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Governo do RS é um festival de mentiras e desnuda a imagem que Leite vende à população

O tucano é uma espécie de garoto mimado, o dono da bola que se não receber o passe para marcar o gol coloca-a debaixo do braço

Por Renê Ruschel – em Carta Capital


O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A desfaçatez do governador Eduardo Leite (PSDB) desnuda a imagem política que sempre vendeu à população. Seu governo – tanto este como o anterior – é um descaso, um festival de mentiras. Agora, com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, se vê às voltas com uma sucessão de erros pela negligência com que tratou a coisa pública. Leite é uma espécie de garoto mimado, o dono da bola que se não receber o passe para marcar o gol coloca-a debaixo do braço e o jogo acaba. Não admite nem assume os erros que cometeu. Sempre haverá um culpado.

Na política, teve uma carreira meteórica. Vereador e prefeito em Pelotas, sua terra natal, serviram como trampolim para chegar ao Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, em 2018. A ambição desmedida pelo poder o levou a renunciar ao mandato para disputar a Presidência da República, em 2022. Foi atropelado na convenção por seu então colega paulista, João Dória Jr. Prometeu apoiá-lo, mas recuou e não cumpriu a promessa. O resultado foi a renuncia da candidatura Dória e o fracasso absoluto dos tucanos na disputa.

Em sua primeira campanha eleitoral para governador, assegurou que não venderia as empresas estatais, no entanto entregou 7 bilhões de reais de ativos da distribuidora da Companhia Estadual de Energia Elétrica por simbólicos 100 mil reais. Vendeu a a Companhia Riograndense de Saneamento com o ágio de 1,15% em relação ao valor mínimo.

Para ele, a natureza é a grande responsável por essas tragédias. Em setembro de 2023, em entrevista à GloboNews afirmou que “os modelos matemáticos não indicavam o volume de água que atingiu o estado” à época e que “ninguém, nem mesmo as previsões mais dramáticas diziam que choveria o que choveu naqueles dias”. Foi desmentido ao vivo pelo jornalista André Trigueiro. Dias depois, em nota oficial, a MetSul Meteorologia confirmou que havia advertido para a possibilidade de chuvas acima de 300 milímetros.

A culpa é omissão, o descompromisso do estado gaúcho com políticas públicas que atendam os menos favorecidos. Em 2012, o governo federal aprovou um projeto no valor de 226 milhões de reais no Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, que nunca foi realizado. Previa a construção de 40 quilômetros de diques e casas de bombas para conter as cheias dos rios Gravataí e Arroio Feijó, além da desapropriação e recuperação urbana-ambiental da área, mas não saíram do papel.

De acordo com o professor Fernando Dorneles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, regiões que foram totalmente destruídas pelas águas poderiam ter tido ”zero de prejuízo se essas obras tivessem sido realizadas”.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira 20, o governador tentou se esquivar da responsabilidade pelo afrouxamento de regras que transformaram o estado em um paraíso aos malfeitores do meio ambiente. Em 2019, Leite apresentou à Assembleia Legislativa seu projeto de “modernização do Código Ambiental” que alterava 480 pontos de proteção à natureza. Afirmou que assim facilitaria a “atração de empreendimentos”, uma vez que a legislação antiga “estava travando o progresso da economia gaúcha”. Justificou que esse novo modelo se adequava às políticas do governo federal, à época comandada pelo ministro Ricardo Salles, aquele que, em plena pandemia propôs “abrir a porteira e passar a boiada” para aprovar mudanças nas regras de meio ambiente.

Um destes descasos é a chamada Licença Ambiental por Compromisso, em que o empresário consegue via digital sua licença em até 48 horas. Basta preencher uma declaração na qual se compromete a cumprir todas as normas legais. E o governo libera por boa-fé, sem nenhuma análise técnica ou verificação do projeto.

Outro se deu há pouco mais de 70 dias, quando sancionou um projeto de lei que permite a construção de barragens e reservatórios em Áreas de Preservação Permanente. Isso pode favorecer a formação de enchentes em eventos como os que aconteceram nas últimas semanas. O agronegócio aplaudiu a medida e o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Domingos Velho Lopes, chamou de “dia histórico”.

Na década de 1970, o estado gaúcho foi primeiro a elaborar um código de proteção ambiental no Brasil. Eduardo Leite tratou de destruir. “Depois disso [enchentes], as pessoas vão respeitar os alertas” afirmou Leite ao Roda Viva. Tomara que ele se inclua neste rol.

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