Inicialmente, BM havia prometido que pelo menos 2 mil novos soldados seriam convocados em junho. Passados três meses, não há nova data
Quando soube do concurso da Brigada Militar (BM), o morador de Rio Claro, no interior de São Paulo, Arthur Castro, 21 anos, resolveu se inscrever. O número de vagas — 4,1 mil — e a remuneração fizeram com que o técnico em Enfermagem ignorasse a distância e passasse a se preparar para as avaliações.
Disposto a mudar de vida, em seis oportunidades, veio ao Rio Grande do Sul. Encarou três horas de ônibus até a capital paulista, de onde pegou voo para Porto Alegre. Gastou, estima, cerca de R$ 7 mil durante as etapas da seletiva. A recompensa chegou quando os aprovados foram divulgados: lá estava o nome do jovem. Mas o sonho de vestir a farda da BM vai ter de esperar. A assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que ainda não tem previsão de quando a primeira convocação deve acontecer e não sabe definir quantos serão chamados em um primeiro momento.
Enquanto aguardam, Arthur e os outros mais de quatro mil aprovados vivem a sensação de incerteza. Inicialmente, a primeira convocação havia sido prometida pelo comandante-geral da BM, coronel Mário Ikeda, para acontecer em junho. Em maio, o titular da SSP, Cezar Schirmer, afirmou: “Em 45 dias, vamos começar a chamar”. Com a previsão, o morador do interior de São Paulo se organizou: pediu demissão e passou a cumprir o aviso prévio no laboratório em que trabalhava. Agora, está desempregado e aguardando a convocação.
— Sempre tive o sonho de ser policial. Gastei muito dinheiro para fazer esse concurso. Estou em dúvida do que fazer: não sei se começo a procurar outro emprego ou se aguardo a convocação — desabafa o jovem.
Natural de Branquinha, no interior de Alagoas, o técnico em Enfermagem não vê a hora de trocar São Paulo pelo Rio Grande do Sul. Inclusive, comprou os itens exigidos para começar o curso de formação de soldado:
— Quando vi meu nome entre os aprovados, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Tem de ter amor pela farda, mas a remuneração também é importante. É a minha chance de mudar de vida. Minha família toda ficou feliz, mas agora estou em um dilema. Não fui só eu, foram várias pessoas que deixaram seus empregos.
“Longa batalha”
Assim como Arthur, a moradora de Gravataí, na Região Metropolitana, Cíntia Kretzmann, 23 anos, aguarda pela convocação. Estudante de Direito, Cíntia segue atuando como estagiária. Mas não esconde a angústia pela espera.
Sempre quis ser da Brigada Militar. Já fiz vários concursos, mas passar neste era um desejo meu. Pedi férias para estudar. Tem toda uma preparação.
CÍNTIA KRETZMANN
Estudante de Direito aprovada para o concurso de soldado da BM
— A gente vem de uma longa batalha. Foram provas. Tivemos um custo alto para realizar os exames médicos. Depois teve a preparação para o teste físico. Cria-se uma expectativa. Quando tu vê teu nome na lista dos aprovados, é só alegria. Pensa que está a um passo da nomeação. Mas daí vem esta espera — conta Cíntia.
Os aprovados em concursos tem dois anos para serem chamados. No entanto, declarações das autoridades garantindo que a convocação aconteceria logo criou expectativa.
— Sempre quis ser da Brigada Militar. Já fiz vários concursos, mas passar nesse era um desejo meu. Pedi férias para estudar. Tem toda uma preparação. Tu fica sentindo que a realização do teu sonho está próxima, mas ainda está longe — define a estudante.
Procurada, a BM preferiu não se manifestar sobre o assunto, já que a convocação dos aprovados não depende da corporação.
Etapas
— A homologação do concurso no Diário Oficial aconteceu em julho — um mês depois de quando deveria acontecer o chamamento dos primeiros 2 mil colocados.
— Antes, os candidatos passaram por quatro etapas: em 12 de dezembro do ano passado, foi feita a prova objetiva. Já no início deste ano, os concorrentes entregaram uma série de exames. Em seguida, fizeram a prova física e a avaliação psicológica.
— Assim que forem convocados, os aprovados precisam entregar documentação de vida pregressa e laudo toxicológico.
— Antes de irem às ruas, fazem o curso de formação de novos soldados. Eles têm aulas e fazem estágio antes de estarem aptos para atuar no policiamento.
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