Há um provérbio francês que diz que “um pai é um banqueiro concedido pela natureza.” Jair Bolsonaro, como pai, terceirizou a tarefa de banqueiro ao Estado. Transformou os filhos numa bancada parlamentar e virou líder de uma organização familiar. Houve um tempo em que os interessados em política precisavam saber o nome das principais lideranças. Quando os políticos começaram a ir para a cadeia, foi necessário aprender a composição do Supremo, tendo o cuidado de distinguir as togas que prendem daquelas que abrem as celas. Agora, exige-se do brasileiro que aprenda os nomes dos filhos do presidente da República.
Há o vereador federal Carlos, que se dedica a comprar brigas nas redes sociais; o deputado Eduardo, especialista na defesa de tolices como a volta do AI-5; e o senador Flávio, do departamento de rachadinhas e das conexões milicianas do amigo Fabrício Queiroz. Jair Bolsonaro assumiu a Presidência há um ano e meio. Deveria oferecer equilíbrio, probidade e desenvolvimento econômico. Com o auxílio dos filhos, entrega instabilidade, suspeição e um tipo de déficit mais grave do que o fiscal —um déficit localizado entre as orelhas dos membros da dinastia Bolsonaro.
Só a falta de miolos explica a montagem de um esquema tabajara de ocultação em que o amigo tóxico Fabrício Queiroz, com o qual os Bolsonaro diziam não ter mais contato, é escondido num imóvel do advogado da família. Diante de tamanho amadorismo fica difícil de explicar todo o resto: os pagamentos da escola das netas do presidente, o custeio do plano de saúde e de boletos da família do primogênito do presidente, os depósitos feitos nas contas da nora e da mulher do presidente. Contabilizou-se a movimentação de R$ 2 milhões na conta do Queiroz, o amigo que o presidente indicou ao filho como mágico financeiro.
Ouvido sobre as despesas familiares que o Ministério Público diz que Fabrício Queiroz bancou com a verba subtraída dos contracheques de funcionários do seu gabinete, Flávio Bolsonaro disse por meio da assessoria que tudo não passa de “ilação de alguns promotores de injustiça do Rio de Janeiro.” Afirmou que a verdade ficará comprovada dentro dos autos.” O problema é que, em vez de demonstrar a verdade, a defesa do primogênito briga para arquivar os autos. Um pai normal tem a pretensão de preparar os filhos para a vida. Bolsonaro quis preparar a vida para os filhos. Não está dando certo. A filhocracia envenena a Presidência de Bolsonaro.
Por Josias de Souza