O governador Eduardo Leite fez, nesta quinta-feira, um discurso de estadista sobre a situação do Estado no combate ao coronavírus. Mas foi, também, um discurso perigoso.
Leite apresentou uma peça de oratória bem concatenada, bem medida e bem interpretada. Empregou um adequado tom emotivo para expor temas acerca dos quais ele pensou com critério, certamente com auxílio dos assessores. Quer dizer: foi uma emoção calculada, com a dose precisa de dramaticidade em cada oração.
O discurso de Leite pode ser resumido em dois pontos principais. O primeiro é a defesa das medidas tomadas por sua gestão na luta contra a peste. Ele destacou o número de novos leitos adquiridos pelo Estado e chegou a fazer uma estimativa de quantas vidas foram salvas pela política de distanciamento controlado nos últimos cem dias.
Há 12 dias, falei com ele e ele disse que os 15 dias seguintes seriam críticos. Agora essa criticidade foi estendida para mais 15 dias. Mas, lá atrás, em março, dizia-se que o famoso “pico” da infecção ocorreria em 6 de abril. Depois, em 20 de abril. Depois seria em maio. E em junho. Hoje se diz que será em julho.
Daqui a 15 dias, o que será dito?
Essa é a aflição de Eduardo Leite. Se daqui a 15 dias ele não puder dizer que a maior ameaça foi debelada, não haverá discurso, por mais bem amanhado que seja, capaz de convencer as pessoas de que elas terão de suportar outros 15 dias de sacrifícios.
Leite está apostando na sua capacidade de mobilização para essas duas semanas. Está apostando na disciplina da população. É provável que seja bem-sucedido nesse movimento. Mas, parafraseando Garrincha, falta combinar com o vírus. A contaminação terá de retroceder, a situação do sistema de saúde terá de melhorar. Porque, daqui a 15 dias, o discurso de Leite só poderá ser otimista. Ele não terá alternativa. Entre esses dois discursos, o do começo de julho e o de meados de julho, transitará muito do futuro do governador. E do Estado que ele governa.
Davi Coimbra