A reunião da próxima terça-feira entre o promotor Alexandre Saltz e o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho, traz expectativa de desfecho sobre o uso do herbicida 2,4-D para combater erva daninha das lavouras de soja. Produtores de uvas, azeitonas e maçãs reclamam de perdas milionárias em razão da deriva do produto para suas plantações na última safra e, agora, exigem a restrição da aplicação do químico.
No inquérito que tramita na Promotoria do Meio Ambiente de Porto Alegre, sob condução de Saltz, os indicativos são de que o Ministério Público (MP) e também a área técnica da Secretaria da Agricultura estão convencidos de que a aplicação do 2,4-D precisa ser contida, sob risco de “inviabilizar a diversificação” de culturas.
– Vamos aguardar o resultado da reunião. Caso não se apresente alguma medida, uma das opções é a busca pela proibição do uso via medida judicial – diz Saltz.
Esse deve ser o caminho caso o secretário não acate o parecer dos técnicos e opte por manter o mercado gaúcho aberto ao 2,4-D, um dos herbicidas mais usados no Estado e de melhor relação custo-benefício contra a erva daninha buva.
A busca por uma decisão dos tribunais não será necessária caso, nesta reunião, Covatti manifeste adesão às medidas restritivas ao agrotóxico, o que poderia ser feito por meio de nova legislação estadual. O secretário não atendeu a ZH ontem. A eventual proibição provoca reação entre usuários.
– O problema não é a molécula (2,4-D), outros herbicidas podem causar o mesmo. Ela é imprescindível hoje, e a proibição vai gerar sérios problemas. Ficaremos praticamente sem ferramentas contra plantas invasoras. Isso está se encaminhando para o pior cenário possível, as atividades vão virar inimigas – avalia Luís Fernando Fucks, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja).
A disputa chegou às raias da judicialização após meses de negociações sem sucesso entre sojicultores e produtores de outras culturas. Em dezembro de 2018, a Secretaria da Agricultura recebeu 81 análises de laboratório realizadas em vegetais colhidos em 56 propriedades rurais, distribuídas em 23 municípios. Do total de exames, 69 resultaram positivo para a contaminação por 2,4-D.
Ao ser aplicado nas lavouras de soja antes do plantio, o herbicida sofre processo de deriva, espalhando-se pelo vento e atingindo plantações vizinhas de frutas.
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