Alaides Garcia dos Santos
Por uma educação política
Ante o notório desinteresse e desprezo que a juventude, quase em geral, demonstra para com a política, me chamou a atenção um artigo que li, de autoria de Juliana Salbego, professora do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pampa – Campus São Borja. Eis o texto: – Não sei o que estou fazendo aqui! – disse uma aluna da disciplina de marketing político, no semestre passado, acerca de seu desagrado quanto ao tema da política tratado em aula naquele dia. – Achas que o tema não tem nada a ver com a tua vida? – perguntei, na esperança de que repensasse tal afirmação. – Isso mesmo, professora! Não tem nada a ver comigo! – respondeu.
Práxis política
Inúmeras situações como essa fazem com que surjam questionamentos, não apenas na condição de docente, mas também como cidadã, sobre a crescente desvalorização que assola a política atualmente. Talvez tal desinteresse tenha origem na incompreensão, ou na compreensão um tanto quanto restrita, do que pode significar a práxis “política”. Você concorda que a política é uma necessidade nas nossas vidas? A política à qual me refiro não está apenas ligada às atividades dos governantes de nossas cidades, Estados e/ou nação, conforme comumente se pensa. Refiro-me, de outra maneira, à política que surge a partir da atividade social desenvolvida pelos homens da chamada pólis – a cidade-Estado grega, tida como o cimento ou a união da vida social. Ali, a política se referia à atividade cotidiana de discussão exercida pelos cidadãos sobre os problemas daquela sociedade, fossem eles, ou não, parte do governo. A partir desta acepção, o político é todo aquele sujeito que enxerga, discute e busca soluções para as questões sociais.
Ideia equivocada
Quase que em oposição a esta perspectiva, vigora a ideia, no mínimo equivocada, de que a atividade política é exclusivamente da responsabilidade de vereadores, prefeitos, deputados e demais cargos representativos. Outrossim, prevalece a perspectiva de que a atividade política dos demais “cidadãos” se resume ao voto para a eleição destes cargos. Tal discernimento nos leva à renúncia também do direito, mas, especialmente, do dever de participação nas discussões dos problemas sociais e acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos nossos representantes eleitos. Somos todos políticos. Todo e qualquer sujeito atribui às suas atitudes cotidianas um significado político quando suas lutas pessoais e de grupo assumem um sentido coletivo. É importante salientar que, antes de repudiarmos o termo “política”, faz-se necessária uma compreensão mais ampla sobre o seu significado em nossas vidas. Ela se constitui em uma dimensão inseparável do cotidiano e sua negação é um ato, senão de desprezo, de ignorância.
Somos todos responsáveis
Grande parte do sistema político institucional de nosso país configura-se em uma luta pela ocupação e condução dos cargos do Estado, ou seja, uma infindável disputa pelo poder, em detrimento da preocupação com as necessidades sociais. Assevera Leo Maar que a atividade política passa a se deslocar das “coisas públicas” – da República – para a própria instituição em que se realiza, ou seja, o governo. Desta forma, a política institucionaliza-se em uma esfera autônoma, que passa a ser paralela às atividades sociais. É preciso lutar contra esta tendência. Se a política é uma necessidade imperiosa para a vida humana, como aponta Hannah Arendt, somos todos responsáveis pela sua efetivação. Nesse sentido, é necessário que todos possam ter certeza e reflitam, sejam nossos alunos ou aqueles que depredam o patrimônio público de outras universidades, acerca do que estamos fazendo aqui. Que a leitura deste artigo, sabiamente escrito pela professora, traga sim reflexão aos nossos jovens.