Pedro Valmor Marodin, empresário do ramo de comunicações (rádio e jornal), em maio de 2016, diante de uma crise administrativa que culminou com a renúncia do então presidente e vice da Associação Hospitalar Bom Pastor, não deixou a peteca cair. Percebendo a necessidade de alguém da comunidade se disponibilizar e assumir a administração da instituição hospitalar, não titubeou. Comprometido com a sociedade como cidadão, embora sabendo que prestaria serviço gratuito, teria de dispensar boa parte de seu tempo e trabalho de suas empresas e, soubesse que teria uma missão nada fácil a cumprir, decidiu encabeçar uma chapa e compor uma diretoria para assumir a gestão do hospital.
Auxiliado por uma dinâmica e competente diretoria e com a excelente equipe médica e dos demais profissionais do setor, Marodin vem desde o início reorganizando e readequando a gestão, renegociando dívidas, fazendo intensas campanhas junto à comunidade no sentido de arrecadar doações não só de dinheiro, mas de alimentos, materiais de higiene, limpeza e de tudo que é consumido e usado em prol dos pacientes no hospital, cujo objetivo pode ser considerado satisfatório.
Mas o grande problema é administrar os insuficientes recursos destinados pelo SUS, o que sem a complementação financeira oriunda de doações de pessoas e empresas, e de algumas prefeituras que fazem mensalmente repasses, tornaria inviável totalmente a manutenção do hospital em funcionamento.
Para falar sobre a gestão do hospital com relação aos repasses do SUS e as adequações que estão sendo implantadas, Pedro Valmor Marodin concedeu a seguinte entrevista:
JC – Quais serão as adequações que entrarão em vigor a partir de 01/02 e o que elas visam?
Marodin – O Hospital Bom Pastor vem tomando algumas atitudes e implementando algumas ações, no sentido de manter as portas abertas e ver seus funcionários e os médicos receberem em dia seus salários. Como o SUS é o nosso maior atendimento, em torno de 80 a 85% da população que atendemos é SUS, e como o SUS é deficitário, é lógico que o hospital tem que vir em prejuízos acumulados mês após mês. Então, a nossa diretoria, a direção do hospital fez um estudo profundo de todos os setores onde se consomem recursos e chegou à conclusão de que o hospital deve ter uma complementação, até porque o ministro da saúde, quando esteve em Santo Augusto, fez essa afirmativa, de que o SUS paga a metade ou nem a metade do custo – isso é uma verdade – e disse que os municípios têm de bancar essa diferença. Por que ele disse que são os municípios? Porque existe uma legislação que diz o seguinte: que nenhum cidadão pode complementar o SUS – e o SUS é aberto a todo o cidadão –, portanto, o município pode complementar o SUS, e pagar aquela diferença que o SUS está deixando em aberto. Então, na verdade, os nossos procedimentos são no sentido de buscar através dos municípios essa complementação, amparados numa legislação que tivemos conhecimento recentemente. É nesse sentido que estamos fazendo contato com os municípios. Agora, que fique bem claro que nós atendemos também sem o complemento, mas dentro da nossa cota, que é 60% do nosso percentual em relação ao número de leitos. Com complementação ou sem complementação, o hospital tem de atender e vai continuar atendendo. O que ocorre é que essa nossa obrigação é para os municípios de referência e essa referência quem determina é o Estado, é a Secretaria Estadual de Saúde, fiscalizada pela Coordenadoria Estadual de Saúde, com sede em Ijuí. Essas, nós temos o compromisso de atender. O que ocorre é que nossa referência são quatro ou cinco municípios e nós estamos atendendo, fora da nossa referência, mais outros quarenta. E é desses quarenta que estamos buscando as complementações, e não apenas dos municípios referência, porque eles precisam ter um hospital a disposição.
JC – O que ocorre com aqueles pacientes que procurarem atendimento no hospital sem autorização do município?
Marodin – O paciente que chegar no hospital e for um caso de município de referência vai ser atendido normalmente; o que não for de referência e estiver fora da nossa cota, se for urgência e emergência, o atendimento é imediato e tudo pelo SUS, os casos de acidente, acidente vascular, infarto, acidente de trânsito, uma tragédia de qualquer tipo, nós atendemos imediatamente pelo SUS, independente de qualquer convênio. Esse, nós temos o recurso do Estado que banca isso aí. Se chama recurso para a porta de entrada, urgência e emergência. Esse não tem problema nenhum. Agora, o paciente que vem de outra região, que não é da nossa referência, não contatou conosco antes, não acertou o repasse do hospital, nós vamos negociar com ele para achar uma forma adequada legalmente de atendê-lo.
JC – E no caso de o médico determinar a internação por ocasião da consulta na clínica?
Marodin – O paciente vai ter de entrar em contato não apenas com o médico. Antes, era médico-paciente. Agora, vai ser médico-paciente e hospital.
JC – Esse entendimento é o paciente que faz ou o médico mesmo?
Marodin – Esse entendimento quem faz, geralmente, é a Secretaria da Saúde do município de origem do paciente. Porque ela é quem vai encaminhar com a AIH. E ela sabe, já está sabendo de antemão, de que precisa de complemento do município dela.
JC – Esse encaminhamento é precedido de uma triagem?
Marodin – Exatamente, essa é a palavra correta. Eles fazem a triagem lá, se essa pessoa precisa de um atendimento de alta complexidade, ou média ou baixa complexidade.
JC – Para ficar bem claro: oriundo de município referência, o paciente chega no hospital, mas sem a autorização, tu disseste que ele será atendido igual. Não há o risco de perder o controle?
Marodin – A gente imediatamente vai entrar em contato com a Secretaria da Saúde do município do paciente, perguntando se ela autoriza, mesmo que seja por telefone. Nós jamais vamos deixar de atender uma pessoa no hospital. Jamais. O que nós estamos buscando são algumas alternativas legais de complementação do Poder Executivo, no caso, das prefeituras.
JC – Esses contratos com os municípios, por certo evitarão, inclusive, eventuais ações judiciais, como atualmente acontece?
Marodin – Isso é para organizar essa situação, que, em alguns municípios, em alguns hospitais do Rio Grande do Sul e do Brasil afora, o médico negociava um complemento para a clínica dele, mas não negociava hospital. E, agora, foram incluídos médico e hospital, mas a lei diz que tem que ser com o município.
JC – Como é o atendimento pelo SUS no Hospital Bom Pastor em relação aos médicos?
Marodin – O atendimento do SUS, planos de saúde e particular, depois que cai na mão do médico, é igual, não muda nada. É o mesmo médico, é o mesmo remédio, os mesmos laboratórios, as mesmas enfermeiras, as mesmas técnicas, é tudo igual. O atendimento não muda em nada. Pelo contrário, os médicos se doam, independente de qualquer situação. Até porque, no momento em que estão atendendo, nem sempre eles sabem se é pelo SUS ou não. Eles nem sabem muitas vezes, por quem são encaminhados, vem pelo hospital e a situação tem de ser resolvida, depois que vão se fazer os devidos encaminhamentos, se tem plano de saúde ou se não tem. É de se admirar a doação dos médicos. É muito grande. Os médicos são profissionais mesmo e não querem saber. Eu já vi ali situações fantásticas, o que esses médicos fazem, principalmente nos casos de urgência e emergência. Eles querem salvar a vida, são contra a morte e a favor da vida, decididamente.
JC – Número de leitos destinados ao SUS no Hospital Bom Pastor.
Marodin – O Hospital Bom Pastor hoje tem 50 leitos destinados ao SUS. Esses leitos são leitos chamados coletivos, enfermaria. São leitos de duas pessoas, três, quatro e até cinco pessoas, dependendo o espaço que é disponível para o número de camas, de leitos. Essa é a diferença talvez, que o Estado trabalha no sentido de curar a pessoa, mas não dá aquela liberdade, aquela privacidade de ficar sozinho no quarto. Para isso até o próprio hospital criou uma outra alternativa, de quem faz doações via conta de luz, dependendo do valor que ele faz a doação, o hospital negocia um quarto de melhor qualidade. Mas, isso é só para quem já vem fazendo doações tradicionais, que acumula um certo valor, isso é transformado em um tipo de crédito, o que possibilita a ele ter um tipo de acomodação privativa ou semiprivativa, uma coisa melhor.
JC – O hospital também mantém leitos para atendimento particular, privativos?
Marodin – Os particulares e planos de saúde são na mesma ala. Para isso nós temos 22 leitos disponíveis.
JC – Além do espaço físico, quais as outras novidades a partir de 01/02, com a ocupação do novo prédio do hospital?
Marodin – Nós noticiamos e estamos fazendo um esforço muito grande para, a partir de fevereiro, começarmos, mas estamos na dependência de várias obras, pessoas, entidades e que está um pouco demorado para liberar. Nós temos atacado muito forte na questão de ver o projeto dos bombeiros pelo menos aprovado, mas eles não dão resposta, está muito devagar, já faz oito meses ou perto disso que está nos bombeiros a nossa proposta e eles não mexeram o nosso projeto, e esse é um complicador. Nós temos vontade de entrar no mês de fevereiro, mas acho que vai ser impossível, mais provavelmente para abril ou maio, porque nos bombeiros está devagar. De qualquer forma, estamos fazendo tudo que é possível, temos hoje vários profissionais trabalhando na instalação de equipamentos, construções externas, instalações complementares no centro cirúrgico, enfim, todos os trabalhos necessários para deixar o hospital bem equipado e em ótimas condições de funcionamento.
JC – Considerações finais:
Marodin – Nas negociações que estamos fazendo com os municípios, na verdade, temos três contratos fechados. O nosso objetivo é trabalhar na microrregião de Santo Augusto. Já fechamos com Campo Novo, Nova Ramada e Inhacorá. Queremos ver se, nesta semana, fechamos com São Valério. Depois, vamos ver com Santo Augusto.