Federação dos hospitais filantrópicos diz que atendimentos podem parar.
Secretário da Saúde diz que redução foi em incentivos e não no orçamento.
Do G1 RS
A crise na saúde pública no Rio Grande do Sul pode ficar ainda pior. Responsável pelo atendimento de 70% dos pacientes do SUS no estado, as Santa Casas e hospitais filantrópicos dizem que temem ficar sem dinheiro nos próximos dias com o corte de 30% nas verbas, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço (veja o vídeo).
O Rio Grande do Sul tem atualmente 245 hospitais filantrópicos e Santas Casas, que atendem sete entre cada 10 pacientes do SUS no estado. Eles dependem do dinheiro que é enviado pelos governos federal e estadual.
Segundo a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, o atraso nos repasses começou há cerca de 20 anos. A entidade calcula que atualmente a dívida do estado com as instituições seja de R$ 187 milhões.
“A maioria dos hospitais estão abertos até agora porque as prefeituras, de alguma forma, redirecionaram recursos de outras finalidades suas para manter, especialmente, as áreas de urgência e emergência em funcionamento”, diz o presidente da entidade, Júlio Dornelles Matos.
“Tem 7 milhões de gaúchos que só têm o SUS como o sistema de saúde, e essa população não pode ficar desassistida. Nós nos sentimos responsáveis por isso. Logo, precisamos viabilizar a funcionalidade desses hospitais e isso tem custos, que são de responsabilidade do gestor estadual”, diz ele.
Segundo Matos, o problema pode ser agravado ainda mais com o corte de 30% do orçamento das instituições. Segundo Matos, o anúncio foi feito pela Secretaria Estadual da Saúde em reunião no dia 9 de fevereiro.
“Fomos surpreendidos com a comunicação de que a secretaria dispunha de R$ 103 milhões de reais/mês para pagar os prestadores aqui no estado e que a partir do mês de fevereiro, a Secretaria da Fazenda estaria liberando somente R$ 70 milhões e que nós deveríamos cortar parcelas das atividades que vínhamos desenvolvendo”, diz o presidente.
Situação crítica nos hospitais
No Hospital de Caridade de Ijuí, na Região Noroeste, as prateleiras de medicamentos estão quase vazias. O hospital é referência no tratamento de câncer pelo SUS e atende pacientes de 120 cidades. Como o Estado só mandou parte do dinheiro para cobrir as despesas do fim do ano passado, consultas e cirurgias sem urgências ficaram suspensas por 48 dias.
Em Cruz Alta, também no Noroeste, 80% dos atendimentos no Hospital São Vicente de Paulo são feitos pelo SUS. Mas, desde 6 de janeiro, são recebidos apenas pacientes em estado grave. Com mais de R$ 2 milhões a receber do governo, o hospital não dá prazo para normalizar a situação.
Uma paciente, que pediu para não ser identificada, diz que tem um tumor no útero e precisa de uma cirurgia urgente, mas o procedimento foi cancelado. “Por que eles estão trancando e por que eles não soltam? Cadê a verba? Onde está o dinheiro?”, questiona ela.
A situação afeta também a Santa Casa de Porto Alegre, um dos hospitais mais importantes do Rio Grande do Sul e que recebe pacientes de todo o estado. A instituição cobra do governo mais de R$ 3 milhões. No fim do ano, a direção teve que pegar empréstimos para pagar salários e férias e diz que, se parte do dinheiro não for depositado, pode haver impactos nos atendimentos.
Os hospitais marcaram para sexta-feira uma assembleia geral para discutir a crise. Segundo a Federação dos hospitais, a entidade solicitou uma reunião de emergência com o governador José Ivo Sartori e com o secretário da Fazenda, Giovani Feltes.
“Nós pretendemos, de novo, estabelecer de uma maneira muito clara o que significa esse corte de 30% para a população como um todo. Se mantido isso, nós pretendemos oferecer ao governador e também ao secretário da Fazenda a listagem dos pacientes programados para os próximos dias, próximos meses. E que eles, então, definam quais os pacientes que não serão assistidos. Não seremos nós que vamos fazer isso”, diz Matos.
Em entrevista ao Jornal do Almoço (veja o vídeo), o secretário estadual da Saúde, João Gabardo, negou cortes nos orçamentos dos hospitais filantrópicos. Segundo ele, o governo Sartori manteve o percentual de 12% do orçamento em investimento para a saúde e afirmou que a redução se dá apenas nos incentivos pagos pela secretaria para as instituições.
“Não são cortes. Nós queremos manter o orçamento que já foi realizado no ano de 2014. Os hospitais recebem de duas formas, pelo atendimento que fazem – internações, consultas, exames – e continuarão recebendo integralmente. Estamos falando de um outro recurso, que são incentivos criados pela Secretaria da Saúde para complementar o pagamento. Esses incentivos não podem ser criados acima do orçamento. Não podemos nos comprometer em pagar alguma coisa que não existe orçamento previsto”, afirmou o secretário.