Em cidades do Nordeste atendidas pelo programa Mais Médicos, médicos cubanos também reclamam de promessas não cumpridas. O alto custo de vida surpreendeu os profissionais trazidos da ilha da ditadura castrista. Há relatos de médicos que comem de favor e precisam pegar carona para trabalhar. Andres Manso, que atende em Quipapá, a 180 quilômetros do Recife, está decepcionado. "Teve dia de ir comer na casa de amigo", afirmou, por telefone, reclamando da bolsa de R$ 900,00. Ele divide a moradia – oferecida pela prefeitura – com mais três médicos. Trabalha muito, mas diz não ver recompensa: "Todos trabalham pela possibilidade de viver melhor e não é isso que acontece, estou vivendo mal". Manso diz que, "se não produzir muito ou não trabalhar, haverá reclamação, mas ninguém se preocupa se ele tem o que comer". Apesar das reclamações, garante que não faria como Ramona Matos Rodríguez, que abandonou seu posto no Pará: "Não descumpriria um acordo". Arnais Rojas, de 44 anos, três filhos, mora no Recife, onde trabalha em um posto de saúde em Mustardinha, e se sente satisfeito com a gratidão da população. O único aspecto negativo, para ele, é o pouco dinheiro: "Ganho menos do que a enfermeira que trabalha comigo".Segundo o profissional, a reclamação por melhor remuneração é geral: "Mas, até agora, não houve resposta de aumento do salário ou de ajuda". Rojas diz que, além das despesas com alimentação e pessoais, há as imprevistas. Ele e o colega com quem divide moradia tiveram de comprar um ar-condicionado para suportar o forte calor. Ele tem moradia e transporte pagos pela prefeitura do Recife. Carona. Acompanhado por duas funcionárias e uma enfermeira do posto de saúde de Cajazeiras, na periferia de Salvador, o médico cubano chega ao local de trabalho, no início da tarde de quinta-feira. Está no carro de uma das funcionárias, voltando de visitas a pacientes. A carona, conta ele, foi uma forma encontrada para economizar. "Ela estava saindo para almoçar e perguntei se não poderia me levar até a casa de um morador, e me pegar na volta", diz o integrante do Mais Médicos, que pediu para não ser identificado: "Fiz o que precisava e não gastamos".