Humberto Carvalho pede 'igualdade social' e traça metas de campanha.
G1 publica os perfis dos oito candidatos ao governo do Rio Grande do Sul.
Caetanno FreitasDo G1 RS
Humberto Carvalho é o candidato do PCB ao governo do estado (Foto: Vinicius Guerreiro/G1)
Mais de 11 mil quilômetros separam Porto Alegre de Jerusalém em linha reta. O voo dura cerca de 20 horas. Distância que não impede diferentes reações ao redor do mundo sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Longe da guerra, um lenço da Palestina cai sobre os ombros do candidato ao governo do Rio Grande do Sul Humberto Carvalho (PCB). “Não é marketing, viu? Estou usando porque lamento a limpeza étnica que Israel está promovendo”, diz. Do outro lado do Atlântico, Carvalho também enxerga conflitos e propõe uma revolução socialista pela convivência ética e equilibrada entre os gaúchos.
(Desde segunda (28) até a outra segunda (4), oG1 publica os perfis dos oito candidatos ao governo do Rio Grande do Sul. A ordem de publicação foi definida a partir das intenções de voto da pesquisa Ibope divulgada no dia 19 de julho. No caso em que houve empate, foi usada a ordem alfabética.)
Os sons dos talheres e das xícaras em operação se destacavam quase formando uma melodia no ambiente escolhido por Humberto Carvalho para conceder a entrevista ao G1. O aroma do café e das torradas sendo preparadas pela manhã na pequena mas charmosa cafeteria aguçaram a fome do candidato, que pediu um tradicional “farroupilha” (pão francês com presunto e queijo) e um expresso para a atendente. O pedido chegou rápido, mas foi esquecido ao lado da mesa quando o assunto virou capitalismo, política e planos de governo para 2015.
“Meu maior sonho é viver em uma sociedade socialista. Seria um mundo mais justo, com direitos iguais de estudo e trabalho pra o povo, sem privilégios. Para que isso aconteça é necessário uma revolução. Não digo uma revolução armada, veja bem, mas uma mudança de conceitos e estrutura”, salienta. “Um governo comunista teria a vantagem de igualdade social. Acho que vamos conseguir isto num futuro não tão distante. Não há outra saída”, avalia.
Humberto Carvalho tem 71 anos, é casado com Carmem Regina há 45 e tem três filhos. Atualmente, é procurador de Justiça aposentado e trabalha como advogado. Nasceu em Porto Alegre, mas viveu a infância e parte da adolescência em Santana do Livramento, município da Fronteira Oeste do estado. Foi presidente do grêmio estudantil durante o ginásio e voltou para a capital com 15 anos. “Tive uma infância normal e feliz. Sou de uma família de classe média, mas meus pais sempre me possibilitaram os estudos. Fui criado num ambiente de muito amor familiar, o que tanto transmiti aos meus filhos”, relata.
governo do estado (Foto: Vinicius Guerreiro/G1)
O candidato do PCB tenta o governo do estado pela segunda vez. Na primeira, em 2010, teve 0,03% dos votos válidos computados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS). Também já foi candidato a vice-prefeito de Porto Alegre na chapa de Vera Guasso (PSTU) em 2008. “Não tenho ambições eleitorais, sinceramente. É difícil falar isso publicamente. A verdade é que não sou político profissional. Tenho ambições políticas muito grandes, isso sim”, observa.
Em seis anos, desde que iniciou suas tentativas eleitorais, Humberto Carvalho mais que triplicou o valor de seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato do PCB ao Piratini tem bens avaliados em mais de R$ 1,2 milhões. O crescimento financeiro, justifica o comunista, é resultado de sua dedicação pessoal.
“Tudo o que tenho é fruto do trabalho. Nunca explorei ninguém. É pensando na minha família, nos meus filhos. Quero dar a eles a segurança necessária num sistema capitalista. É preciso sobreviver nele para denunciar. Temos de acabar com isso de que comunista gosta de pobreza. Ao contrário, adoramos a riqueza, desde que seja melhor distribuída”, diz.
Assista ao vídeo selfie gravado pelo próprio candidato, a pedido do G1:
Na entrevista, o G1 pediu que Humberto Carvalho respondesse três perguntas feitas a todos os candidatos. Confira as respostas abaixo.
– Na sua opinião, qual é o principal problema do Rio Grande do Sul?
Acho que se destacam, entre os vários problemas, a segurança, a falta de infraestrutura, a questão do saneamento básico e até a taxa de mortalidade infantil que, se comparada a Cuba, é uma desgraça. Há um destaque também na questão da dívida pública, que foi muito mal negociada. Está ocorrendo uma renegociação, mas de uma forma totalmente errada. Me pergunto onde está o governo, a bancada dos partidos tradicionais, onde estão nossos senadores? Desconfio que há anatocismo nesse contrato. É uma cobrança de juros sobre juros. Além da auditoria, temos de ir aos tribunais pedir a recomposição da dívida.
– E a maior virtude do estado?
A capacidade de trabalho das nossas pessoas. Graças a isto, o PIB do estado no ano passado aumentou em relação ao do ano anterior. E foi maior que o crescimento do PIB no país. (O candidato teve tempo livre, assim como os demais postulantes do Piratini, mas optou por uma resposta curta e objetiva).
– Como o senhor vai mudar a vida dos gaúchos nos próximos quatro anos?
Temos dois eixos na campanha. O primeiro é o que chamamos de poder popular. É o povo participando das deciões, da criação da democracia participativa. Temos mecanismos constitucionais que não são utilizados como deveriam, como os referendos e os plebiscitos. Na economia popular, o outro eixo, queremos que cheguem aos gaúchos os produtos mais baratos, que não existam atravessadores que encarecem os produtos. Queremos feiras regionais de abastecimento e nos afastarmos dos empréstimos estrangeiros.