Expressão pejorativa virou gentílico para nascidos no Rio Grande do Sul
Por Leandro Staudt – GZH
Em edição da Revista do Globo em 1941, foto para apresentar o típico gaúcho.Wolfgang Hoffmann Harnisch Filho / Revista do Globo
A celebração de 20 de Setembro é mais do que a comemoração da Revolução Farroupilha. A guerra de 1835 a 1845, que provocou divisão no Rio Grande do Sul, permanece causando divergências. Entendo que o feriado é o momento de celebração do gaúcho, dos pontos que nos unem, dos costumes ao orgulho do nosso pago.
Pelo sotaque, somos facilmente identificados em outros rincões do Brasil. Nem precisamos de pilcha ou da cuia de chimarrão. O gaúcho e a gaúcha carregaram com orgulho a sua origem. O gentílico pode até virar apelido.
Nem sempre foi assim. Vocês já devem ter ouvido várias versões para a origem da palavra “gaúcho”. O termo era depreciativo. Em outros tempos, uma forma de rebaixar o indivíduo na sociedade.
No livro Nativismo – um fenômeno social gaúcho (Bastos Produções), o folclorista Luiz Carlos Barbosa Lessa cita que “à margem da sociedade pastoril desenvolveu-se de um lado e outro da fronteira luso-espanhola a casta de índios vagos, favorecida pelo boi que lhes assegurava a subsistência e pelo pingo que lhes dava mobilidade”.
O gaúcho é um indivíduo que surgiu da mescla dos povos indígenas e dos estrangeiros. Barbosa Lessa escreveu que, “pelo viver despreocupado, de gáudio ou gozo, deram-lhe os espanhóis inicialmente o nome de gaudérios”. Em outro momento, “colonos das ilhas Canárias trazidos para Montevidéu passaram a chamá-los pelo nome que, lá, definia os habitantes autóctones: guanches“.
O folclorista destacou a anotação de um integrante da comissão demarcadora de limites do tratado de 1777. José de Saldanha descreveu em seu diário que “gauches” era uma “palavra espanhola usada neste país para designar vagabundos ou ladrões do campo que matam os touros chimarrões, tiram-lhes o couro e vão vender ocultamente nas povoações”.
Com o tempo, os peões e até os patrões das estâncias passaram a ser denominados gaúchos. O termo deixou de ser pejorativo.
O gaúcho é conhecido pelo apego ao pago. No latim, “pagus” significa aldeia ou lugar pequeno. Barbosa Lessa escreveu que “o pago não se correlaciona a nenhum agrupamento político regular, tal como os distritos, subdistritos ou quarteirões”. O território é formado por “algumas casas de estância e respectivos galpões, bem como os ranchos de posteiros e agregados”, além de “alguma casa de comércio” e “um bolicho, modesta bodega”. Como regra geral, “precisa incluir um cemitério”, sem obrigatoriamente dispor de capela ou igreja.
O 20 de Setembro é o dia de todos os gaúchos, no pago ou longe.