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A era Marcola

Em 2002, quando se tornou o cabeça da facção, Marcola conheceu um sequestrador e guerrilheiro chileno no Presídio de Presidente Prudente, Maurício Norambuena. A partir das conversas, ele descentralizou o poder do PCC e passou a operar em formato mafioso ­— ele como espécie de don (chefe de todos) e um

As principais células nessa hierarquia são:
 as Sintonias dos Gravatas (advogados),
 a Sintonia Geral das Ruas,
 a Geral dos Outros Estados,
 a Geral do Sistema,
• e o Setor Financeiro.

Cada uma responde à Sintonia Final (Torre), formada por Marcola e seus homens de confiança. Assim, caso haja prisão de algum dos subchefes, o sistema segue operando no foco principal e mais rentável que ele determinou.

A liderança fora consolidada em fevereiro de 2001, quando o PCC apareceu para o Brasil em cadeia nacional. Em um domingo, dia de visita, em menos de meia hora o comando ordenou megarrebelião que tomou 29 unidades prisionais de São Paulo (25 presídios e 4 cadeias públicas), foi transmitida ao vivo pela TV, fez 10 mil reféns entre familiares dos presos e policiais e deixou 14 internos mortos e 19 agentes feridos. Os rebeldes formaram a sigla nos tetos das cadeias com lençóis e camisetas para assinarem e assumirem autoria do ataque coordenado.

Cinco anos depois, houve nova ofensiva da facção, mas desta vez fora das cadeias. Segundo pesquisadores da violência, Marcola percebeu que havia cometido um erro quando determinou a ação midiática: a paralisação de São Paulo em represália à transferência de 750 presos sem aviso prévio, em 2006.

Como o grupo controla e arregimenta integrantes em 85% das cadeias paulistas, os presídios do Estado, além de quatro de Mato Grosso e um do Paraná iniciaram rebelião simultânea a partir de um “salve” (ordem) do líder. Delegacias, postos policiais, viaturas e até ônibus sofreram ataques e 564 pessoas morreram, entre policiais e civis.

“Eles perceberam que praticaram ações que colocaram a população em forte risco. Agora o terrorismo que o PCC pratica é diferente”, diz Gakiya. Tempos depois, a Comissão de Direitos Humanos da ONU atestou que a paralisação de São Paulo se dera porque policiais teriam sequestrado um enteado de Marcola.

A exposição de membros do grupo e diálogo com políticos data dessa época.

Em agosto de 2001, no dia em que Patricia Abravanel, filha de Silvio Santos, foi sequestrada, Marcola participou de audiência pública na Câmara dos Deputados sobre combate à violência. Em Brasília, ele dialogou com o então deputado Jair Bolsonaro. Falaram sobre condenação à morte — um contra (o líder do PCC) e outro a favor (Bolsonaro) — e concordaram na pena capital para crimes de colarinho branco.

“Assim como os senhores dentro do presídio se respeitam, tendo em vista a pena de morte lá dentro, creio que, se implantássemos ela no Brasil, muita gente não estaria lá dentro. (…) No dia em que eu for Ditador deste país, vamos resolver esse problema”, teria dito o ex presidente.

Junto às exibições públicas do grupo criminoso, o modus operandi nos negócios também mudou.

• Com o caminho aberto para as fronteiras pelo Centro-Oeste e Sul, o PCC mudou do varejo para o atacado na distribuição da maconha, adquirida no Paraguai, e da cocaína, vinda da Bolívia.
 De São Paulo, a droga é distribuída pelo País e pelo Oceano Atlântico é despachada para África, Ásia e Europa, principalmente por Santos (SP), no Sudeste, e Ceará, no Nordeste.
 O grupo possui arsenal de barcos, navios e motos aquáticas para fazer a distribuição marítima, e de pequenas aeronaves, que conseguem voar fora do alcance de radares, para as rotas aéreas, principalmente fronteiriças.
 Há relatórios da presença de grande quantidade de seus cerca de 40 mil integrantes em outros países, como Colômbia e Portugal. Sinal de que a expansão de negócios e territórios segue na mira da facção.

Por revista Isto É

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