O crack, considerado como o mais devastador de todo o conjunto de entorpecentes, torna o seu usuário num dependente perigoso e debilitado, capaz de qualquer coisa, desde o matar ou morrer para sustentar o seu vício.
A experiência de longos anos como profissional da segurança pública me permite afirmar que a vida dos envolvidos com o vício do crack parece esvair-se entre os dedos das suas próprias mãos. Para eles, o presente é só o crack, senhor do seu viver, dominador do seu “eu”, transformador do bem para o mal e, destruidor do seu bem maior, a sua família.
É curioso, e lamentável, que tanto a sociedade quanto o Poder Público, na maioria das vezes tratam a questão como casos isolados e tão somente quando o mal já está instalado. Talvez esse descaso, o descuido e despreocupação em adotar medidas preventivas, é que tenha levado à “aguda e profunda crise urbana e social relacionada a essa droga avassaladora”.
O traficante se fortalece cada vez mais, arregimentando sempre um maior número de pessoas para seu grupo criminoso, ao ponto de se considerar o dono de determinadas áreas. O traficante age como uma espécie de governo paralelo, fazendo, na sua área de domínio às vezes do Estado, realizando trabalho social para a comunidade carente daquele local. Em troca desses favores, o traficante exige fidelidade e obediência por parte dos moradores, passando a resolver eventuais conflitos entre as pessoas da comunidade, onde sua palavra é a que vale e a sua decisão ninguém discute.
No seu território, o traficante julga sumariamente quem o trai, descumpre suas ordens, quem faz concorrência desleal. Ele não é piedoso com ninguém.
É realidade nua e crua que o tráfico de entorpecentes engrossa suas fileiras com crianças e jovens que, por falta de opção ingressam naquele mundo, são usados na organização criminosa como “fogueteiros, vigilantes, laranjas, informantes e até executores de crimes diversos”, numa espécie de carreira profissional.
Reportagens televisivas nos mostram, com frequência, jovens e crianças fora da escola, portando armas e distribuindo (vendendo) drogas, sucumbidos diante das organizações criminosas, trabalhando para manter os seus vícios e, pasmem, “para ajudar as suas famílias financeiramente”.
E o viciado, assim como sua família, e a própria população em geral, encontra-se atônito, indefeso e impotente diante de um Poder Público com pouca vontade política para debelar ou mesmo amenizar a situação.
Há quem atribua à polícia, e tão somente à polícia, a responsabilidade pelo combate ao tráfico e consumo de drogas. Ledo engano. Sem o usuário não haverá o traficante. Então, tem-se é que evitar o consumo, cuja tarefa não é da polícia, e sim, da família, da sociedade, do Poder Público. A inércia desses segmentos é que permite a proliferação de consumidores e, por consequência, fortalece o traficante. Isso tudo me induz a afirmar que “o usuário de drogas é um potencial traficante”.
A Polícia, por sua vez, como protetora da sociedade, procura cumprir a sua missão de combater esse crime, realizando frequentes e bem sucedidas operações de combate ao tráfico de drogas, mas enquanto a sociedade permitir o consumo, e o Poder Público não descruzar os braços, a ação policial não passa de mero paliativo. Por Alaides Garcia dos Santos