Em período de campanha eleitoral, o jeitinho brasileiro vem à tona sem rodeios, por vezes, escancaradamente, por candidatos, candidatas e seus cabos eleitorais, cujo alvo, obviamente, é o eleitor. É um espetáculo de horror, com promessas vazias feitas sob medida para conquistar – ou comprar – votos, e não só dos mais humildes. Parece um balcão de negociatas em que os princípios são colocados de lado e os interesses imediatos priorizados.
O malandro vota com o bolso e olhando apenas para o hoje. O resultado é o desencanto pela política, traduzido por votos brancos, nulos e abstenções que cresce a cada eleição em todo o país. O fenômeno reflete um mal-estar da sociedade com a qualidade do sistema político.
É recomendável que o eleitor faça sua opção escolhendo um candidato, mas, pensando bem, abster-se, votar em branco ou nulo não é um sinal de despolitização. “É uma forma de manifestação política”. E o brasileiro descobriu que não traz tantos problemas assim não votar.
Voltando ao jeitinho brasileiro, tenho a percepção de que existem dois tipos de vendedores de voto, um mais danoso e acanalhado do que o outro. O primeiro – descrente e sem perspectiva alguma sobre a política, vende o voto porque encontra na eleição a oportunidade de ganhar um trocado, já que não espera nada de nenhum político. Este tipo predomina mais no eleitorado mais pobre, de menor poder aquisitivo, apesar de existir também em qualquer segmento da sociedade. O outro – cínico – vende o voto não porque não tenha a chance de fazer diferente, mas sim porque espera ganhar bem mais com o seu candidato se ele se eleger: um empreguinho para si e/ou para um parente próximo, ou até a abertura de portas para o mundo da picaretagem.
Já o eleitor que se entrega, optando pela abstenção ou pelo voto nulo, termina por contribuir diretamente, ainda que assim não ache, para eleger o picareta, o comprador de votos que ele tanto condena. Só que, não votar ou votar nulo, é deixar que os outros decidam por você.
Por fim, aos que vendem o voto, lembrem-se do dito por Apparício Torelly: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.