Condenação inédita
A Justiça do Trabalho condenou a Arquidiocese da Paraíba a pagar uma indenização de R$ 12 milhões por casos de exploração sexual contra menores de idade. Padres e até o ex-arcebispo estão envolvidos no escândalo. A denúncia foi feita em 2014, através de uma carta. Era para ela ficar dentro da Igreja, mas acabou indo parar na Justiça. Foi na Justiça Trabalhista que o processo avançou. O ato é gravíssimo, “são adolescentes que acreditaram naquela instituição a representação de Deus”, afirmou o procurador do Trabalho, Eduardo Varandas. Ao programa Fantástico, da Rede Globo, uma das vítimas, ex-seminarista, contou que cedeu às investidas pela vontade de se tornar padre. Ela afirma que havia relações sexuais e que se envolveu com três padres. A palavra de ordem do abusador era, “passando por esse processo você vai conseguir chegar a ser padre”. Meio que uma troca de favores, como se isso fosse cabível.
Passado a limpo
Isso precisa ser passado a limpo pela sociedade. A Igreja, a meu ver, deve essa explicação ao mundo. Agora, independentemente do fator de quem causou isso ou aquilo a grande preocupação do Ministério Público é evitar que danos como esse continue sendo uma rotina na vida de crianças e adolescentes, afirmou o procurador.
Precaução e lamento
Um ex-seminarista (vítima dos abusos), hoje com 27 anos, se formou em administração e direito. Precavido, ele diz que saiu do seminário por medo de se tornar um padre abusador. “Eu tinha muito medo de me tornar aquilo que fizeram comigo”, disse. Já a autora da carta de denúncia, que deu origem a toda investigação, diz que continua católica, confiando numa Igreja que saiba se purificar. “Eu queria que a igreja se limpasse. Eu não denunciei a Igreja, eu apenas fiz um pedido de socorro, acode a nossa Igreja, a Igreja tá sofrendo. Eu queria que limpasse, mas eu queria que limpasse dentro da igreja, fechada e não para o mundo porque a nossa Igreja é santa, nossa Igreja não merece isso que tá acontecendo, lamentou a denunciante.
Uso social
Os R$ 12 milhões objeto da condenação deverão ter uso social, uma vez que serão revertidos para o fundo da infância, da adolescência e instituições congêneres que trabalham com crianças sexualmente exploradas e atuam na recuperação psicológica, na reinserção social, conforme relatou o procurador do Trabalho Eduardo Varandas.
A propósito
Tão grave quanto a prática da pedofilia é a atitude da hierarquia católica, que protege padres denunciados por suas vítimas, transferindo-os de paróquia, e estabelecendo a “política do silêncio”.
Raízes da impunidade
A condenação ocorrida lá na Paraíba foi sim uma coisa rara, pra não dizer inédita, porque geralmente os casos são acobertados. As raízes da impunidade residem na própria política da Igreja ao lidar com as denúncias de abuso sexual. O Código de Direito Canônico orienta a hierarquia a manter o silêncio e até a encobrir a transgressão para evitar escândalos, buscando apenas salvar a imagem da Igreja e do sacerdócio.
Não generalizar
Sabido é, que não tem cabimento e nem justificativa a prática de pedofilia pelo clero da Igreja, e esses envolvidos devem deixar de imediato o exercício do sacerdócio, e responder pelos crimes cometidos; no entanto, cuidemo-nos para não generalizar o erro de um pequeno percentual do clero, como se fosse algo epidêmico na Igreja.