Por Alaides Garcia dos Santos
“Saúde pública nós temos que fazer dentro da nossa própria casa, do nosso quintal, do nosso bairro, no local onde nós convivemos. É ali que se começa a fazer uma saúde de prevenção”.
Antônio Sartori, professor aposentado, depois de ter dedicado mais de trinta anos ao magistério, decidiu contribuir com sua comunidade, também, como político. Na eleição de 2012 concorreu a prefeito de seu município (Campo Novo), pela sigla PSB, integrando a chapa em coligação com o PTB, ficando na segunda colocação entre as três chapas concorrentes.
No dia 11 de fevereiro de 2014, em virtude da cassação do mandato do então prefeito, por decisão da justiça e nos termos da legislação pertinente, Sartori assumiu o cargo de prefeito.
Para falar sobre sua administração, o prefeito Antônio Sartori concedeu a seguinte entrevista:
De um modo geral, administrativa, estrutural e financeiramente, como está o município de Campo Novo?
A nossa administração teve início dia 11 de fevereiro de 2014, com a formação do secretariado. Ao assumirmos, nos deparamos com uma situação bastante delicada, o parque de máquinas sucateado, máquinas paradas por não terem condições de uso, uma frota deficiente e estradas em péssimas condições de trafegabilidade, além de ter sido um ano atípico em função da chuvarada. Em termos administrativos, desde o início tomamos medidas bastante drásticas, colocando a austeridade como meta principal, conduzindo a prefeitura como se fosse ela uma empresa, porque senão nós não teríamos condições de tocar.
Assumimos com o objetivo de dar muita transparência a todo o trabalho à frente da Administração Pública Municipal. Conseguimos reestruturar e renovar a frota, e consequentemente evitamos muitos gastos com oficina mecânica, que era uma das sangrias que ocorriam em nosso município, tendo em vista a precariedade das máquinas e dos veículos, enfim, se gastava muito e pouco retorno se tinha.
Numa conjugação de esforços com os secretários aos poucos começamos fazer as mudanças, mas estamos tendo muita dificuldade em administrar certas questões que há muitos anos foram sendo empurrados com a barriga, mas que não queremos que isso volte a acontecer. Muitas vezes somos taxados de brigões, mas brigamos por uma causa justa e nobre, que é defender, com unhas e dentes, com garra, aquilo que é do povo, que é da comunidade e do interesse dela. Estamos aqui para servir e é dessa forma que eu vejo que a Administração Pública deve se portar, juntamente com todos os seus secretários e funcionários.
Nós somos julgados, muitas vezes até de uma forma injusta, porque somos transparentes demais, mas eu sempre digo: o que nós temos aqui em mãos, na Administração Municipal, são coisas que dizem respeito à comunidade, ao bem comum e não visando a um interesse individualizado. Focamos na imparcialidade todas as questões que dizem respeito ao serviço público municipal, temos tido esse cuidado e, no secretariado, também há essa preocupação, de fazermos o melhor para todos, sem descuidar do cumprimento à Lei de Responsabilidade Fiscal. É nossa obrigação dizer para a comunidade quanto dinheiro veio, aonde ele está sendo aplicado, de que forma ele está sendo aplicado, e queremos, no final da atividade desenvolvida, prestar contas adequadamente, para que não se jogue o problema aos próximos gestores do nosso município.
O senhor elegeu como metas e objetivos a saúde básica, da família e preventiva, com ênfase no “Programa Mais Médicos”. Como está a questão da saúde pública aqui em Campo Novo?
Quando assumimos, tínhamos dois ou três médicos que faziam o atendimento no posto de saúde e no hospital, mas, por falta de contrato e contratação legal, não pudemos contar com esses profissionais assim que a gente assumiu. Tínhamos médicos contratados sem processo seletivo, sem ver se tinha dotação orçamentária, sem passar projeto pela Câmara de Vereadores e assim por diante. Então encontramos e tivemos essa dificuldade no início. Mas desde logo procuramos buscar a forma legal de contratar médico e saímos também em busca de um médico do programa Mais Médicos do governo federal. Constatamos que, embora num caminho inverso, a administração passada havia feito o pedido diretamente em Brasília. Então, com a interveniência da então Secretária Estadual de Saúde, Sandra Fagundes, Campo Novo foi contemplado com um médico do Programa, o Dr. Fernando. Mas, pela necessidade que temos, estamos lutando diuturnamente para conseguirmos mais um profissional do programa Mais Médicos.
A saúde preventiva é minha prioridade e do mesmo pensamento e atitude compactua a Secretária Municipal da Saúde. Saúde pública nós temos que fazer dentro da nossa própria casa, dentro do nosso quintal, dentro do nosso bairro, no local onde nós convivemos. E disso a comunidade deve ter consciência. É ali que se começa a fazer uma saúde de prevenção. Mas a população é bem atendida pelos médicos que temos. Infelizmente uma médica acabou indo embora, mas estamos buscando solucionar todos os problemas, inclusive no hospital, para que os médicos permaneçam aqui. Aliás, “o setor da saúde foi o que mais me desgastou até hoje, mas, felizmente, estou com uma Secretária que tem mudado bastante a situação da saúde no nosso município”. Hoje, por exemplo, já não se ouve muitas críticas em função daquilo que se ouvia no passado. Não que a secretária anterior ou a sua equipe tenham sido incompetentes. Muitos vícios se criaram e, para que não dizer, desleixo de certos funcionários, de acharem que não era tão importante se dar o atendimento que a comunidade realmente merece. E nós temos cobrado muito e vamos cobrar até o final da nossa gestão, que estamos aqui para servir e o funcionário também precisa entender que ele é um servidor público, ele está aqui para servir a sua comunidade e precisa estar atento a esse atendimento, não só bom, mas sim, ótimo. Muitas vezes até nos incompatibilizamos com funcionários em função da exigência que temos nesse sentido. Enquanto eu estiver aqui, eu vou priorizar, para que a nossa saúde seja feita de uma forma bastante ampla e que possamos atender as pessoas que chegam lá no posto de uma forma diferenciada, pois, se ela já vai lá com um problema de saúde e é mal atendida, ela volta pior do que ela chegou, e isso não pode acontecer. Tenho cobrado muito dos meus secretários e dos funcionários, pois é por aí que nós vamos começar a mudar a mentalidade que o povo tem do funcionário público. Hoje, não somos vistos com bons olhos, às vezes. Nós temos sido muito severos nesse sentido, porque temos que dar uma resposta ao nosso povo que tanto espera e tanto quer. Temos que humanizar o serviço público, humanizar o atendimento, para que o povo se sinta melhor e se sinta até mais em casa para tratar das suas dificuldades, os seus problemas e daquilo que ele tem como necessidade.
E na educação, o senhor está alcançando as metas e os propósitos traçados?
Nós temos feito um trabalho bastante voltado para o aperfeiçoamento das pessoas, investir no ser humano, porque eu entendo que todo funcionário público precisa desse aperfeiçoamento, para que seu trabalho seja melhorado. Quanto à educação, entendemos que ela é o alicerce, a base para o começo da transformação de uma sociedade, transformação de um país e a transformação do mundo. Nossas escolas, começando lá pelas escolas municipais, todas elas são inadequadas, construídas há muitos anos. Uma das nossas metas era a construção de uma nova escola. Felizmente começamos a construção, estamos construindo uma escola que será de uma grande utilidade. Terá seis salas de aula, com prédio administrativo, refeitório, almoxarifado, sala de vídeo, um pátio muito bem adequado, são oito mil metros de área. Mas, lamentavelmente ainda temos pessoas que enxergam a educação não como prioridade, não como investimento e sim ficam batendo martelo em cima de que educação é despesa. Mas não se vai a lugar nenhum sem educação. Não se constrói nada sem educação. Nós não vamos melhorar nada no País e no mundo sem educação. É por aí que nós começamos a dar os primeiros passos de desenvolvimento, de crescimento, de empreendimentos que possam vir trazer algo melhor para a nossa comunidade.
No setor de obras públicas, o senhor está conseguindo atender a demanda?
A conservação de estradas, de um modo geral, podemos dizer que, apesar de toda a situação atípica que vivemos o ano passado, com todas as intempéries, que foram desastrosas, muita chuva durante o ano, mesmo tendo que redobrar os esforços conseguimos manter as estradas em dia. Hoje, eu posso dizer que me sinto orgulhoso, apesar das dificuldades que ainda tenho, porque 90% das nossas estradas nunca estiveram em tão boas condições como estão hoje. Nossos agricultores estão contentes, tenho recebido muitos elogios, temos passado em estradas que até já tivemos que passar três ou quatro vezes as máquinas pra recuperá-las em função das chuvaradas, mas o que nós podemos dizer é que, se comparado com outras épocas, nós podemos dizer que conseguimos fazer as melhorias das estradas, com encascalhamento em maior quantidade e proporção do que se fez nos últimos dez anos.
O senhor foi alvo de duas CPIs na Câmara Municipal. Uma para apurar denúncia de irregularidades na prestação de serviços por uma empresa terceirizada, outra sobre seu afastamento do Estado sem autorização da Câmara. Procedem as denúncias?
Quanto à primeira pergunta a respeito da empresa, fizemos tomada de preço porque a cidade estava muito suja, em situação praticamente de abandono, quando assumimos. Tínhamos o ginasião que precisa ser aberto, ser cuidado, ter alguém ali disponível pra que o trabalho ande. Então através de tomada de preço fizemos a contratação para fazer esse trabalho. A Câmara entendeu que aquilo era uma situação ilegal. Cabe a ela fiscalizar. Mas não vou entrar no mérito da questão. Quanto à viagem, eu mandei um ofício para a Câmara de Vereadores pedindo autorização para me ausentar do Estado, ir à Brasília. Nessa viagem, três vereadores foram comigo, apesar de eu ter convidado a todos eles para me acompanharem. A ilegalidade argumentada para abertura da CPI é interpretação dos vereadores.
A imprensa regional noticiou, no ano passado, que o senhor teria sofrido ameaça de morte.
Fui ameaçado, me fizeram emboscada, me correram atrás. Fiz Boletim de Ocorrência Policial, está sendo investigado, conduzido pela polícia. Mas eu não me intimido com ameaças. Não vou deixar de fazer o que preciso fazer pela comunidade em função de ameaças. Não guardo mágoa nem rancor, sou adepto à verdade e tenho coragem de dizer a verdade.
Como é a sua relação com seu vice-prefeito João Pretto, e com o partido coligado, o PTB?
Durante minha ausência, estava em Porto Alegre, o presidente do PTB tomou algumas atitudes desagradáveis aqui dentro da Prefeitura. Ao retornar, conversei com o vice-prefeito, que pertence ao PTB. Coloquei a ele que a atitude do presidente criou uma situação de desconforto e desconfiança. Enfatizei o meu respeito para com ele, o que será sempre mantido, desde que separássemos certas coisas da nossa administração. Mas, por questão pessoal, do vice-prefeito, não conversamos mais, não me procurou mais. Eu tinha feito uma portaria para que ele também nos ajudasse realizar um trabalho dentro da secretaria, mas ele entendeu de outra forma “e que não gostaria de assumir”, e nós respeitamos a posição dele. Eu não fui compreendido, mas não carrego mágoa, rancor, ódio, ou alguma coisa parecida, muito pelo contrário, eu acho que nós temos que manter o foco em cima das causas do município.
No ano que vem teremos eleições. O senhor vai concorrer à reeleição?
Eu tenho um compromisso com Campo Novo até o final do ano que vem, que é cumprir esse mandato. A questão da reeleição ou da sucessão na prefeitura prefiro deixar que a comunidade pense sobre o assunto. Que a comunidade reflita sobre os seus líderes, seus representantes, quem ao chegar no comando do município tenha realmente condições de representá-la efetivamente, na forma que eles gostariam que fosse feito. Não tem me passado pela cabeça ser candidato à reeleição.