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Irmão da mãe de Bernardo não crê em suicídio e vê absurdo em carta

Na suposta carta de Odilaine Uglione, ela se diz sozinha, sem irmãos.

Peritos particulares já haviam apontado falhas na investigação do caso.

 

Jonas Campos  Da RBS TV

 

A polícia ainda tenta desvendar os mistérios que envolvem a morte de Odilaine Uglione no Rio Grande do Sul. Mãe de Bernardo Boldrini, menino assassinado aos 11 anos no Rio Grande do Sul no ano passado, ela foi encontrada morta no consultório do marido, o médico Leandro Boldrini, em fevereiro de 2010.

Na época, a polícia cincluiu que Odilaine hava se matado com um tiro. Uma carta de despedida, que teria sido escrita por ela, é um dos principais alvos da investigação. E é a partir dela que novas revelações surgem. A reportagem do Fantástico encontrou um dos irmãos de Odilaine, que acredita que a carta foi forjada. Ele tem motivos para duvidar, como mostra o Fantástico deste domingo (13).


Depois disso, em maio, a Justiça pediu a reabertura do caso, e outro delegado passou a conduzir as investigações. Surgiram, então, novos depoimentos que reforçam as suspeitas sobre o que aconteceu no dia da morte de Odilaine.Ainda antes de o irmão de Odilaine se manifestar sobre o caso, a mãe dela nunca acreditou na primeira versão, de suicídio, e contratou peritos particulares. Eles apontaram falhas na investigação, já que consideraram que a letra da carta não é dela, como o Fantástico mostrou em março deste ano.

Na carta, Odilaine escreve que era sozinha e não tinha irmãos. Trecho que é desmentido pelo irmão, Flávio Campos, que mora no Rio de Janeiro. "Eu acho isso um absurdo porque ela tem irmãos, tem eu, tem mais um aqui no Rio, tem mais outro em Porto Alegre", afirma.

Essa carta está errada porque eu sou irmão dela, e ela

falava comigo"
Flávio Campos

Flávio Campos é irmão de Odilanine por parte de pai. Diz que cresceu longe dela, mas garante que os dois mantinham contato. Ele ainda não havia lido a carta. "Essa carta está errada porque eu sou irmão dela, e ela falava comigo, a gente conviveu junto".

Ainda menina, Odilaine enviou uma foto para Flávio com uma dedicatória. Ao comparar a letra com a da carta que seria a de sua despedida, o irmão vê diferenças. "Eu não acho parecida. Quiseram fazer parecida", pontua.

Vivendo distante de Odilaine, Flávio conta que ficou sabendo da morte de Bernardo pela televisão. "Eu não pude acreditar", diz. Depois da morte da irmã, ele nunca mais viu o sobrinho, que para a polícia foi assassinado no dia 4 de abril.

Bernardo foi morto aos 11 anos, segundo a polícia, com uma injeção letal aplicada pela madrasta, Graciele Ugulini. O pai do menino é acusado de ser o mentor do crime. Ele, Graciele e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz – também acusados de envolvimento – estão presos e vão a julgamento popular.

Flávio não acredita que a irmã tenha se suicidado. "O Bernardo era tudo para ela. Ela jamais ia deixar meu sobrinho órfão, jamais", destaca. O irmão distante nunca foi ouvido pela Justiça, mas se diz disposto a colaborar.

Empregada da família faz nova revelação

Nos depoimentos que deu, tanto na primeira como na segunda fase da investigação, Nelci de Almeida e Silva, empregada que trabalhava na casa de Leandro e Odilaine, não fez menção a nenhuma arma. Porém, agora, ela revela que viu Leandro mexer em uma arma no dia em que Odilaine morreu.

"No dia do crime ele veio tarde da noite. Ele abriu o cofre e eu vi uma arma lá, uma arma preta", conta a empregada, que diz não ter feito antes a revelação por medo. "Tinha medo de sobrar para mim", alega. Em depoimento à época, Leandro Boldrini disse que não tinha arma.Antes de Odilaine ser encontrada morta, a empregada diz que o casal discutiu em casa. "Eles iam assinar os 'papel' do divórcio e começaram a discussão. Não sei se era por causa de escritura, dinheiro…", lembra, afirmando que não houve agressão física, apenas verbal, com ofensas.

Ao sair para trabalhar, após a briga, Nelci recorda que Leandro deixou um recado. "Disse que se acontecesse alguma desgraça naquele dia, que eu chamasse o 191 (Polícia Rodoviária Federal), 193 (Corpo de Bombeiros), porque ele estava cansado de chantagem." Já sobre Odilaine, a empregada diz que ela estava transtornada.

"Ela disse que não queria viver mais, ela não falou em se matar", comenta. Em seguida, lembra que a patroa decidiu sair de casa pedindo para que a empregada ficasse tranquila, que ela não faria nada. Quinze minutos depois do episódio, surgiu a notícia do suicídio de Odilaine.

Há cerca de um mês, o corpo dela foi exumado, e os restos mortais passam por perícia. A carta de despedida também será analisada. Mais de 30 pessoas já forma ouvidas nesse novo inquérito, que ainda não foi concluído. "A verdade tem de vir à tona. A verdade verdadeira, não a verdade falsa, como essa carta", cobra o irmão.

Relembre o caso Bernardo

Carta de suicídio da mãe do menino Bernardo foi forjada, dizem peritos (Foto: Reprodução/TV Globo)Mão de Bernardo, assassinado em 2014, foi achada

morta em 2010 (Foto: Reprodução/TV Globo)

– Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, a madrasta Graciele Ugulini foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

– Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

– O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.

– Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.

– Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.

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