Ivo implantou 12 pinos na coluna após descobrir hérnia de disco, mas dores só pioraram. Hoje, caminha com dificuldades
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS
A força-tarefa montada no início de março pelo Ministério Público Federal (MPF) para apurar fraudes em implantes ortopédicos no Estado começa a dar os primeiros resultados. O procurador da República Pedro Antônio Roso enviou, na segunda-feira da semana passada, à 2ª Vara Federal de Canoas documentos que incluem perícias preliminares de próteses inexistentes ou cujo preço foi superfaturado. A suspeita recai sobre 1,7 mil procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade, entre 2006 e 2015. Desse total, pacientes de 253 cirurgias devem ser ouvidos.
Amparado em indícios técnicos, o procurador fez comparações entre a autorização de internação hospitalar (AIH) cobrada do hospital pelo tipo de operação e os raio X que mostram o que efetivamente foi implantado. Agora caberá à 2ª Vara Federal decidir se os indícios são suficientes para processos ou solicitar novas perícias.
— Até o momento, ouvimos de 60 a 80 pacientes, sendo quase 20 em juízo. Mais de 80% reclamam de sequelas. Em cerca de 50% dos casos, houve cobrança indevida. Em um deles, o teto máximo que é pago pelo SUS foi extrapolado — afirma Roso.
As cirurgias sob análise foram realizadas no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, instituição que teve como chefe de traumatologia um ortopedista suspeito de integrar o esquema que ficou conhecido como Máfia das Próteses — grupo que realizava procedimentos superfaturados.
Vida ativa cerceada por dor e angústia
Foi na instituição que Rosalina de Carvalho da Rosa fez a primeira cirurgia, em 2006. Com dores na coluna, implantou seis pinos. No total, passou por quatro procedimentos, três deles realizados em outro hospital, na Capital. O último lhe rendeu um AVC.
Depois de passar por quatro cirurgias, Rosalina diz que não consegue ficar mais do que 10 minutos em pé
Foto: Anderson Fetter / Agencia RBS
Uma década depois da primeira cirurgia, sentada em uma cadeira sob medida na sala de casa, em Sapucaia do Sul, a aposentada lamenta a perda de boa parte da mobilidade. Ela recorda que antes tinha vida ativa, ajudava com os serviços de casa. Hoje, não consegue ficar mais de 10 minutos em pé. E não há remédio que alivie a dor:
— Estou com parafusos frouxos, qualquer movimento que faça dá aquela ferroada, e no outro dia mal posso caminhar. Não faço mais nada. A única coisa é um almoço, (lavar) uma loucinha, que não fique muito tempo em pé. Terminaram com a minha vida.
Condição parecida enfrenta o ex-motorista e cobrador de ônibus Ivo Leonel Alves. Em 2005, ele descobriu uma hérnia de disco. Como necessitava de cirurgia pelo SUS, procurou o Nossa Senhora das Graças e implantou 12 pinos na coluna. Desde então, as dores só pioraram e restringiram a rotina:
— A dor é tremenda. Pinos na coluna estão entortando. Tenho raio X que comprova isso. Acho que é prótese clandestina. Só pode ser inferior para incomodar tanto, né? Era para estar bem, mas estou pior. Imprensa Livre
Image already added
Visitas: 1.236