Por Alaides Garcia dos Santos
“O primeiro e grande problema com o qual nos deparamos, foi uma dívida estrondosa, de dois milhões e setecentos mil reais”.
“Os agricultores ficam apreensivos, pois se vão colher bem, também vão querer uma estrada boa para poder escoar a sua safra”.
Cledi Marli Pires Savariz, professora aposentada, prefeita pela segunda vez, há dois anos no exercício do segundo mandato (intercalado), para falar sobre a situação administrativa do seu município de Inhacorá, concedeu a seguinte entrevista:
Melhorar a qualidade de vida da população era uma abrangente meta de sua administração. Está conseguindo alcançá-la?
Há dois anos assumimos a administração encontrando o município de Inhacorá numa situação crítica. Cada Prefeito ou cada Administração, quando entra num governo novo, vem cheio de sonhos, cheio de expectativas, mas muitas vezes se depara com sérias dificuldades. O primeiro e grande problema com o qual nos deparamos, foi uma dívida estrondosa, dois milhões e setecentos mil reais, com uma folha de pessoal atingindo 55,23% do orçamento, excedendo, portanto, o limite legal, sem créditos para comprar absolutamente nada, os prédios públicos danificados pelo vendaval que aconteceu em setembro de 2012. Prédios públicos como o ginásio, escolas, creche, Unidade Básica de Saúde, totalmente danificados, e tinham que ser arrumados. O parque de máquinas sucateado. Mas, com a equipe que formamos, diretores, secretários e funcionários, com o apoio do sempre solícito vice-prefeito e dos vereadores, começamos um trabalho de organização e de controle, porque se não houver organização e controle, perde-se o fio da meada, e não tem como caminhar. Hoje, da dívida que recebemos já pagamos mais de um milhão, o que não é fácil para um município pequeno como o nosso. E o município tem que seguir em frente. Mas a administração nova tinha que caminhar. Eu tinha que atender saúde, educação, assistência social, agricultura, obras, enfim, tudo. Trabalhamos sim, bastante, com dificuldade, mas conseguimos. O que gastamos, o que investimos, o que realizamos em 2013, tudo foi pago. Não devo nada de 2013, a não ser aquelas dívidas que tivemos que negociar, reparcelar INSS, no caso, tem RGE que veio ainda da outra administração. Essas são parceladas, pagas por mês.
O FPM foi caindo, e o município depende exclusivamente dele, porque o ICM é muito pouco que se arrecada, pois não temos indústria, só temos as firmas e a Prefeitura. Mas, mesmo com todas as dificuldades, cumprimos também, em 2014, as metas fiscais, bem como as metas para responsabilidade fiscal, tanto que na educação gastamos em torno de 26,3%, saúde fechamos com 18,89%, onde a média é de 15% e, a folha de pagamento de pessoal ficou em torno de 48%. Então que nesses dois anos, com muito sacrifício, muito trabalho, muito controle, conseguimos sanar esses problemas que estavam existindo. Claro que gostaríamos de fazer obras e investimentos. Encontramos a construção do pavilhão da agricultura familiar iniciado e abandonado, oriundo de verba federal e tínhamos que retomar, chamar um empreiteiro, pagar contrapartida de trinta e poucos mil reais, para podermos continuar a obra, e assim por diante.
E a questão da saúde pública, como está?
O povo precisa de saúde, e nós tentamos fazer o melhor dentro das nossas possibilidades, o possível e até o impossível. Quando assumimos, a Unidade Básica de Saúde era triste de se ver, os espaços e acomodações físicas não ofereciam nenhuma condição para atendermos o público. Mas já existia uma licitação e recursos disponíveis para reforma e ampliação do prédio, então tomamos as providências e a obra foi realizada, e aí sim, passamos a ter um espaço confortável e adequado, digno de uma Unidade Básica de Saúde. Através da Consulta Popular conseguimos mais uma verba, já está licitado e, em breve estaremos dando início a novas ampliações e adequações físicas, com sala de reuniões, garagem e outras melhorias.
Não tínhamos nenhum médico, então contratamos o Dr. Maçalai, depois conseguimos um cubano; não tínhamos equipe de agentes de saúde, tivemos que organizar tudo. Adquirimos mais uma ambulância nova, mais um outro carro de sete lugares também para a saúde, oferecendo mais segurança aos pacientes que diariamente são transportados para unidades de saúde de outros municípios.
Como os médicos administram a questão da internação, já que a cidade não dispõe de hospital?
As internações são feitas no hospital de Chiapetta, sendo lá o nosso primeiro aporte, onde mantemos um convênio consagrado com o município. Não dando ali, vai pra Ijuí ou também, muitas vezes, quando é cirurgia, mandamos para o hospital de Santo Augusto, através das AIHs e tudo o mais.
Como o município está administrando o corte de verbas por parte do Estado?
A situação é muito complicada, abrangendo todos os municípios. Isso nos exige intensificar o controle e critérios cada vez mais adequados quanto às exigências e real necessidade dos pacientes. Portanto, por enquanto estamos mantendo e, na medida do possível continuaremos prestando o melhor atendimento aos nossos munícipes. Nossa esperança é que pelo menos o dinheiro da saúde retorne, que seja pago, para podermos continuar atendendo nossa comunidade.
E a educação, em toda a sua complexidade (setor pedagógico, estrutura física das escolas, transporte escolar, merenda escolar, enfim), como está andando em seu município?
Eu tenho como princípio que a educação é a base de tudo. É através dela que se pode ter um Município, um Estado, um País melhor. Em nosso município, todo o ensino fundamental é municipalizado, desde a creche até o 9º ano. Só a estadual aqui é nível médio, esse é do Estado. Procuramos oferecer aos nossos professores, através da formação continuada, de cursos e de palestras, um aperfeiçoamento constante. Os nossos professores são todos bem preparados, com formação de nível superior, muitos já pós-graduados, portanto, bem qualificados e trabalham intensamente em prol da nossa educação. Nós, através da Secretaria da Educação, proporcionamos todo o aparato em nível de material, de equipamento que eles precisam para que possam desenvolver um bom trabalho. Quanto aos prédios, no primeiro ano já conseguimos arrumar o que estava faltando. Só temos uma escola no interior, a outra, a maior, é na cidade. Temos o prédio destinado à escola de educação infantil, que está pronto, mas ainda falta vir os equipamentos que, devido à transição de governo houve um atraso, mas esperamos que venha até a metade deste ano. Está em andamento a cobertura de uma quadra que irá beneficiar as crianças. Para o transporte escolar todos os anos os ônibus são revisados, objetivando a segurança dos alunos.
Estamos no aguardo da liberação de uma verba do governo federal para adquirirmos mais um ou dois ônibus novos para o transporte escolar Quanto à merenda escolar, primamos pela qualidade, parte dela é adquirida da agricultura familiar e o resto é tudo licitado; temos uma nutricionista e tudo é feito de forma muito balanceada e com muito carinho pelas nossas cozinheiras, nossas domésticas, nossas serventes da escola.
No setor de obras, estradas rurais e as vias urbanas, como se encontra o município?
Eu gostaria de dizer que as nossas estradas estão ótimas, mas, infelizmente, eu não posso afirmar isso. Foram patroladas várias vias, colocadas pedras, socorridas as partes de mais urgência e agora esperamos a melhoria do tempo para continuar esse trabalho. Estamos com duas patrolas agora arrumadas e boas. Com certeza, para a safra, as estradas vão estar boas para poder fazer o escoamento; os agricultores ficam apreensivos, pois se vão colher bem, também vão querer uma estrada boa para poder escoar a sua safra. Na questão urbana, estamos aguardando uma parte da verba de duzentos e cinquenta mil reais (do deputado Jerônimo), para calçamento em duas vilas, a Aliança I e a Aliança II, com os respectivos passeios. E outra verba, também de R$ 250 mil, oriunda da senadora Ana Amélia, também vamos investir lá, totalizando R$ 500 mil, mais a contrapartida do município. Há outra verba que está para vir, destinada a calçamento.
Quanto à limpeza urbana, muitos perguntam por que não se faz asfalto que fica mais bonita a cidade. Fica sim. Mas devido a rede hidráulica que ainda está sendo negociada com a CORSAN, no momento é inviável colocar asfalto, uma vez que em algum momento ele terá que ser removido para realização dos serviços de tubulação e canalização.
E o sistema habitacional?
Aqui já foi feito bastante. E agora estamos com um projeto para as famílias ribeirinhas do riacho, que são as famílias vulneráveis, que tem de ser retiradas de lá. Foi feito o projeto e já estão andando as obras. Começamos esse projeto ano passado e já está sendo construído. São dezoito casas que ficam aqui perto do ginásio, tem o Bairro Santo Expedito I, onde foi feito antes, e o Santo Expedito II, onde estarão essas casas e essas famílias que serão transportadas para cá. Esse projeto prevê calçamento, passeio, pátio cercado e jardinagem. E temos outros projetos para serem começados, de umas casas pulverizadas, que se diz, que as pessoas já possuem o terreno e foram feitos os projetos das casas. Esse ainda não iniciou, mas logo estará sendo assinado.
Como é o relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo?
Com a nossa coligação, nós temos a maioria na Câmara, e há um bom entendimento. Os projetos que enviamos para a Câmara foram todos aprovados, mesmo a mudança para a Corsan, que é um ponto polêmico, um ponto que tem que ter coragem, mas conversamos com os vereadores e eles entenderam. Então que o relacionamento com a Câmara é bem tranquilo.
No ano que vem teremos eleições. A senhora será candidata à reeleição?
Eu não pretendo concorrer à reeleição, muitos me perguntam isso. Tem que deixar amadurecer, ver como é que vai, mas ainda tenho um tempo; enquanto isso vou procurar fazer o melhor para minha administração. Mas, na realidade eu não pretendo ir à reeleição, não pretendo.
E quanto ao setor agrícola, qual tem sido a contribuição do município?
Estamos com processo de licitação para aquisição de um trator para a Patrulha Agrícola, está sendo analisada a aquisição de um rolo compactador para melhoria das estradas interioranas, adquirimos vários equipamentos com verba da consulta popular e do governo federal, ensiladeira nova, distribuímos calcário, insumos para os pequenos agricultores e contribuímos com todo aquele aparato para silagem, voltados principalmente para a base, que é a nossa agricultura familiar.