem à consequência. Itamar Franco havia sido, vamos dizer, “pescado” para ser vice de Collor porque era considerado um político limpo, honesto, que não estava comprometido com esquemas. Collor precisava de alguém com essas características, se é que me entendem. Assim como Lula, num outro diapasão, precisava de um empresário conservador como vice e foi buscar José Alencar.

Quando Itamar assumiu a Presidência, tinha saído havia pouco do PRN, um partido inventado por Collor, e estava sem legenda. Filiou-se, depois, ao PMDB, voltando, então, às fileiras do antigo MDB, sua legenda de origem. O caso de Temer é diferente. O peemedebista preside o seu partido, a organização com o maior número de deputados e senadores. Quando se fez a aliança, em 2010, estava claro que se estava constituindo um eixo de poder. Não era um remendo como havia sido Itamar para Collor e Alencar para Lula.

Mesmo antes da crise mais aguda, não é segredo para ninguém que o PMDB já falava em ter candidato próprio à Presidência em 2018. Se o PSDB aceitasse participar de um eventual governo Temer, parece pouco provável que o partido do presidente abrisse mão da postulação em favor do aliado — e, obviamente, é impensável que os tucanos não tenham o seu próprio nome.

Mais: é preciso pensar nas circunstâncias. Um eventual governo Temer certamente enfrentará dificuldades com os petistas e seus satélites, tentando tomar para si a linguagem oposicionista — ainda que, hoje, a legenda esteja muito desgastada. Também a Lava-Jato preocupa. Nunca se sabe o que pode sair de lá.

Então ficamos assim: num eventual governo Temer, é certo que os tucanos não poderiam se comportar como oposição sistemática. A eventual participação no governo demandaria negociações de outro patamar, que passariam pelas pretensões dos próprios peemedebistas de conservar o controle do Executivo.

De todo modo, uma coisa é certa: qualquer que fosse a negociação, teria de ser feita às claras, quase em praça pública, com a transparência máxima. Tucanos e peemedebistas têm de ter claro que há agentes novos participando do debate público. E estes diferem em tudo dos movimentos sociais petistas que, no fim das contas, querem mesmo é mamar nas tetas do governo.

A eventual formação de um novo bloco de sustentação ao governo terá de ter uma pauta e de passar pelas ruas.

Por Reinaldo Azevedo

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