Profecia do Brizola
Em 2002, após proclamada a vitória de Lula à presidência da República, Leonel Brizola fez a seguinte profecia: “Vão se levantar contra Lula forças de direita, reacionárias e muito duras que, amanhã, podem se alinhar com o pensamento do presidente americano (na época George Bush) e não vejam outra saída senão esmagar o governo Lula”. Pois bem. Não foi de qualquer um a predição, foi de Leonel Brizola, aquele que mobilizou a população e constituiu a “Cadeia da Legalidade”. A previsão do caudilho não aconteceu nos primeiros dois mandatos de Lula (2003/2010). Mas agora, em 2022, tão logo anunciada a vitória de Lula, a profecia de Brizola deu seus primeiros sinais. Multidões por todo o país foram e permanecem nas ruas, de forma pacífica, contra a entrega do Brasil ao comando de um presidente ex-presidiário, condenado em três instâncias e por nove juízes, por corrupção e lavagem de dinheiro, podendo levar ao que previu Brizola.
Incertezas
Reconheçamos que nos governos do PT (Lula e Dilma Rousseff) houve avanços na capacidade de enfrentar a corrupção, eis que no período foi criada a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção e a Lei de Combate ao Crime Organizado. Houve também o fortalecimento da capacidade técnica de instituições como a Polícia Federal. Órgãos de Controle, em especial o Ministério Público Federal e a Procuradoria-Geral da República tiveram independência de ação. Mas, “paradoxalmente”, quando estava na presidência, o PT protagonizou e se envolveu nos maiores esquemas de corrupção. São feitos inegáveis e que tiveram graves consequências políticas e econômicas. A eleição de Lula e a volta do PT ao governo trazem incertezas sobre a pauta anticorrupção.
Então (?)
Então temos uma interrogação, agora que o próprio estará de volta ao poder, de qual PT irá governar: aquele que avançou a capacidade de enfrentar o combate aos desvios, promoveu transparência e a integridade das instituições ou aquele que participou, com protagonismo, de enormes esquemas de corrupção?
Político não dorme de touca
Há quem indague o que Bolsonaro vai fazer, sem mandato, a partir de 1º de janeiro. Mas vejam como essa engrenagem política funciona. Costumo dizer que “político não dorme de touca”, está sempre esperto. Tão logo deixar a presidência, Bolsonaro deverá ocupar a condição de presidente de honra do Partido Liberal (PL), e receberá um escritório com assessores, carros à disposição e uma remuneração em torno de R$ 39 mil. Um exemplo disso é o Lula, que desde a fundação do PT ele é remunerado pelo partido. Além dos valores do partido, Bolsonaro terá seus R$ 42 mil que recebe com as aposentadorias de militar e de deputado. Também terá direito a oito funcionários por ter sido presidente da República. É o reconhecimento do PL, pois graças a filiação de Jair Bolsonaro, o partido fez as maiores bancadas da Câmara e do Senado. Na Câmara, foram eleitos 99 deputados. No Senado, foram eleitos 8 senadores. Desbancou e superou com imensa folga os maiores partidos no Legislativo.
Aliás
Com os rumores de que poderia apoiar o governo Lula (PT), que se inicia em janeiro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, convocou uma coletiva de imprensa e disse que seu partido será oposição ao novo governo. Além disso, disse que Bolsonaro será o presidente de honra do PL e que ele terá uma função remunerada, com todas as condições para que ele continue sua militância na legenda. Bolsonaro é um cabo eleitoral de 58 milhões de votos, ele é o nosso capitão e vamos segui-lo, disse Valdemar.
Já olhando para 2026
Segundo notícia veiculada no FOLHAPRESS, uma das tarefas às quais Jair Bolsonaro (PL) deve se dedicar após deixar o cargo, em janeiro de 2023, será a de ajudar o PL a crescer nos municípios. Embora o partido tenha saído da eleição como dono das maiores bancadas na Câmara e no Senado e com dois governadores, sua presença em prefeituras ainda é modesta. Na eleição de 2020, o PL elegeu 345 prefeitos, nenhum deles em capitais. Bolsonaro, assim, começaria desde já a promover lideranças locais da legenda, o que também atenderia a seu projeto de permanecer em evidência no cenário nacional e consolidar-se como maior referência no campo da direita. Aliados já começam a mencionar que ele deve ser candidato novamente a presidente em 2026.
Não existe almoço grátis
O deputado federal Sanderson (PL/RS), enviou expediente ao Procurador-Geral da República solicitando investigação para apurar o motivo e em que circunstâncias houve o empréstimo de aeronave particular do empresário “José Seripieri Júnior a Luiz Inácio Lula da Silva”, para viajar ao Egito na manhã de segunda-feira (14). No ofício enviado à PGR (tenho cópia em mãos), Sanderson assinalou que o valor do aluguel de uma aeronave desse porte (Gulfstream 600) gira em torno de US$ 10 mil a hora, tratando-se de um fretamento milionário, cujas circunstâncias merecem urgente apuração, notadamente por ambos possuírem passagem criminal justamente pela prática de corrupção ativa e passiva. Como não existe almoço grátis, a preocupação do deputado federal é proteger o país de relações espúrias como essas, nada republicanas, que já custaram muito à nação brasileira e que, mesmo sem ter assumido a presidência, Lula já dá sinais de que não aprendeu nada com os escândalos de corrupção que protagonizou. Pela gravidade dos fatos, Sanderson pediu, inclusive, urgência na apuração.