O presidente da Câmara teve três semanas para preparar uma desculpa sobre as contas secretas que mantém na Suíça. Se tivesse pelo menos se esforçado, poderia tentar sustentar por mais algum tempo a mentira apresentada aos próprios congressistas, quando afirmou, no início de outubro, que nunca enviou recursos para o Exterior. O pretexto agora apresentado, depois da comprovação da existência das contas por autoridades suíças, subestima a capacidade de discernimento não só dos colegas de parlamento, mas de toda a sociedade.
Diz o senhor Eduardo Cunha que o dinheiro existe, mas que ele passou a ser apenas usufrutuário, ou seja, inventou uma formalidade para dizer que as verbas desviadas não estão mais em seu nome. A questão ética nem deve ser debatida nesse caso, porque esse é um aspecto que o presidente da Câmara desconsidera sistematicamente. O que se evidencia nesse caso é o deboche com a inteligência alheia.
Não há como imaginar-se que alguém aceite tal desculpa como razoável. Eduardo Cunha teve tempo e condições de dispor de amplo direito de defesa. Teve, inclusive, o apoio de setores do Congresso, que o elegeram para o comando da Câmara e agora tentaram protegê- lo. Mas não reuniu nenhum argumento convincente contra os indícios de que mentiu.
É nesse momento que a frase histórica de Abraham Lincoln ganha mais uma vez atualidade: “Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. O homem investigado por determinação do Supremo continua manipulando informações e arregimentando cúmplices para suas desculpas, na tentativa de sobreviver politicamente.
Mas há muito o parlamentar perdeu o poder de convencimento e o respeito de todos. Não há como tentar iludir o Congresso, o Ministério público e o país, com tantas contradições e argumentos sem fundamento. Resta ao deputado admitir que o desenlace da sucessão de episódios imorais é a cassação de seu mandato. Editorial ZH