Por: Alaides Garcia dos Santos
“Um hospital com esse porte, com o potencial e vontade que esse corpo clínico tem de trabalhar, com toda a certeza a instituição se tornará viável.”
Ante a crise financeira por que passa o Hospital Bom Pastor de Santo Augusto, agravada com a falta ou atraso dos repasses por parte do Estado, a direção juntamente com o corpo clínico da instituição contratou a empresa Exatus Consultoria (voltada para prestar contratos de colaboração com as instituições sem fins lucrativos) para fazer um diagnóstico da real situação e viabilidade do hospital. Apresentado o resultado, a empresa foi contratada para assumir a responsabilidade técnica quanto a gestão administrativa e financeira de todo o complexo hospitalar.
Para falar sobre o assunto, o diretor executivo da empresa Exatus Consultoria, Sebastião Raife Cardoso concedeu entrevista ao jornal O Celeiro.
O que é, e como atua a empresa Exatus Consultoria?
Nossa empresa atua na gestão pública e privada, e temos como slogan é “soluções estratégicas”. A empresa é constituída por um segmento multidisciplinar, envolvendo os setores de administração e economia, contabilidade e financeiro, jurídico, de faturamento, de processamento de dados e de gestão. Dessa forma, fechamos um conhecimento completo da gestão de uma empresa, com capacidade técnica para identificarmos os problemas, fazendo um diagnóstico, como o que foi feito aqui no hospital Bom Pastor. A partir daí, elaboramos um cronograma de ações a curto, médio e longo prazo, buscando a solução compatível para cada função, para cada setor. Trabalhamos muito fortemente com elaboração de projetos, visando a reorganização do sistema como um todo, focamos também na capacitação dos colaboradores já existentes ou que por necessidade venham a ser agregados à equipe e também na logística de informação, muito importante nos dias atuais, por permitir o acompanhamento online do dia a dia da instituição. Temos a felicidade de dizer que logramos êxito em todas as instituições que assumimos em situações semelhantes ou até mais graves do que a do hospital Bom Pastor. Todas estão conseguindo fazer investimento de capital e não apresentam atrasos com folha de pagamento ou fornecedores. Entendemos que o momento atual é crítico, o pior da história da saúde pública do nosso Estado, mas também sabemos que é nesses momentos que se para pra olhar em volta e ver o potencial que se tem e ver o que está errado e o que se faz pra melhor.
Concluída a auditoria no hospital Bom Pastor, qual foi o diagnóstico apresentado?
A conclusão desse trabalho foi a materialização de oitenta e cinco páginas de uma apostila entregue aos nossos contratantes, onde visualizamos uma série histórica de problemas de processamento de dados, de incompatibilidades, de inconsistências, problemas de não estar adequado à realidade de uma rotina de trabalho, dentro de uma formalidade que o momento atual exige. Tudo isso acabou nos levando a crer que a gestão precisava ser qualificada. Um dos apontes que fizemos no nosso diagnóstico, no final dele, foi de que a gestão precisava ser ampliada, precisava ser modificada. Isso passa pelo sistema contábil, pelo sistema financeiro, sistema de processamento de dados, sistema gerencial, sistema de estoque, sistema de custos de cada setor. Hoje, a instituição não tem nada disso. Nós interpretamos que o hospital Bom Pastor está num crescente de sua capacidade física a ser instalada. Acreditamos que, dentro de um ano, estará com a sua ampliação pronta, mas não estava preparado estrategicamente, de forma gerencial, para assumir esses novos serviços, precisa de qualificação, precisa fazer ampliação da captação de recursos através de convênios, de participação social junto à comunidade, tanto local quanto regional, entre o poder público e o hospital, entre o hospital e empresas, junto ao IPE, à UNIMED e ao SUS. Em um curto espaço de tempo, precisamos de um incremento bem fortalecido em cima disso. Também pretendemos preparar a instituição para uma nova contratualização através de especialidades, os chamados ambulatórios de especialidades, para termos, aqui em Santo Augusto, ambulatório de especialidade em cirurgia, em dermatologia, em otorrino e talvez em oftalmologia, porque existe essa necessidade, essa demanda da população. Além disso, temos uma expectativa de, em um ano e onze meses, dobrar o faturamento atual da instituição. Pela experiência em outras instituições, não temos dúvida de que isso é possível ser feito.
Em termos práticos, como vai ser feito esse trabalho?
Nós assinamos o contrato a partir do último dia 10. Uma validade de gestão de cinco anos, onde estamos assumindo toda a responsabilidade técnica para a gestão administrativa, de recursos humanos, de pessoal, financeira, de faturamento, de captação de recursos, de marketing. Toda a logística está sob nossa responsabilidade. Contaremos com o apoio da diretoria, mas a essência, a tomada de decisão técnica, a iniciativa é toda de nossa responsabilidade, bem como o compromisso e a responsabilidade pelas dívidas que o hospital tem, pelos compromissos que já estão formalizados. De imediato, vamos agregar dois profissionais, um na área de administração e outro na área financeira, que atuarão efetiva, interna e diariamente. Além disso, os profissionais especialistas da nossa empresa estarão permanentemente numa escala de trabalho dentro da instituição e, de forma online, acompanhando diariamente tudo que será feito. Pela experiência que temos, acreditamos que se trata de uma instituição totalmente viável e que, em um curto espaço de tempo – prazo máximo de um ano –, se tornará autossustentável. Um hospital com esse porte, com o potencial do corpo clínico, com a vontade que esse corpo clínico tem de trabalhar – ese precisar agregar mais, a gente tem profissionais para agregar –, com toda a certeza a instituição se tornará viável.
Descartado o risco de fechamento do hospital Bom Pastor?
A comunidade de Santo Augusto pode ficar tranquila, porque podemos descartar a possibilidade de fechamento do hospital. Claro que precisaremos e muito do somatório de esforços de todos para darmos a volta por cima. Isso se refere aos colaboradores, às atitudes que eles venham a tomar daqui para frente, ao apoio da comunidade e também ao apoio do Estado como um todo – Administração Pública Municipal e Secretaria Estadual –, mas essa possibilidade de fechamento com certeza está descartada. O que ocorre é que, em 2014, em um contrato de consultoria de seis meses que acabou não sendo renovado, conseguimos um implemento financeiro muito significativo, dobramos a arrecadação financeira em relação ao SUS, mas percebemos que isso não era suficiente, que precisaríamos de uma ampliação maior e de uma contenção de despesas também. Nessa época, já tínhamos esse diagnóstico bem presente e alertamos a diretoria, alertamos algumas pessoas com influência dentro do hospital do risco que a instituição estava correndo. Então, o fato que ocorreu este ano já era previsível. Importante dizer que precisamos ter o cuidado de entender que um hospital é uma empresa prestadora de saúde e que assim deve ser gerenciado. No caso do Bom Pastor, num primeiro momento, vai ser um trabalho bem árduo, porque a dívida a ser sanada a curto prazo é muito grande, mas, a médio prazo, com toda a certeza, teremos fluxo de caixa. E uma instituição precisa trabalhar com fluxo de caixa porque, independentemente de o Estado atrasar o repasse, os nossos colaboradores precisam receber em dia. Esse momento, portanto, é um momento de transição, em que estamos trabalhando para alcançarmos esse resultado.
Quanto ao quadro de funcionários do Bom Pastor, qual foi a avaliação?
Durante o projeto de diagnóstico, não temos autonomia para analisarmos a fundo as finanças, nem a capacidade técnica de cada setor. Então, estabelecemos como meta levantarmos todas essas informações faltantes até o dia 30 de agosto, para, a partir daí, fazermos uma avaliação de cada setor. Vamos procurar reorganizar as equipes, identificar o potencial de cada setor e as falhas também. No momento em que identificamos um potencial, vamos procurar dar condições para explorar esse potencial. No momento em que identificamos uma falha, vamos trabalhar para capacitar esse setor, para que as falhas sejam sanadas. Agora, é obvio que, eventualmente, se o colaborador não cooperar para que essas suas próprias falhas sejam sanadas, não nos restará alternativa senão substituí-lo. Nossa prioridade, quando assumimos uma gestão, é a instituição. Hoje, aqui, a nossa prioridade, com toda a certeza, é a instituição Bom Pastor e, para resolvermos seus problemas, tomaremos todas as medidas cabíveis e necessárias.
Fisicamente, o hospital está sendo ampliado, e a intenção seria torná-lo referência microrregional.
Com a construção da nova ala, que deverá estar concluída em um ano, teremos uma ampliação de quarenta leitos, três salas cirúrgicas, cozinha, lavanderia, centro de obstetrícia, sala de recuperação, enfim, o hospital estará com uma outra estrutura física e com potencial de capacidade operacional no mínimo sendo dobrada. Hoje, dentro da saúde hospitalar existe uma grande dificuldade, que é o fluxo. Muitas vezes, os pacientes ficam muito tempo na fila, esperando para fazer um procedimento, o que não pode acontecer, porque, além de comprometer a saúde desse paciente, acaba também gerando um custo para os municípios. Nós queremos implantar aqui em Santo Augusto, junto ao hospital Bom Pastor, uma logística de fluxo de trabalho muito forte. No mínimo, dobrar o potencial que se tem hoje. Podemos pensar, inclusive, na construção de um espaço físico para um centro de imagem, que hoje a instituição tem carência, um espaço físico para um pronto atendimento mais adequado, com uma logística que nos dê melhores condições de trabalho, um fluxo operacional mais abrangente, e ainda a construção – isso tudo numa única obra, tem espaço físico para isso – de uma unidade de tratamento intensivo, que é a UTI. No momento em que conseguirmos isso, esse centro de alta complexidade – e é para isso que trabalhamos e queremos dentro desse prazo contratual de cinco anos –, além de oferecermos mais segurança para nossos profissionais trabalharem, mais capacidade técnica, também existe a chamada mudança de classificação, o que permite um aumento de arrecadação em todos os procedimentos, quer seja na área de convênios, quer seja na área do Sistema Único de Saúde. Então, isso é primordial, é uma coisa que o hospital precisa trabalhar para chegar até lá e é um dos comprometimentos que temos junto à instituição, de desenvolver esse planejamento técnico.
Considerações finais:
Em resumo, deixo bem claro que nós temos consciência da responsabilidade que estamos assumindo. Estamos cientes de todo o problema que existe interno, de financiamento, de rotina de trabalho, de fluxo, de produção que o hospital tem, mas nós não temos nenhuma dúvida que é problema resolvível, que tem solução e que será solucionado. Claro que, para isso, precisaremos contar com o nosso quadro de colaboradores, com a nossa equipe de profissionais, em especial a equipe de profissionais médicos, com a comunidade como um todo, na sua compreensão e na sua colaboração, e, primordialmente, num trabalho de marketing, divulgação, com a imprensa, que será a interlocutora entre a nossa gestão e a comunidade regional. Nós temos uma maneira de trabalhar e estaremos fazendo um redesenho da marca para potencializar esse marketing, constituindo um website para o hospital Bom Pastor, alimentado diariamente, e podem ter certeza que nós não fugimos, não abrimos mão da nossa forma de administrar, enquanto transparência integralmente. Todo aquele recurso que a comunidade estiver contribuindo, cooperando, participando no apoio à administração do hospital estará sendo visualizado através do site e resultará numa melhoria para o atendimento da população. Essa transparência é a nossa principal premissa, pode ter certeza disso.