Errou feio o deputado Tiririca, palhaço que conquistou um lugar na Câmara Federal em 2010 graças aos votos de 1,3 milhão de brasileiros seduzidos por seu slogan de campanha: "Pior do que está não fica". Ficou. E não para de piorar. O país encerra 2015 com a presidente da República ameaçada de impeachment, o vice acusado de conspirar pelo poder, os presidentes da Câmara e do Senado investigados por suspeita de corrupção, pelo menos 147 deputados e 30 senadores respondendo a inquérito ou ação penal no Supremo Tribunal Federal. Isso se considerarmos apenas o parlamento federal. Nos governos e assembleias estaduais, nas prefeituras e câmaras de vereadores também não faltam casos de conduta indecorosa.
As pesquisas de opinião mostram que aumentou muito o abismo entre a sociedade e os seus representantes políticos, principalmente por conta do mau exemplo que vem de cima. O acirrado debate em torno do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff é o momento mais agudo desse jogo sujo pelo poder. Coloca, de um lado, um governo atrapalhado e inoperante, refém de alianças espúrias e de aliados interesseiros; e, de outro, uma oposição confusa e oportunista, que para conseguir seus propósitos não hesita em se aliar a quem torce pelo pior.
É o caso do presidente da Câmara Eduardo Cunha, que transformou um ressentimento pessoal em guerra declarada à presidente da República, a ponto de utilizar a admissibilidade do pedido de impeachment como represália. Foram tantas as manobras protagonizadas pelo deputado peemedebista que o Supremo Tribunal Federal precisou intervir para definir o rito a ser seguido pelo Legislativo no exame da delicada questão. Ainda assim, o país muda de ano sem saber se a crise política persistirá ou arrefecerá.
O comportamento de alguns parlamentares também contribuiu fortemente para o desencanto dos brasileiros com a política. Basta lembrar os episódios de xingamentos, troca de empurrões, socos e até cabeçada das últimas reuniões da Comissão de Ética da Câmara, que após o recesso deverá julgar o presidente da Casa, acusado de ter mentido a seus pares sobre os depósitos que mantêm no Exterior. A atual degradação do ambiente político brasileiro não tem precedentes na história republicana.
Mas a negação da política não contribui para a construção de uma sociedade melhor. Pelo contrário, é em ambientes assim que costumam florescer oportunistas e demagogos, que se apresentam como salvadores da pátria para se apropriar do Estado. O momento exige atenção e exercício pleno da cidadania. Para se livrar dos maus políticos, os brasileiros precisam se assumir como gestores da política, informando-se sobre aqueles que pleiteiam representá-los e fazendo escolhas corretas.
Crise política — como ensinam os chineses — também é oportunidade para o aperfeiçoamento dessa atividade indissociável da democracia. Editorial ZH