Oficial da reserva da BM, Edison Estivalete defende a escola em 2 turnos.
G1 traça os perfis dos oito candidatos ao governo do Rio Grande do Sul.
Felipe TrudaDo G1 RS
Em uma estreita rua vicinal paralela à ERS-040 em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um homem trajado conforme a indumentária gaúcha surge para abrir um portão cercado por discreto muro pintado de branco, mas acinzentado pelo tempo aliado à poluição causada pelos veículos que ali transitam. Sorridente, o candidato do PRTB ao governo do estado, Edison Estivalete Bilhalva, convida a reportagem para entrar. O portão esconde uma mansão cercada por um extenso terreno. Mas se engana quem pensa que o tenente-coronel da reserva da Brigada Militar reside lá. O casarão foi adquirido para investimento. "Queria recebê-los em minha casa em Porto Alegre, mas está em reforma", lamenta.
(De segunda (28) até a outra segunda (4), o G1 publica os perfis dos oito candidatos ao governo do Rio Grande do Sul. A ordem de publicação foi definida a partir das intenções de voto da pesquisa Ibope divulgada no dia 19 de julho. No caso em que houve empate, foi usada a ordem alfabética).
Em um dos confortáveis sofás de uma sala de estar cercada de peças de porcelana e cristal, iluminada por abajures e lustres e envolta por quadros religiosos na parede já desgastada pela umidade, Estivalete demonstra preocupação com a educação. Após 34 anos na polícia, ele considera o ensino a mais poderosa arma contra o crime. "Se conseguirmos fazer com que as pessoas saibam ler e escrever e consigam adquirir sua carteira de identidade, elas passam a se reconhecer como pessoas. A escola em dois turnos e a educação no ensino fundamental têm de ser [de responsabilidade] do governo", prega.
A bombacha, as botas e o lenço no pescoço remetem aos primeiros anos de vida de Estivalete, quando trabalhava na lavoura de soja do pai em Três Passos, no Noroeste do estado, onde nasceu. Aos seis anos, aprendeu a declamar poesias gauchescas. Na Brigada Militar, foi duas vezes patrão do Clube Farrapos. Exalta a simplicidade do "homem do campo" e uma de suas maiores paixões: a cavalgada. "Monto a cavalo toda a semana. Tenho cavalos. Faço questão [da pilcha] porque todo o meu grupo de amigos da cavalgada está conosco", explica.
Professor de equitação, Estivalete conta que ganhou muitos troféus graças à montaria, inclusive de conquistas internacionais. A trajetória na Brigada Militar começou depois que, ainda jovem, deixou a fazenda dos pais. Chegou a estudar economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se graduou em educação física, e ingressou no curso de formação de oficiais. Ainda lecionou por 13 anos na Academia de Polícia Militar. Comandou a corporação em Alvorada, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, considerada uma das mais violentas da região. "É estigmatizada, mas é uma polícia boa", diz.
na corrida ao Piratini (Foto: Caetanno Freitas/G1)
Apesar de ter uma extensa trajetória, cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior e conquistas internacionais na montaria, o que realmente orgulha o tenente-coronel é a formação dos filhos. Todos estudaram no Colégio Militar e ingressaram em faculdades federais. "Fui campeão mundial a cavalo, mas os troféus estão cheios de poeira hoje, e os filhos, não. Eles dão continuidade, e eu me orgulho de todos eles", afirmou.
Estivalete conhece bem os corredores do Palácio Piratini. Durante o governo Yeda Crusius, entre 2007 a 2010, foi subchefe da Casa Militar. Ao final do mandato, trabalhou em uma área de operações da Casa Civil. "Foi onde pegamos uma experiência muito grande. É onde você traduz o que aprende nos bancos escolares para a prática", conta.
Enquanto folheia um antigo álbum, se emociona ao lembrar a reconciliação com os pais, depois de um desentendimento que o afastou por oito anos da família. O pai o havia ensinado a dividir igualmente com os funcionários as sobras da soja colhida. "Eles, com o terceiro ano primário, se preocuparam com a educação e eu entendi errado", lamenta. Agora, vislumbrando a chance de ir ao Piratini, é o filho que se preocupa com o ensino de milhões de gaúchos.
Assista ao vídeo selfie gravado pelo próprio candidato, a pedido do G1:
Na entrevista, o G1 pediu que Edison Estivalete Bilhalva respondesse três perguntas feitas a todos os candidatos. Confira as respostas abaixo.
Na sua opinião, qual o principal problema do Rio Grande?
O problema é a educação. O Rio Grande do Sul, na verdade, tem dois focos bem distintos. Temos carência de transporte, as pessoas reclamam do transporte. É um acúmulo. Acho que o transporte deveria ser subsidiado. Mas o fundamento para qualquer atitude que se tenha de tomar é a educação. Você tem de achar uma maneira de o povo ser educado. Você tem de fazer com que o povo tenha conhecimento para que ele tenha a sua instrução e possa cobrar do governante, e inclusive do professor na sala de aula, exigir que seu motorista seja um bom motorista. Tudo passa pela educação. É fundamental.
E a maior virtude?
Os gaúchos são pessoas de muito valor porque cumprem aquilo que dizem. Deu para se ver agora na Copa. Os alemães e holandeses saíram dizendo: ‘Isso aqui parece o Texas. Vocês se vestem a caráter, com as cores do Rio Grande, se orgulham disso e nos transmitem isso. Vocês nos receberam bem’. Acho que é isso o que o Rio Grande tem, um diferencial. Não somos melhores e nem piores que ninguém. Somos pessoas que têm valor e sabem o que querem.
Como o senhor vai melhorar a vida dos gaúchos nos próximos quatro anos?
Não posso prometer que vamos mudar. Não adianta a pessoa chegar e dizer que vai mudar tudo, não vai conseguir mudar nada. Substancialmente te asseguro que numa área nós vamos fazer mudança. Nós queremos a escolha do chefe de polícia através de seus delegados por lista sêxtupla, votada por eles mesmo. É importantíssimo isso. Quem tem de escolher são pessoas técnicas. Não pode partidarizar o governo. A escolha tem que ser do próprio grupo, e o governo escolhe entre aqueles em quem os oficiais votaram.