A história se repete
O filósofo Karl Marx, em 1852, cunhou uma frase que perdura até nossos dias: “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. E de fato, “a história se repete”, e normalmente ao inverso, no sentido contrário, e por vezes, com requintes de ironia. A frase de Marx, ainda que se refira a outros contextos e à conjuntura política da França do século XIX, serve como reflexão, a partir da história, sobre o momento que presenciamos no contexto da política atual de Santo Augusto.
A história se repete, ao inverso
Aqui em Santo Augusto estão definidas três pré-candidaturas para prefeito, das quais duas são mulheres (Elenice pelo PT, e Lilian, pelo DEM/PDT/PSDB/PSD e Cidadania). Mulheres que ainda não têm história na política, marinheiras de primeira viagem, porém, cheias de esperança e imbuídas do firme propósito de promover renovação no sistema político/administrativo municipal. Já o pré-candidato à reeleição Naldo Wiegert (MDB), tem muitas histórias políticas “que se repetem”, com idas e vindas, sempre buscando o melhor espaço, o espaço que serve à sua gula e de seu partido, de se manter no poder. Sempre saiu na frente e se deu bem. “Agora, pelo que parece, seus apoiadores de sempre, lhe deram uma ignorada daquelas, e foram eles que saíram fora”. Mas vamos ao histórico do habilidoso estrategista político. Naldo concorreu pela primeira vez em 1992, quando seu então partido PFL (hoje DEM) fez parte da Aliança Pró Santo Augusto (PP/PFL/PMDB) e foi eleito vereador. Em 1996, pela mesma aliança, foi eleito prefeito, aí já tinha guinado para o PMDB. Em 2004, “abandonou a Aliança” e concorreu a prefeito, coligado com o PTB, “contribuindo para a derrota da Aliança”, favorecendo, estrategicamente, a vitória do PDT. Em 2008, dentro da coligação PMDB/PDT, foi eleito vereador. Em 2012, na coligação PDT/PMDB, Naldo foi eleito vice-prefeito. Em 2016, “deixou o PDT de lado” e lançou-se candidato a prefeito impulsionado por uma composição de sete partidos (PMDB/PP/DEM/PPS/PSB/PSDB/PTB), que o colocaram pela segunda vez na chefia do Poder Executivo. Agora, em 2020, “egoísta e se achando a cereja do bolo, não abre mão de concorrer à reeleição”. Então, “é a história que se repete, só que no sentido inverso”, vez que, por ser inflexível, foi isolado pelos parceiros DEM/PSDB que o ignoraram nas suas pretensões e formaram, sem ele, a coligação DEM/PDT/PSDB/PSD e apoio do Cidadania”. Razões fortes devem existir para tanto apego e ânsia de permanecer no poder. Quais?
A propósito
Não dá pra entender. As mulheres reclamam maior representatividade do gênero nas decisões políticas. Mas se negam a concorrer a cargo eletivo. Alguns partidos nem conseguem preencher o mínimo de 30% de candidatas a vereadoras. As mulheres são maioria, 51,9% da população brasileira. Em 2016, dos mais de 16,5 mil candidatos a prefeito no Brasil, apenas 13% eram mulheres. E dos 463 mil candidatos a vereadores, 33% eram mulheres. No RS são 5.490 cargos eletivos. Só 739 ou 13,4% são ocupados por mulheres. Elas não buscam o espaço!
Gol contra
Iniciou no dia 31.08 (segunda-feira) e vai até o próximo dia 15, o prazo para a realização das convenções partidárias que definem os candidatos que buscam mandato de prefeito e vereador. Dado a importância da figura do prefeito municipal como chefe do poder executivo, e dos vereadores que têm como função legislar e fiscalizar os atos do executivo, o primeiro passo é a boa indicação dos candidatos na convenção; o segundo passo é a que compete ao eleitor, o voto consciente enquanto fruto direto da avaliação dos candidatos e coligações, é uma arma importantíssima no enfretamento à corrupção, ao desmando, à coisa mal feita e a falta de capacidade administrativa, tão maléficos à coletividade. Assim, votar sem consciência equivale, por exemplo, a um jogo de futebol, ao chutar para o gol sem se preocupar com questões básicas como direção da bola e força do chute. Em muitos casos, pior do que chutar para fora, é marcar um gol contra. Portanto, vote com consciência. Não marque gol contra.
Participação cidadã
A campanha eleitoral, que se inicia no dia 27 de setembro, motiva a reflexão de todos os eleitores que passam a olhar com interesse o processo eleitoral, assim como dele procuram participar com empenho e responsabilidade, pois um dos desafios políticos é a participação da cidadania, não só na campanha, mas no acompanhamento da administração pública. Para uma campanha eleitoral, nada melhor do que contar com candidatos dispostos a expor suas propostas com sinceridade, e eleitores interessados em discerni-las em vista do voto. Se assim acontecer de verdade, estaremos todos, candidatos e eleitores, livres de outros expedientes usados para conseguir votos. Por isso, o melhor remédio nesse processo democrático é o voto consciente, conquistado pela força da persuasão em torno das propostas apresentadas.
O poder pelo poder
Um fato curioso nesse período pré-campanha e de lançamento de candidaturas é as razões por que querem chegar ao poder. Os dirigentes partidários não demonstram um objetivo a não ser o de conquistar o poder. Alguns partidos e/ou coligações não dão a mínima para a qualidade, para o perfil de bom gestor, do bom legislador, compatível com o tamanho e importância dos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores. Pelo contrário, dizem até que para conquistar voto esses requisitos não contribuem, que o eleitor não quer saber disso. Só que, sem projeto e proposta clara e viável de governo e sem o indispensável cuidado de apresentar como candidatos pessoas com perfil para o exercício do mandato eletivo, não há muito o que esperar. Mas salvem-se os bons, e fiquemos na torcida pelo lançamento de bons candidatos, para que o eleitor também tenha a oportunidade de fazer uma boa escolha.
Voto de cabresto e coronelismo
O voto de cabresto é um mecanismo de acesso aos cargos eletivos por meio da compra de votos com a utilização da máquina pública ou abuso de poder econômico ou ameaça. É um mecanismo muito recorrente no interior do Brasil como característica do coronelismo. O voto, instrumento da soberania popular, representa o meio pelo qual exercitamos o sufrágio universal, ou seja, o direito a votar e ser votado. É por meio dele que elegemos nossos representantes políticos em âmbito municipal, estadual e federal. Atualmente, o art. 14 da Constituição Federal de 1988 prevê o voto direto e secreto, com valor igual para todos. Porém, nem sempre foi assim.
Como funcionava?
O voto durante a República Velha era algo restrito às elites. Mas quem era a elite daquela época? Os grandes fazendeiros donos de terras. Esse domínio econômico e político da elite agrária ficou conhecido como “coronelismo”, tanto é que a República Velha é lembrada até hoje como a república dos coronéis. O voto de cabresto foi a ferramenta utilizada pelos coronéis para controlar o voto popular, por meio de abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais, sendo o povo coagido a votar nele ou no seu candidato. Eram verdadeiros espaços de “mando e desmando”, onde a decisão dos coronéis locais determinava a ação da população. O voto naquela época era aberto, de tal modo que era possível ver em quem o eleitor iria votar. Valendo-se dessa “brecha legal”, os coronéis deslocavam jagunços para os locais de votação para ver em qual candidato o eleitor iria votar. Caso contrariasse os interesses dos patrões, o eleitor sofria retaliações, como: agressões físicas, perda do emprego, despejos de suas casas e suas famílias eram castigadas.
Voto de cabresto, hoje
Do final da república dos coronéis até os dias de hoje, muita coisa mudou. Hoje o voto não é aberto, não há mais como saber em quem o eleitor votou, então é possível escolher de forma livre e direta o candidato preferido. Porém, na prática, podemos identificar situações que nos remetem a um voto de cabresto moderno, mesmo com tantos avanços e conquistas. O fenômeno ocorre com maior frequência em cidades do interior brasileiro, onde a principal fonte de renda é a prefeitura. As pessoas podem se ver obrigadas a votar em determinado candidato, talvez não mais pela coerção física, mas sim pela força psicológica, o medo. O medo de se verem sem emprego e, consequentemente, sem renda paralisa as pessoas que preferem votar em quem lhes é imposto do que enfrentar o poder em prol de seus ideais. Outros, por sua vez, diante da realidade de miséria em que vivem, “optam” por aquele candidato que possa suprir suas necessidades básicas em curto prazo, por exemplo: entrega de cestas básicas, pagamento de contas de água e luz, compra de material de construção, promessa de emprego, entre outros. Tudo isso se configura como um voto de cabresto moderno. Contudo, graças ao fortalecimento da Justiça Eleitoral, tais práticas podem e devem ser denunciadas e seus responsáveis punidos.
AliásNotícias chegadas até à coluna dão conta de que no vizinho município de São Valério do Sul impera o coronelismo. Olho nele. Se verdadeiro, a população deve reunir provas e formalizar denúncia, incansavelmente, e sem medo, junto ao Ministério Público Eleitoral.
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