Com o impasse no Patriota, Bolsonaro já admite que pode voltar ao Progressistas (PP). O partido é comandado pelo senador Ciro Nogueira (PI), que assumiu a Casa Civil do governo. Principal legenda do Centrão, o PP já teve Bolsonaro em seus quadros entre 2005 e 2016.
“Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível. Então, o PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa”, disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Grande FM, do Mato Grosso do Sul.
Na Casa Civil, Ciro Nogueira tentará ampliar a viabilidade política de Bolsonaro. Isso porque outros integrantes do partido avaliam que, atualmente, o cenário é de muita dificuldade para o presidente se reeleger em 2022. Outro impasse a ser resolvido por Nogueira diz respeito aos acordos políticos feitos pelos diretórios estaduais do PP, principalmente no Nordeste e Norte, que giram em torno de partidos que podem concorrer contra Bolsonaro.
Outro entrave para a filiação de Bolsonaro ao PP é como explicar para o eleitor mais ideológico do presidente que ele pretende ingressar em um partido do Centrão, identificado com a “velha política”.
Para tentar diminuir essas críticas, aliados de Bolsonaro afirmam que o presidente pretende fazer uma mudança de discurso nas próximas semanas. Recentemente ele defendeu que o grupo de partidos fisiológicos do Congresso. “O Centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo, fui do PTB, fui do então PFL [hoje DEM]. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PPB. O PP, lá atrás, foi extinto, depois nasceu novamente da fusão do PDS com o PPB, se eu não me engano”, disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Banda B, de Curitiba.
Negociações estaduais do PP podem afastar Bolsonaro do partido
Historicamente, as executivas estaduais do PP são liberadas para fecharem alianças de acordo com os interesses locais. No entanto, com a possibilidade de candidatura de Bolsonaro, poderia haver um impasse nos estados onde a legenda já vinha costurando alianças com outros presidenciáveis como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e até com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
De volta ao jogo político, Lula tem costurado alianças que lhe garantam palanque em diversos estados, principalmente no Nordeste. Por isso, a chegada de Ciro Nogueira na Casa Civil e a possibilidade de filiação de Bolsonaro já deixa apreensivo integrantes do PP em estados como Bahia, Maranhão e Pernambuco.
Com caravana marcada para o final deste mês em estados do Nordeste, Lula pretende encontrar com integrantes do PP de forma reservada. Entre eles o vice-governador da Bahia, João Leão. De acordo com líderes petistas, o PP não tem unidade no apoio a Bolsonaro e isso será demonstrado nos acordos regionais.
Já no Ceará, o PP compõe a base do governador Camilo Santana (PT) e os dirigentes partidários são próximos do pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes. No estado, a legenda é presidida pelo deputado federal AJ Albuquerque, filho do secretário estadual de Cidades do Ceará, Zezinho Albuquerque.
Outra região que tem demonstrado insatisfação com a filiação de Bolsonaro é o estado de São Paulo, onde o PP compõe a base do governador João Doria (PSDB). O tucano irá disputar as prévias do partido em novembro para tentar se candidatar ao Palácio do Planalto em 2022.
Aliados de Bolsonaro admitem que a principal condição para ele se filiar a um partido é que o seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tenha o controle do diretório paulista. O mesmo ocorreria no Rio de Janeiro, reduto eleitoral do presidente e do senador Flávio Bolsonaro, além do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Desafeto de Bolsonaro, o deputado Fausto Pinato (SP) é um dos principais nomes dentro do PP contrários à filiação do presidente. O entorno de Fausto Pinato admite que o parlamentar tem trabalhado para vetar a entrada de Bolsonaro na legenda.
Democracia Cristã vira alternativa
Aliado de Bolsonaro e sabendo das dificuldades para filia-lo ao PP, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também entrou nas articulações. Recentemente, Lira procurou o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), para tentar uma reaproximação de Bolsonaro com a legenda que abrigou sua candidatura em 2018.
Contudo, Bivar se mostrou resistente e tem afirmado que sua legenda já escolheu seu destino para 2022 e aposta na candidatura do apresentador de TV José Luiz Datena, recém-filiado. O PSL negocia ainda a filiação de membros do Movimento Brasil Livre (MBL), entre eles o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), desafeto de Bolsonaro. O PSL também estreitou os laços com o MDB, que estuda lançar a candidatura da senadora Simone Tebet (MS).
Com esse impasse, Lira sugeriu que Bolsonaro buscasse um partido pequeno e que o PP pudesse apenas oferecer a estrutura partidária para sua campanha. Na última semana, Bolsonaro esteve reunido com o presidente nacional do Democracia Cristã, José Maria Eymael.
Nanico, o Democracia Cristã não possui representantes na Câmara dos Deputados nem no Senado Federal. Portanto, não conta com repasses do fundo eleitoral para financiar seus candidatos. Em 2018, Eymael lançou disputou a presidência pela sexta vez, mas obteve apenas 41.710 votos.
Na semana passada, Bolsonaro confirmou que teve um encontro com Eymael, mas sinalizou que não houve acordo. “Hoje, por exemplo, conversei com o José Maria Eymael, do PSDC [antigo nome do atual Democracia Cristã]. Me disse que irá disputar a Presidência de novo”, afirmou Bolsonaro.
Aos seus interlocutores, Lira tem admitido que está cada vez “mais caro” conseguir um partido para abrigar a candidatura de Bolsonaro. No entanto, tentará costurar a filiação seja no PP, Democracia Cristã ou em outro partido nanico.
Gazeta do Povo