Rita Trevisan e Suzel Tunes
Do UOL, em São Paulo
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Getty Images
Abordagens invasivas podem fazer o adolescente se isolar ainda mais e provocar rompantes de agressividade
A passagem da infância para a adolescência traz mudanças que, embora normais, podem deixar muitos pais desconcertados. É o que acontece, por exemplo, quando a criança sociável e tagarela, que emendava uma história atrás da outra, transforma-se em um adolescente silencioso, que responde a quase todas as perguntas dos adultos com monossílabos. E alcançar o adolescente na reclusão de seu quarto, nesse novo momento, é algo que exige muito tato. Abordagens invasivas podem provocar isolamento ainda maior e até rompantes de agressividade.
Segundo a psicóloga Vera Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e do Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), compreensão é a palavra-chave nesse momento delicado.
Ela afirma que é comum o jovem se sentir pressionado por todos –e, inclusive, por ele mesmo– quanto às escolhas que fará no futuro: que tipo de pessoa vai se tornar, os caminhos profissionais que vai seguir, entre outras. E essa situação, por si só, já pode ser bastante angustiante.
"Diante de tanta aflição, uma das estratégias de defesa mais comum é tentar se mostrar onipotente. O adolescente precisa se sentir poderoso para poder enfrentar o mundo. Então, ele, provavelmente, agirá como se soubesse de tudo e como se não precisasse de mais ninguém", diz a psicóloga.
A reação dos pais diante desse tipo de atitude costuma ser o confronto. E o embate diminui as chances de diálogo, quando seria necessário multiplicá-las.
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"Os pais não podem desistir de conversar com os filhos adolescentes, pois esse é o momento em que os jovens mais precisam dialogar", diz a psicóloga e escritora Elizabeth Monteiro, autora do livro "Criando Adolescentes em Tempos Difíceis" (Editora Summus). Ela diz que é preciso manter abertas as vias de comunicação. E que cabe aos pais essa responsabilidade.
A seguir, as especialistas elencam algumas estratégias que podem funcionar e ajudar a manter, no dia a dia, um bom nível de diálogo com o filho adolescente.
1 – Entre no mundo dele
Sylvia Flores, psicóloga pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz que não é apenas o comportamento dos filhos que muda com o tempo, mas o dos pais também.
"Os pais de crianças pequenas sabem de cor a música da Galinha Pintadinha e não se incomodam de assistir 20 vezes ao desenho preferido do filho. Mas costumo perguntar aos pais de adolescentes: 'você sabe quais as músicas preferidas do seu filho?' E eles nem sempre sabem a resposta", diz.
Segundo Sylvia, é importante que os pais demonstrem interesse genuíno pelo filho e por tudo o que faz parte do universo dele: ídolos, seriados de TV, esportes etc. "Uma boa dica é assinar uma revista que interesse ao adolescente, dar uma olhada de vez em quando e mesmo comentar algumas matérias com ele."
Também vale fazer uma visita ao Facebook do filho, mas sem interferir. "Adolescente detesta quando o pais fazem comentários nas postagens deles", diz Sylvia Flores.
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2 – Aproveite a rotina para estreitar laços
Procure organizar a agenda para dividir alguns momentos da rotina diária com o seu filho. Sempre que possível, leve-o para a escola e aproveite os minutos no trânsito para conversar. E faça, pelo menos, uma refeição diária em família. Mas lembre-se que esses momentos, em geral breves, não devem ser usados para interrogatórios ou para tratar de problemas mais sérios. "O momento da refeição é propício para uma conversa, não para uma discussão", diz Elizabeth.
3 – Compartilhe momentos de lazer
Convide seu filho para assistir a um filme ou a uma partida de futebol, para andar de bicicleta ou, simplesmente, para tomar um sorvete na lanchonete. "Essas atividades criam espaços que favorecem o diálogo. Nessas ocasiões, assuntos mais sérios podem surgir naturalmente", diz Vera.
Se os pais julgarem conveniente, e o filho der abertura, é possível usar esses momentos para reforçar algumas questões ligadas à educação do adolescente ou mesmo para retomar assuntos que ficaram mal resolvidos entre eles. O importante é que esse bate-papo não tenha o teor de um sermão e, mais uma vez, não termine em embate.
4 – Respeite os sentimentos
A adolescência pode ser uma fase de emoções intensas. Do fora do namorado à nota baixa na prova, diversas situações são capazes de deixar o adolescente abatido. Porém, qualquer que seja a ocasião, evite dizer que o problema é pequeno ou que vai passar logo.
"Muitas vezes, os pais ficam ansiosos ao ver o filho sofrer e tentam atenuar ou negar o sofrimento dele. Mas essa atitude impede que se estabeleça um diálogo, que poderia ser muito produtivo", afirma Vera.
Agora, se o filho não quiser desabafar, também é fundamental segurar o impulso de insistir. "Mostre apenas que está do lado dele, para acolhê-lo e ouvi-lo quando ele quiser falar", diz a psicóloga. Assim, o jovem se sentirá à vontade para procurá-lo quando estiver preparado e você poderá, eventualmente, opinar sobre o ocorrido. Aliás, para fazer isso sem que o jovem se sinta invadido, uma boa ideia é falar sobre como foi a experiência para você, na época em que enfrentou um desafio semelhante.
5 – Conheça os amigos
"Convide os amigos do seu filho para passarem um tempo ou para dormirem na sua casa", diz a psicóloga Sylvia Flores. Ela orienta que, durante essas ocasiões, os pais observem o adolescente e a maneira como ele se relaciona com a turma. Isso ajuda a identificar os interesses do jovem –que sempre podem ser usados como gancho para se iniciar uma conversa– e perceber se a maneira que ele usa para se comunicar com os colegas é a mesma utilizada em casa.
6 – Fale menos
Ninguém gosta de sermão. E, no caso dos adolescentes, o tédio pode se transformar em repulsa. Sendo assim, trocar uma conversa de 20 minutos por uma de cinco, mais objetiva, pode render melhores resultados.
"Evite as repetições. Troque-as por ações", diz a psicóloga Vera Zimmermann. Na prática, se você disse que jogará no lixo as revistas que estiverem no chão do quarto, transformando o cômodo em um verdadeiro caos, faça isso. Mas, se acha que não terá coragem de cumprir com a promessa, não ameace. É fundamental agir de acordo com o que fala, de maneira tranquila, mas com firmeza.
7 – Nomeie e controle as emoções
Em todas as circunstâncias, sobretudo nos momentos mais tensos, evite as acusações e os rótulos, substituindo-os por descrições de sentimentos. Troque frases como "Você é irritante!" por "O que você está fazendo me deixa irritado". "Evite também as palavras sempre e nunca", diz a psicóloga Sylvia Flores. Elas generalizam e limitam a interação.
Outra questão importante é que, em uma discussão, os pais tenham maior controle emocional do que os filhos. "Assim, se o adolescente elevar o tom de voz, baixe o seu. Ensine, por meio do seu comportamento, o que é aceitável ou não dentro da sua família", afirma Sylvia.
8 – Explore todas as formas de comunicação
Escrever ajuda a organizar os pensamentos e pode evitar os arrependimentos que decorrem das palavras ditas sem pensar. Então, se você tem facilidade de se expressar pela escrita, uma carta, um e-mail ou mesmo uma mensagem enviada pelo celular pode ser um recurso bem-vindo para promover a aproximação.
9 – Mantenha o bom humor
Cara feia afasta o adolescente, conforme comprovou uma equipe de pesquisadores da PUC do Rio Grande do Sul, em pesquisa realizada em 2005 com alunos de uma escola de Porto Alegre. O objetivo do levantamento era identificar as estratégias que os adolescentes, todos com idade entre 12 e 15 anos, usavam para facilitar a comunicação em casa. Os pesquisadores constataram que o mau humor dos pais simplesmente afugentava os jovens.
"Se os meus pais estiverem de bom humor, vou falar. Mas, se todo mundo estiver de mau humor em casa, vou preferir ficar quieto", disse um adolescente de 14 anos, entrevistado pelos pesquisadores.
10 – Busque um mediador
Na pesquisa da PUC do Rio Grande do Sul, os irmãos, sobretudo os mais velhos, foram descritos como pessoas importantes na mediação entre o jovem e seus pais. Em alguns casos, a comunicação ultrapassa as fronteiras dos parentes mais próximos e alguns entrevistados chegaram a citar os tios como pessoas de confiança.
Para a psicóloga Vera Zimmermann, contar com a ajuda desses mediadores –um parente, amigo ou mesmo um terapeuta– pode ser de grande valia, sobretudo quando as tentativas de comunicação em casa não estão sendo bem-sucedidas.
"Essas pessoas podem ajudar a ver a mesma situação por um novo ângulo", diz Vera. E completa: "A função de pai e mãe não é fácil. De vez em quando, é preciso buscar ajuda".
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